terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Crítica - O Presente




Creio que mais de uma vez aqui (nos textos sobre Aliança do Crime e Êxodo: Deuses e Reis) falei que não me impressionava com o trabalho do ator Joel Edgerton, apesar de não considerá-lo um profissional ruim. Pois isso mudou ao vê-lo neste ótimo O Presente, suspense que também foi escrito e dirigido pelo ator.

Na história, o casal Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) se muda para uma nova cidade em busca de recomeço depois de uma crise no relacionamento. Na cidade, eles reencontram um antigo colega de escola de Simon, o estranho Gordo (Joel Edgerton). O amigo inicialmente mostra-se prestativo ao casal, mandando presentes e visitando-os, mas aos poucos a presença constante e inesperada dele na residência do casal vai se tornando não apenas incômoda, como também ameaçadora, principalmente quando problemas passados entre ele e Simon começam a emergir.

Apesar de todo trio entregar ótimas performances, é Edgerton que se destaca com sua composição ambígua, fazendo seu personagem flutuar entre o sujeito carente e patético e um stalker perigoso, nos deixando incertos quanto às suas intenções, elevando o suspense e a tensão toda vez que está em cena. Bateman impressiona pelo modo como vai aos poucos se despindo de sua tradicional persona boa-praça e vai mostrando que Simon talvez não seja tão inocente quanto inicialmente pensamos. Já Rebecca Hall faz de Robyn uma mulher fragilizada por um trauma recente que flutua entre o medo e a pena de Gordo, principalmente ao ver o modo como o marido o trata.

Com isso, o filme vai sempre nos desafiando e brincando com nossas expectativas a todo o tempo, evitando descambar para um maniqueísmo fácil que transformaria a obra em um desses thrillers genéricos do SuperCine da Globo. Aqui os papéis de vítima e algoz vão mudando de lugar, nos deixando ansiosos e tensos pelo próximo desenvolvimento e testando constantemente nossa empatia, já que por vezes nos pegamos lamentando por alguém que sabemos ter tido uma conduta desprezível ou torcemos para que um personagem execute uma cruel vingança sobre alguém.

A vingança, por sinal, é a melhor construída pelo cinema desde Oldboy (2003), inclusive tem bastante proximidade com o filme de Park Chan Wook, já que ambos tratam das consequências terríveis que as palavras podem ter e como a vítima vai sempre carregar consigo as marcas do ocorrido enquanto que o algoz provavelmente nem irá lembrar do que aconteceu. Não irei dar muitos detalhes para não estragar a experiência de ninguém, mas o final ambíguo e com muitas possibilidades de interpretação é arrebatador e aterrorizante, afinal, como tratei disso ao falar de Corrente do Mal, o desconhecido é sempre mais assustador do que saber exatamente a verdade daquilo com o que está lidando, mesmo que a verdade seja terrível.

O filme investe em ambientes cheios de vidros e transparências, da casa dos protagonistas, passando pelos escritórios, a maioria dos ambientes não é completamente fechado, dando uma constante impressão de vulnerabilidade aos personagens, como se eles estivessem constantemente sendo observados. Essa sensação de paranoia constante é ampliada pelo modo como a câmera insiste em filmar os personagens através dessas paredes de vidro ou janelas de prédio e carros, como se os personagens estivessem acuados naqueles ambientes, apenas esperando algo acontecer. A insistência em ambientes transparentes também se relaciona com os próprios temas tratados pela narrativa, que tratam como não é possível manter nada escondido por muito tempo e não importa a máscara que vestimos, eventualmente será possível ver através delas.

Deste modo, O Presente se mostra um suspense psicológico bastante inteligente e cheio de nuances, que joga com as expectativas do público, deixando-os à beira do assento temendo o que irá acontecer a seguir nesta jornada carregada de tensão.

Nota: 8/10

Trailer:


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