No Coração do Mar baseia-se na história real que inspirou o
romancista Herman Melville a escrever Moby
Dick, que veio a se tornar uma das mais emblemáticas obras da literatura de
língua inglesa. Apesar de não ser uma adaptação direta da obra de Melville, o
filme toca em muitos temas semelhantes aos abordados pelo escritor em seu
trabalho.
A
narrativa conta os eventos que ocorreram na expedição do baleeiro Essex que
partiu para o Oceano Pacífico à caça de baleias para extração de óleo e outros
recursos. A trama acompanha o imediato Owen Chase (Chris Hemsworth, mostrando
aqui que seria um ótimo Edward Kenway de Assassin's
Creed: Black Flag), um marinheiro com experiência na caça de baleias, mas
que é preterido na vaga de capitão por um dos herdeiros de companhia marítima,
o inexperiente e arrogante George Pollard (Benjamin Walker), e ambos passam a
se detestar mutuamente. Ao se dirigirem a partes pouco exploradas do oceano nas
quais será mais fácil caçar baleias, a embarcação encontra uma enorme e
poderosa baleia que coloca todos em risco.
Assim
como o romance de Melville, essa é uma história sobre homem contra natureza,
razão contra instinto. É um conto de alerta, lembrando que não importa o quanto
pensemos ser superiores ou quanto nossa tecnologia avance, somos uma parte
minúscula do mundo e (do universo) não podemos realmente controlar a natureza.
É também um lembrete ao modo predatório com o qual o homem se relaciona com o
planeta e que a destruição que causamos não passa incólume.
O
filme retrata detalhadamente o duro cotidiano do trabalho dos baleeiros,
inclusive o modo brutal com que matam os animais, que encerra em um literal
chafariz de sangue, além do modo bastante asqueroso de extrair o óleo da
baleia. O fato disso abordado pelo olhar do novato Nickerson (Tom Holland, o
novo Homem-Aranha), que conta a história já em sua velhice (interpretado por
Brendan Gleeson) para Herman Melville (Ben Winshaw), ajuda a nos aproximar
disso ao mostrar seu espanto com tudo o que vê. Embora os interlúdios no
presente acrescentem pouco à narrativa e acabem deixando o fluxo um pouco
truncado.
A
baleia construída digitalmente é muito bem feita e cheia de detalhes, como
cicatrizes, manchas e pedaços faltando, dando a impressão de um animal
maltratado, que passou por muitos bocados. Seu tamanho é impressionante e a
primeira vez que ela aparece, arremessando para longe os pequenos botes como se
não fossem nada, desperta admiração e pavor em iguais medidas e cada vez que
ela aparece em cena, sabemos que algo terrível irá acontecer. A baleia, no
entanto, não é apenas um animal, é uma força da natureza, é a mão divina que
pune os homens por sua soberba e ganância e é a duras penas que Owen entende
isso.
É
uma pena, portanto, que o resto dos efeitos especiais não seja tão caprichado
quanto os usados para criar a baleia, já que muitos dos cenários digitais soam
bastante artificiais e em algumas cenas, em especial a primeira pesca de
baleia, fica a clara impressão de que estamos vendo apenas um bando de atores
interagindo com uma tela verde.
É
também lamentável que o filme perca parte de seu fôlego depois da destruição do
navio, acompanhando os percalços dos marinheiros à deriva. Apesar de trazer
alguns momentos realmente impactantes e a transformação física dos atores
chocar ao mostrar o declínio daquelas pessoas, o segmento não apresenta nada
que já não tenhamos visto em filmes como Náufrago
(2000), As Aventuras de Pi (2012) ou Invencível (2014), fazendo pouco para se
diferenciar de obras com eventos semelhantes. A única diferença, talvez, reside
no fato de que esta não é exatamente uma história de superação ou uma
celebração da resiliência humana, mas uma melancólica realização da impotência
humana frente à natureza selvagem e irrefreável e que esquecer disso traz
perigosas consequências.
Chris
Hemsworth trabalha bem a transformação de Owen, que começa como um homem cheio
de ambições profissionais e ascensão social, sem se importar com a natureza
cruel de seu trabalho ou com o prolongado afastamento de sua família, e a vai
vendo tudo ruir sob seus pés, aos poucos percebendo que não possui nenhum
controle sobre sua vida e o quão pequenos são seus desejos. Enquanto isso Ben
Winshaw (o Q de 007 Contra Spectre),
mais do que acostumado a fazer personagens excêntricos como já demonstrou em Não Estou Lá (2007), O Brilho de Uma Paixão (2009) ou mesmo nos
recentes James Bond, aplica essa persona
ao perseverante e inseguro Herman Melville, que teme não estar a altura de seu
ídolo, o escritor Nathaniel Hawthorne, e de não ser capaz de fazer justiça à
história que lhe é contada, embora todo o arco do escritor é desenvolvido de
modo superficial.
Ainda
assim, a história encerra com uma melancolia típica da obra de Melville, com o
velho Nickerson espantado ao comentar sobre a descoberta do petróleo, surpreso
pelo combustível agora brotar do chão, deixando claro para nós que a humanidade
nada aprendeu com sua tragédia, que continua se comportando como dona deste
planeta, explorando-o de modo predatório sem pensar nas consequências para
atender suas próprias ambições.
Assim
sendo, apesar de problemas de ritmo e de efeitos especiais irregulares, No Coração do Mar é um conto competente
que nos lembra da pequenez do homem frente à natureza e dos perigos de
desrespeitá-la.
Nota: 6/10
Trailer:
Graças a esse filme me incentivou a ler o livro, é bela história. Em suma, "In the heart of the sea" é um espetáculo visual muito interessante que recebe cenas específicas com força suficiente. Além disso, o filme também adiciona duas reflexões interessantes: em primeiro lugar, com Melville como eixo sobre o ato de escrever, sobre o medo de nossa própria incapacidade ea luta interna entre revelando e inventar, entre a transmissão da verdade e da captura da essência; ea segunda, sobre os interesses comerciais eternas e a tirania do dinheiro.
ResponderExcluirQue bom que gostou Sofia, é um filme bem interessante mesmo, com muito a refletir
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