segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Crítica - O Natal dos Coopers



Nas épocas de festas sempre aparecem alguns filmes oportunistas que querem usar o clima de feriados como Dia dos Namorados, Natal ou Ano Novo para arrancar uns trocados do público. É fácil reconhecer esse tipo de produto caça-níqueis: normalmente trazem um apanhado de artistas famosos de diferentes idades, para chamar atenção do maior número possível de pessoas, cada um com um conflito bastante típico deste tipo de evento, para que cada um tenha algo com o que se relacionar, e termina com a reafirmação de valores associados à data, amor e romance no Dia dos Namorados, família e união no Natal e assim por diante. O Natal dos Coopers é exatamente esse tipo de caça-níqueis preguiçoso e rasteiro feito para apelar ao "espírito natalino" dos frequentadores de cinema sem se esforçar para oferecer nada de interessante.

A trama acompanha o casal Charlotte (Diane Keaton) e Sam (John Goodman), que depois de quarenta anos de casamento decidem se separar, mas para não "estragar o Natal" escolhem não contar nada para os filhos Hank (Ed Helms) e Eleanor (Olivia Wilde). Hank e Eleanor tem seus próprios problemas, ele perdeu o emprego há algum tempo e mantém isso em segredo da família, ela não aguenta o julgamento da mãe por ser solteira e resolve levar com ela para o jantar de natalino um estranho que conheceu no aeroporto, o soldado Joe (Jake Lacy). Temos ainda mais uma dúzia de outros personagens, cada um com sua trama, todas bastante superficiais, com cada um não ocupando mais do que uns vinte minutos de tela, além de completamente previsíveis e baseadas em todos os lugares-comuns que já vimos em filmes desse tipo.

Não é preciso ser um exímio conhecedor de narrativas para prever com dez minutos de filme que Charlotte e Sam vão se reconciliar, que Joe e Eleanor vão ficar juntos e que ao fim todos irão aprender valiosas lições de vida sobre união e família, entendendo que tudo que precisam está bem diante deles, a mesma moral que praticamente todos os filmes natalinos trazem desde, sei lá, A Felicidade Não Compra (1946).

A questão de ser previsível seria menos incômoda se pelo menos o filme conseguisse trazer personagens interessantes ou situações engraçadas, mas isso não acontece. Os personagens são completamente unidimensionais e cada fala pode ser facilmente antecipada. Não ajudam também os exageros de alguns atores, como Ed Helms que durante uma entrevista de emprego deveria nos convencer do desespero do personagem, mas força tanto que fica parecendo um lunático histérico. O mesmo acontece com seu filho, que deveria ser um adolescente tímido e com dificuldade de falar com a garota por quem está apaixonado, mas acaba parecendo um viciado em metanfetamina de tanto que pesa a mão no nervosismo do personagem.

O humor é baseado justamente nessa conduta histriônica e gritada dos personagens, não muito diferente das comédias nacionais da Globo Filmes que vira e mexe chegam aos cinemas. Além disso investe em situações pra lá de batidas, como crianças falando coisas inapropriadas, idosos esclerosados falando coisas inapropriadas (o que ofende mais do que faz rir) ou peidando e closes em animais fazendo expressões engraçadinhas, que é basicamente a prima mais bonitinha da piada de peido. Digo isso porque tanto as piadas de peido quanto as caras engraçadinhas de cachorros são o mesmo tipo de piada fácil e preguiçosa que pode ser feita por basicamente qualquer um, basta pensar "vou botar alguém pra peidar nessa cena" ou "no meio da discussão dê um close no cachorro" e pronto, a "piada" foi feita. Não que não se possa fazer situações verdadeiramente engraçadas com essas premissas, mas o filme apenas aponta sua câmera para isso e nos pede para rir. Para não dizer que não há nenhum mínimo resquício de inspiração ou criatividade, temos um diálogo bem bacana entre Joe e Eleanor sobre crença, na qual ele pergunta em que ela acredita, já que não acredita em deus e ela retruca: "Eu acredito em Nina Simone. Acredito que a voz dela é o mais perto de deus que dá pra chegar".

Para piorar, o filme ainda apresenta o uso mais equivocado e mais atroz de narração em off que vi em muito, muito tempo. Na verdade, parece confundir narração com audiodescrição, já  que o narrador (Steve Martin, coitado) passa boa parte do tempo falando exatamente o que está acontecendo na tela como "fulano ficou triste" ou "personagem tal pensou em tal coisa e disse isso pra quem estava do seu lado (e o personagem fala "tal coisa" em voz alta)". Não sou desses que demoniza o uso da narração em off, acho que ela tem o seu lugar, mas aqui é um uso completamente redundante e vazio deste recurso, já que ele não acrescenta nada à obra e apenas diz o que é facilmente visível na tela. Ainda mais frustrante é quando a narração estraga algumas boas sacadas visuais ao explicá-las, como o momento em vemos uma personagem flagrar o namorado com outra e ela congela e despedaça, denotando sua desilusão amorosa, e a narração entra e explica o que acabou de acontecer e não há nada mais irritante ou sem graça do que explicar uma piada.

A menos que jamais tenha visto um filme de Natal em toda a sua vida, não há nada em O Natal dos Cooper que você já não tenha visto antes e melhor em tantas outras obras sobre o período. Com uma narrativa toda apoiada em clichês, personagens pouco interessantes e humor pouco inspirado, há muito pouco a ser aproveitado aqui.

Nota: 2/10

Trailer do filme:

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