O
título nacional deste Horas de Desespero
(No Escape no original) dá a
impressão de ser um daqueles "filmes B" de suspense que são repetidos
à exaustão nas madrugadas de sábado no Super
Cine da Globo e, bem, é exatamente isso.
No
filme acompanhamos o engenheiro Jack (Owen Wilson) é transferido de seu
trabalho para um novo cargo na Ásia e leva a família junto. Chegando lá, além
de precisarem lidar com a mudança, a família é pega de surpresa quando um golpe
de estado explode no país e o hotel em que eles estão é tomado por
revolucionários que começam a executar todos os presentes. Assim, começam uma
corrida desesperada não apenas para fugirem do hotel, mas para saírem do país.
A
primeira coisa que salta aos olhos é modo como tal país é representado,
primeiro porque nunca é especificado se estamos na Indonésia, Camboja, Laos,
Tailândia ou qualquer outro país da região, provavelmente porque os
realizadores acharam que era tudo igual e não fazia diferença (e também para
não despertar reações negativas de nenhum desses países, já que certamente
visam a distribuição internacional). Além disso, durante a primeira meia hora o
filme irá fazer questão de mostrar quanto o país é atrasado, pouco desenvolvido
e sua população é composta por um bando de primitivos incultos que são
atrasados até nas suas referências culturais ao mundo ocidental, como o
motorista que é fã de Kenny Rogers.
O hotel, que deveria ser de luxo, é cheio de problemas, a luz, o telefone e a televisão não funcionam e ainda por cima a televisão é um velho aparelho, daqueles com tubo de imagem e os personagens ainda ressaltam em suas falas o quanto aquele lugar é atrasado e subdesenvolvido. Eu imagino que a ideia seria mostrar como a nova casa deles é diferente de seu lugar de origem, mas existem outros modos de construir essas oposições que não implicam em inferiorizar toda uma região do planeta.
Ainda
por cima o casal de protagonistas é completamente incapaz de falar qualquer
palavra no idioma local, o que não deixa de demonstrar uma certa postura
colonialista, já que o sujeito iria passar um bom tempo trabalhando ali. Não
estou dizendo que ele teria de fazer um curso para ser fluente no idioma (até
porque a empresa não ia esperar até que ele fizesse), mas que pelo menos
falasse um "por favor", "obrigado" ou "onde é a banca
de revista", podiam botar o personagem para andar com um daqueles guias de
viagem com frases prontas, mas não, é um boçal que acha que todo mundo tem
obrigação de saber inglês para falar com ele.
Além
disso os revolucionários jamais falam ou tratam do que querem ou suas
motivações, quando abrem a boca é apenas para fazer ameaças de morte nada mais.
A única explicação sobre o que está acontecendo vem de outro personagem branco
e anglófono que é interpretado pelo ex-James Bond Pierce Brosnan. Por mais que
a descrição do personagem tente trazer alguma humanidade aos revolucionários,
essas pessoas permanecem completamente bestializadas pelo resto do filme, se
comportando apenas como monstros sanguinários. Sendo assim, o fato de se passar
durante uma revolução em um país asiático torna-se completamente irrelevante
para trama, os revolucionários poderiam facilmente ser substituídos por zumbis,
alienígenas, lobisomens ou qualquer outro monstro ou criatura que não iria
fazer nenhuma diferença.
Dito
isto, o filme consegue, de fato, ser eficiente em criar uma atmosfera de perigo
constante e tensão em muitos momentos, em especial todo o segmento inicial do
hotel e o momento em que Jack e uma de suas filhas são pegos pelos
revolucionários. A questão é que para cada bom momento tem outro de revirar os
olhos. Um exemplo é quando Jack e a família andam pelas ruas com o rosto
coberto e um dos revolucionários percebe os olhos ocidentais do personagem,
mas, de modo inexplicável, os deixa ir sem muita explicação, quando facilmente
poderia tê-lo desmascarado e deixado a turba furiosa cuidar deles. Outro é o
pífio clímax quando chegam na fronteira do país e o exército vizinho ameaça
atirar neles, mas permite que todos atravessem sem problemas, nunca
explicitando o motivo da mudança de atitude dos militares.
Owen
Wilson surpreende ao deixar de lado sua tradicional persona relaxada (principalmente depois de um trabalho pavoroso no
péssimo Para o que Der e Vier) para
assumir uma postura mais séria, sendo bastante eficiente em convocar a urgência
e desespero de um pai de família querendo levar sua família para um lugar
seguro. Pierce Brosnan também convence como um veterano e desencantado agente
britânico, mas ele é mais um dispositivo de roteiro, aparecendo do nada sempre
que os protagonistas parecem sem saída, do que um personagem plenamente
realizado. Por outro lado, Lake Bell fica presa a um papel vazio como a esposa
de Jack, se limitando apenas a seguir os comandos do marido durante noventa por
cento da fita.
Horas de Desespero desperdiça um bom elenco com personagens
superficiais em uma trama sem brilho, além de uma visão de mundo retrógrada que
acaba por não fazer valer os poucos bons momentos de tensão.
Nota:
4/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário