O
último filme realmente bom de Ridley Scott tinha sido O Gângster (2007) e de lá para cá entregou resultados irregulares
em filmes como Prometheus (2012) e Êxodo: Deuses e Reis (2014), mas com
este Perdido em Marte, Scott volta a
demonstrar que ainda é capaz de produzir grandes obras.
Baseado
no romance de Andy Weir, o filme acompanha Mark (Matt Damon), um astronauta que
é acidentalmente abandonado em Marte quando sua equipe evacua o planeta durante
uma violenta tempestade. Sem capacidade de comunicação com a Terra ou com sua
equipe e com um estoque limitado de comida e água, Mark encontra um modo de se
manter vivo neste ambiente inóspito e precisa descobrir um meio de contatar a NASA para
que saibam que ainda está vivo.
É
interessante como o filme consegue criar uma atmosfera constante de perigo e
incerteza acerca do destino do personagem sem precisar criar grandes situações
ou um clímax atrás do outro. O roteiro tem consciência que o próprio isolamento
e o ambiente inóspito do planeta Marte são obstáculos suficientemente severos
para a sobrevivência de qualquer ser humano.
Isso
não implica que é um filme parado ou que nada acontece, pelo contrário, há um
fluxo constante de obstáculos que se colocam diante do protagonista, mas o
filme confia o suficiente na inteligência do público para não ficar martelando
o tempo todo, através de diálogos, música ou qualquer outro recurso, o quanto
sua vida depende de tudo aquilo. Além disso, nos momentos em que o filme
investe na tensão, em especial durante o terceiro ato, ele é incrivelmente
eficiente em nos colocar na beira do assento, temendo pelo destino dos
personagens conforme as coisas começam a dar errado. Além disso, a pequena
cirurgia que ele faz em si mesmo depois da tempestade do início é de ranger os
dentes.
Os
visuais do filme constroem ambientes bastante realistas e ajudam a passar a
impressão de Marte como um ambiente vasto e inóspito, mas também
dotado de beleza. A opção pelo realismo também é vista nas instalações do
módulo habitado por Mark e em seus equipamentos, deixando a sensação de que
algo assim poderia realmente em um futuro próximo. A trama se desenvolve também
a partir dessa noção de realismo, já que as soluções encontradas por Mark
sempre parecem ser fundamentadas em preceitos científicos reais. Logicamente,
não sou botânico ou astrofísico para dizer até que ponto tudo aquilo é
cientificamente correto e com certeza há momentos em que são tomadas algumas
liberdades, mas no geral tudo soa bastante "pé no chão".
Apesar
de tudo isso é a Matt Damon que o filme deve seu sucesso, já que a grande
maioria do tempo temos apenas ele sozinho em cena e o ator consegue encontrar o
equilíbrio perfeito entre desespero e positividade. Mark está totalmente ciente
do apuro em que se encontra, mas é pragmático o suficiente para saber o que
ceder ao medo é contraproducente e tenta encarar tudo da melhor maneira
possível. A atitude do personagem rendendo alguns momentos bem engraçados como
a cena em que grita "Chupa Neil
Armstrong!" ao se dar conta de que suas plantas cresceram e
tecnicamente acabou de colonizar Marte, a música também é usada muitas vezes
para efeitos cômicos, em especial sua implicância com o gosto musical dos
companheiros.
O
elenco de apoio também é bastante competente, contando com nomes como Jessica
Chastain (em mais uma aventura espacial depois de Interestelar), Michael Peña, Kate Mara (que em poucos minutos se sai melhor que em todo Quarteto Fantástico) Jeff Daniels e Chiwitel Ejiofor. São
personagens interessantes em seus próprios termos, cada um com seus dilemas,
sacrifícios e escolhas difíceis a fazer. mas o show é mesmo de Damon e eles
estão ali apenas para dar suporte a seu personagem, então não esperem que
nenhum deles chame muita atenção ou seja plenamente desenvolvido, o que não é
exatamente um problema.
Perdido em Marte se mostra uma inteligente, sensível e bem humorada
ficção científica que nos lembra o quanto a humanidade pode alcançar com sua
inteligência, boa vontade e espírito de cooperação. Além disso é ancorada por uma
performance carismática de Matt Damon e pela direção acertada de Ridley Scott.
Nota: 8/10
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