Creio que mais de uma vez aqui (nos textos sobre Aliança do Crime e Êxodo: Deuses e Reis) falei que não me impressionava com o trabalho do ator Joel Edgerton, apesar de não considerá-lo um profissional ruim. Pois isso mudou ao vê-lo neste ótimo O Presente, suspense que também foi escrito e dirigido pelo ator.
Na
história, o casal Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) se muda para uma
nova cidade em busca de recomeço depois de uma crise no relacionamento. Na
cidade, eles reencontram um antigo colega de escola de Simon, o estranho Gordo
(Joel Edgerton). O amigo inicialmente mostra-se prestativo ao casal, mandando
presentes e visitando-os, mas aos poucos a presença constante e inesperada dele
na residência do casal vai se tornando não apenas incômoda, como também
ameaçadora, principalmente quando problemas passados entre ele e Simon começam
a emergir.
Apesar
de todo trio entregar ótimas performances, é Edgerton que se destaca com sua
composição ambígua, fazendo seu personagem flutuar entre o sujeito carente e
patético e um stalker perigoso, nos
deixando incertos quanto às suas intenções, elevando o suspense e a tensão toda
vez que está em cena. Bateman impressiona pelo modo como vai aos poucos se
despindo de sua tradicional persona
boa-praça e vai mostrando que Simon talvez não seja tão inocente quanto
inicialmente pensamos. Já Rebecca Hall faz de Robyn uma mulher fragilizada por
um trauma recente que flutua entre o medo e a pena de Gordo, principalmente ao
ver o modo como o marido o trata.
Com
isso, o filme vai sempre nos desafiando e brincando com nossas expectativas a
todo o tempo, evitando descambar para um maniqueísmo fácil que transformaria a
obra em um desses thrillers genéricos
do SuperCine da Globo. Aqui os papéis de vítima e algoz vão mudando de lugar,
nos deixando ansiosos e tensos pelo próximo desenvolvimento e testando
constantemente nossa empatia, já que por vezes nos pegamos lamentando por alguém
que sabemos ter tido uma conduta desprezível ou torcemos para que um personagem
execute uma cruel vingança sobre alguém.
A
vingança, por sinal, é a melhor construída pelo cinema desde Oldboy (2003), inclusive tem bastante
proximidade com o filme de Park Chan Wook, já que ambos tratam das
consequências terríveis que as palavras podem ter e como a vítima vai sempre
carregar consigo as marcas do ocorrido enquanto que o algoz provavelmente nem
irá lembrar do que aconteceu. Não irei dar muitos detalhes para não estragar a
experiência de ninguém, mas o final ambíguo e com muitas possibilidades de
interpretação é arrebatador e aterrorizante, afinal, como tratei disso ao falar
de Corrente do Mal, o desconhecido é
sempre mais assustador do que saber exatamente a verdade daquilo com o que está
lidando, mesmo que a verdade seja terrível.
O
filme investe em ambientes cheios de vidros e transparências, da casa dos
protagonistas, passando pelos escritórios, a maioria dos ambientes não é
completamente fechado, dando uma constante impressão de vulnerabilidade aos
personagens, como se eles estivessem constantemente sendo observados. Essa
sensação de paranoia constante é ampliada pelo modo como a câmera insiste em
filmar os personagens através dessas paredes de vidro ou janelas de prédio e
carros, como se os personagens estivessem acuados naqueles ambientes, apenas
esperando algo acontecer. A insistência em ambientes transparentes também se
relaciona com os próprios temas tratados pela narrativa, que tratam como não é
possível manter nada escondido por muito tempo e não importa a máscara que
vestimos, eventualmente será possível ver através delas.
Deste
modo, O Presente se mostra um
suspense psicológico bastante inteligente e cheio de nuances, que joga com as
expectativas do público, deixando-os à beira do assento temendo o que irá
acontecer a seguir nesta jornada carregada de tensão.
Nota:
8/10
Trailer:
Trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário