Nas
épocas de festas sempre aparecem alguns filmes oportunistas que querem usar o
clima de feriados como Dia dos Namorados, Natal ou Ano Novo para arrancar uns
trocados do público. É fácil reconhecer esse tipo de produto caça-níqueis:
normalmente trazem um apanhado de artistas famosos de diferentes idades, para
chamar atenção do maior número possível de pessoas, cada um com um conflito
bastante típico deste tipo de evento, para que cada um tenha algo com o que se
relacionar, e termina com a reafirmação de valores associados à data, amor e
romance no Dia dos Namorados, família e união no Natal e assim por diante. O Natal dos Coopers é exatamente esse
tipo de caça-níqueis preguiçoso e rasteiro feito para apelar ao "espírito
natalino" dos frequentadores de cinema sem se esforçar para oferecer nada
de interessante.
A
trama acompanha o casal Charlotte (Diane Keaton) e Sam (John Goodman), que
depois de quarenta anos de casamento decidem se separar, mas para não
"estragar o Natal" escolhem não contar nada para os filhos Hank (Ed
Helms) e Eleanor (Olivia Wilde). Hank e Eleanor tem seus próprios problemas,
ele perdeu o emprego há algum tempo e mantém isso em segredo da família, ela
não aguenta o julgamento da mãe por ser solteira e resolve levar com ela para o
jantar de natalino um estranho que conheceu no aeroporto, o soldado Joe (Jake
Lacy). Temos ainda mais uma dúzia de outros personagens, cada um com sua trama,
todas bastante superficiais, com cada um não ocupando mais do que uns vinte
minutos de tela, além de completamente previsíveis e baseadas em todos os
lugares-comuns que já vimos em filmes desse tipo.
Não
é preciso ser um exímio conhecedor de narrativas para prever com dez minutos de
filme que Charlotte e Sam vão se reconciliar, que Joe e Eleanor vão ficar
juntos e que ao fim todos irão aprender valiosas lições de vida sobre união e
família, entendendo que tudo que precisam está bem diante deles, a mesma moral
que praticamente todos os filmes natalinos trazem desde, sei lá, A Felicidade Não Compra (1946).
A
questão de ser previsível seria menos incômoda se pelo menos o filme
conseguisse trazer personagens interessantes ou situações engraçadas, mas isso
não acontece. Os personagens são completamente unidimensionais e cada fala pode
ser facilmente antecipada. Não ajudam também os exageros de alguns atores, como
Ed Helms que durante uma entrevista de emprego deveria nos convencer do
desespero do personagem, mas força tanto que fica parecendo um lunático
histérico. O mesmo acontece com seu filho, que deveria ser um adolescente
tímido e com dificuldade de falar com a garota por quem está apaixonado, mas
acaba parecendo um viciado em metanfetamina de tanto que pesa a mão no
nervosismo do personagem.
O
humor é baseado justamente nessa conduta histriônica e gritada dos personagens,
não muito diferente das comédias nacionais da Globo Filmes que vira e mexe
chegam aos cinemas. Além disso investe em situações pra lá de batidas, como
crianças falando coisas inapropriadas, idosos esclerosados falando coisas
inapropriadas (o que ofende mais do que faz rir) ou peidando e closes em animais fazendo expressões
engraçadinhas, que é basicamente a prima mais bonitinha da piada de peido. Digo
isso porque tanto as piadas de peido quanto as caras engraçadinhas de cachorros
são o mesmo tipo de piada fácil e preguiçosa que pode ser feita por basicamente
qualquer um, basta pensar "vou botar alguém pra peidar nessa cena" ou
"no meio da discussão dê um close no cachorro" e pronto, a "piada"
foi feita. Não que não se possa fazer situações verdadeiramente engraçadas com
essas premissas, mas o filme apenas aponta sua câmera para isso e nos pede para
rir. Para não dizer que não há nenhum mínimo resquício de inspiração ou
criatividade, temos um diálogo bem bacana entre Joe e Eleanor sobre crença, na
qual ele pergunta em que ela acredita, já que não acredita em deus e ela
retruca: "Eu acredito em Nina
Simone. Acredito que a voz dela é o mais perto de deus que dá pra chegar".
Para
piorar, o filme ainda apresenta o uso mais equivocado e mais atroz de narração
em off que vi em muito, muito tempo.
Na verdade, parece confundir narração com audiodescrição, já que o narrador (Steve Martin, coitado) passa
boa parte do tempo falando exatamente o que está acontecendo na tela como
"fulano ficou triste" ou "personagem tal pensou em tal coisa e
disse isso pra quem estava do seu lado (e o personagem fala "tal
coisa" em voz alta)". Não sou desses que demoniza o uso da narração
em off, acho que ela tem o seu lugar,
mas aqui é um uso completamente redundante e vazio deste recurso, já que ele
não acrescenta nada à obra e apenas diz o que é facilmente visível na tela.
Ainda mais frustrante é quando a narração estraga algumas boas sacadas visuais
ao explicá-las, como o momento em vemos uma personagem flagrar o namorado com
outra e ela congela e despedaça, denotando sua desilusão amorosa, e a narração
entra e explica o que acabou de acontecer e não há nada mais irritante ou sem
graça do que explicar uma piada.
A
menos que jamais tenha visto um filme de Natal em toda a sua vida, não há nada em O Natal dos Cooper que você já não tenha
visto antes e melhor em tantas outras obras sobre o período. Com uma narrativa
toda apoiada em clichês, personagens pouco interessantes e humor pouco
inspirado, há muito pouco a ser aproveitado aqui.
Nota:
2/10
Trailer do filme:
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