terça-feira, 3 de novembro de 2015

Crítica - 007 Contra Spectre


Mais uma vez dirigida por Sam Mendes depois do ótimo 007: Operação Skyfall (2012), esta nova aventura do agente James Bond parece encerrar a quadrilogia iniciada em 007: Cassino Royale (2006) e traz constantes referências a eventos e personagens dos filmes anteriores. Ver ou lembrar dos outros três filmes que trazem Daniel Craig como o famoso espião, no entanto, não é um requisito indispensável para acompanhar esse filme, mas certamente irá adicionar algumas camadas de entendimento.

Nessa nova aventura, Bond (Daniel Craig) segue as últimas instruções da falecida M (Judi Dench) para localizar um perigoso terrorista, que revela ligações com a sombria organização Spectre, liderada pelo misterioso Oberhauser (Christoph Waltz). Ao mesmo tempo, o novo M (Ralph Fiennes) enfrenta a desconfiança do novo chefe dos serviços de inteligência britânica, C (Andrew Scott, o Moriarty da série Sherlock), que deseja encerrar o programa 00 e substituir os agentes de campo por drones e vigilância digital.

Toda essa ideia da eficiência do 007 colocada em dúvida, bem como essa construção dele como um sujeito analógico em uma era digital e também a noção de que nenhum programa ou equipamento remoto substitui a perspicácia e capacidade de julgamento e improviso de um humano em campo já tinha sido trabalhada (e melhor) no filme anterior. Além dessas ideias repetidas, a fita também derrapa em uma estrutura um pouco repetitiva e óbvia, principalmente no miolo de suas quase duas horas e meia de projeção. O segundo ato consiste basicamente de Bond indo a um local exótico, descobrindo uma nova pista que o leva para um novo local exótico, onde descobrirá uma nova pista e assim por diante, alongando o filme mais do que necessário e inchando uma trama que é relativamente simples. 007: Operação Skyfall tinha apenas cinco minutos a menos do que este e nem de longe era tão cansativo.

Apesar disso, Sam Mendes exibe aqui a mesma competência que no filme anterior. A cena de abertura que se passa em meio a um amplo desfile de Dia dos Mortos no México é certamente uma das melhores da franquia, desde o inicial plano sequência que acompanha Bond pelas ruas e telhados da cidade sem nenhum corte, passando pela luta no helicóptero que transcorre sem diálogos ou efeitos sonoros, apenas com a música. As cenas de ação evitam abusar desnecessariamente de computação gráfica, investindo sempre que pode em efeitos práticos e no trabalho dos dublês e usando amplas panorâmicas para valorizar os espaços. Mendes ainda compõe este universo de espiões e organizações secretas com uma ambientação sombria, investindo em ambientes tomados por sombras ou névoa, como se os lugares habitados por essas pessoas fosse tão soturno quanto eles próprios.

Daniel Craig continua com a mesma competência no papel de Bond, enquanto que Q (Ben Winshaw), Moneypenny (Naomie Harris) e M ganham um pouco mais de espaço na trama, inclusive ajudando Bond em campo. A sempre ótima Lea Seydux (de Azul é a Cor Mais Quente e a versão francesa de A Bela e a Fera do ano passado) concebe sua Dra. Swann como uma mulher segura de si e que não aceita ser arrastada por Bond como uma acompanhante passiva, desafiando-o e colocando sua conduta em xeque durante vários momentos. É uma pena, portanto, que ela seja reduzida a uma donzela em perigo no final do filme.

Já o Franz Oberhauser interpretado por Christoph Waltz (o eterno Hans Landa) acaba se revelando como uma grande decepção. Se no início o filme acerta ao mantê-lo nas sombras, como uma força sombria manipulando todos os eventos, quando ele é de fato posto cena no terceiro ato, acaba por ser uma caricatura risível. O momento em que ele expõe suas motivações durante a praticamente obrigatória cena de tortura (que é de fato angustiante) é simplesmente ridículo ao ponto de beirar o autoparódico e parece mais algo de uma história do Austin Powers do que um filme sério.

Seu vilão é o tipo de personagem que funciona melhor como uma força da natureza, uma pura encarnação do mal ou um bicho-papão e não precisa qualquer explicação, afinal um monstro é sempre mais assustador quando não se sabe nada a seu respeito, o típico caso no qual menos é mais. Além disso, num ano em que tivemos o ótimo e metalinguístico Kingsman: Serviço Secreto nos trazendo vilões que executam os espiões no momento imediato da captura, ver um vilão como Oberhauser se entregar a esquemas e armadilhas rocambolescas cujo fracasso é incrivelmente óbvio (e digno de um desenho do Hortelino) é bem difícil de engolir, algo que acontece na cena final envolvendo um prédio condenado.

Decepciona também o misterioso Hinx vivido por Dave Bautista, que surpreendeu como o Drax de Guardiões da Galáxia. Sua primeira aparição envolve um brutal e inesperado assassinato, digno dos mais exóticos "capangas silenciosos" da franquia como Jaws e Oddjob, mas depois disso ele não apenas tem pouco a fazer, como também acaba sendo despachado cedo e fácil demais, não tendo o devido espaço para mostrar a que veio.

007 Contra Spectre pode não superar a aventura anterior do agente secreto, sendo prejudicado por um ritmo irregular e vilões caricatos, mas funciona pelas cenas de ação e a ótima condução de Sam Mendes, além do carisma do elenco principal.

Nota: 7/10

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