O
primeiro Ted era uma divertida
comédia que fazia rir pelo seu humor nonsense
que abraçava sem medo a fantasia e o absurdo que era ter um urso de pelúcia que
ganhava vida. Esta continuação, apesar de manter o mesmo espírito caótico,
enfraquece ao repetir muita coisa do anterior, além de um tom por vezes
inconsistente.
A
trama se passa alguns anos depois do filme anterior e mostra Ted (Seth
MacFarlane) casado com Tami-Lynn (Jessica Barth) e enfrentando problemas
conjugais. Para superar os problemas, decidem ter um filho e como Ted não pode
engravidar a esposa (afinal ele é um urso de pelúcia e não tem pênis), decidem
adotar. Os problemas começam quando dão entrada na papelada e descobrem que Ted
não é legalmente reconhecido como uma pessoa, mas como objeto e assim não
apenas perde a adoção como também todos os seus direitos civis. Assim, ele e
seu amigo John (Mark Wahlberg) vão atrás de um advogado para ajudá-los, mas a
única que aceita o caso é a jovem Samantha (Amanda Seyfried).
A
narrativa deixa de lado a personagem de Mila Kunis no filme anterior, dando a
entender que a relação entre ela e John não deu certo, o que não deixa de ser
um pouco incômodo, já que os esforços de John para mantê-la eram o centro do
primeiro filme. A questão é que isso parece criar uma contradição entre as duas
obras, já que no primeiro John tinha como arco a necessidade de amadurecer e
aqui o filme forçosamente faz o personagem retornar à imaturidade inicial
apenas para dar uma outra mensagem, a de que devemos nos aceitar como somos e
buscar alguém que também nos aceite assim, uma ideia que ao invés de complementar,
antagoniza a anterior.
Ainda
assim o filme rende boas piadas quando investe no humor nonsense como a hilária ponta de Liam Neeson ou o momento em que
eles se deslumbram com uma enorme plantação de maconha e o tema de Jurassic Park começa a tocar. Outro
destaque é o número musical no qual Samantha começa a tocar violão. Temos
algumas piadas auto-referenciais que provavelmente vão passar batidas por
alguns, como a cena em que Guy (Patrick Warburton) aparece fantasiado como o
herói The Tick(colheeeeeer!), brincando com o fato de que Warburton já interpretou o
personagem.
A
questão é que o filme vira outra coisa nas cenas do tribunal, quando os
problemas de Ted se tornam uma metáfora pouco sutil para os direitos civis das
minorias e o filme abandona seu olhar satírico para assumir uma postura mais
séria e, na falta de uma palavra melhor, militante. Não, não estou aqui para
reclamar de militantes dos direitos civis, pelo contrário, acho que é uma causa
legítima e uma discussão necessária, no entanto esses elementos parecem saídos
de um filme completamente diferente e o diretor Seth MacFarlane nunca consegue
equilibrar o nonsense com a crítica
social.
O
vilão Donny (Giovanni Ribisi) é exatamente igual ao que era no filme anterior
e, assim como John, não passou por nenhum tipo de mudança ou aprendizado. Além
disso, o clímax do filme é uma cópia daquilo que ocorre no primeiro filme,
apenas alterando as posições entre Ted e John em um determinado momento. Além
disso, pela enésima vez em um filme de Hollywood, Morgan Freeman é escalado
como um personagem de função meramente expositiva, se limitando a explicar a
trama e os temas do filme de maneira mastigada e redundante ao público. Uma
repetição cansativa e uma tentativa já desgastada de fazer piada com sua
"voz de deus", algo que já tinha apontado quando falei de Lucy (2014) e Winter: O Golfinho 2 (sim, até em filme de golfinho o Freeman
aparece pra explicar coisas e dar lições de moral).
Deste
modo, Ted 2 é uma pálida repetição do
filme anterior, prejudicada pela estagnação de alguns personagens e pela
incapacidade em conseguir equilibrar seu humor caótico com uma engajada crítica
social.
Nota:
4/10
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