O
documentário Malala chega ao Brasil
em um momento importante, já que depois de o tema do ENEM ser violência contra
a mulher, uma turba de conservadores resolveu fazer pouco do problema e ainda
negar a situação, o filme mostra como isso persiste no mundo inteiro.
Malala
é uma jovem paquistanesa que quase foi morta pelo Talibã depois de reclamar da
proibição do regime ao acesso feminino à educação. Depois do atentado ela se
mudou com a família para a Inglaterra e se tornou uma militante dos diretos da
mulher, viajando o mundo para tratar do acesso das mulheres à educação.
O
filme reconstrói o passado da jovem através de belas sequências animadas que
revelam como as coisas se desenvolveram até o atentado contra ela, ao mesmo
tempo em que acompanha sua vida no presente, mostrando sua atuação como
ativista, bem como sua vida pessoal e relação com a família.
À
parte das sequências animadas, é um documentário bem tradicional, feito a
partir de entrevistas e filmagens do cotidiano de Malala. O foco não é o
estilo, mas sua história de luta e resistência frente ao domínio brutal do
Talibã, que não apenas proíbe a presença de mulheres nas escolas, como também
destroem qualquer instituição que dê aulas para mulheres e matam qualquer um
que se manifeste contra eles. O documentário, no entanto, tem o cuidado de não
generalizar a conduta do Talibã à comunidade islâmica, deixando claro as ações
e ideias defendidos por eles não refletem o pensamento do restante do
islamismo, tanto que em um dado momento alguém diz que "eles não se
importam com a religião, eles se importam com o poder", revelando que o
fanatismo religioso é apenas uma ferramenta para que eles controlem a população
(assim como fazem alguns políticos brasileiros que se dizem cristãos).
Não
é só a situação das mulheres no Paquistão que é tratada aqui, mas a de outros
lugares do mundo, como a Nigéria, que vem enfrentando problemas semelhantes aos
do Paquistão com o grupo Boko Haram, destacando a importância e o poder
transformador da educação ao colocar Malala para conversar com um grupo de
garotas que revelam aspirações profissionais e acadêmicas que seus pais nunca
tiveram acesso.
O
filme acerta também ao não santificar demais Malala ou mostrá-la mais como um
símbolo do que uma pessoa e os momentos de sua vida em família ajudam a
percebê-la como uma pessoa normal, alguém com todas as ansiedades e
inseguranças de alguém de sua idade, que tem dificuldade em algumas matérias da
escola e lê Paulo Coelho. A ideia é importante porque ao invés de conceber sua
luta feminista como algo conduzido por alguém extraordinário, percebemos que
essa militância é algo que pode e deve ser feito por todas e que a mudança está
ao alcance de qualquer um. Ao falar sobre a família, o filme também consegue
mostrar discretamente algumas contradições e preconceitos arraigados, como o
momento em que Malala confessa que seu irmão pode namorar sem problemas, mas
que seus pais (apesar de se mostrarem bastante progressistas) não ficariam
exatamente contentes se ela começasse a namorar.
Malala é um poderoso relato sobre o impacto da violência
contra a mulher em várias partes do mundo e como a educação é capaz de fornecer
as ferramentas para lutar contra isso.
Nota:
8/10
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