Quando
foi anunciado que haveria um remake
hollywoodiano para o competente suspense argentino O Segredo de Seus Olhos (2009), dirigido por Juan Jose Campanella e
protagonizado por Ricardo Darín, imaginei que seria mais um daqueles projetos
estilo "copia e cola", feito apenas para tornar o produto original
palatável às audiências do país que não gostam muito de filmes que lhes façam
ler legendas (assim como o público brasileiro, diga-se de passagem). Olhos da Justiça é exatamente isso, mas
pelo menos consegue manter a essência do texto original e o faz funcionar.
A
nova trama tira a história da ditadura argentina dos anos 70 para o pós 11 de
setembro nos Estados Unidos quando todos temiam um novo ataque. O agente do FBI
Ray (Chiwetel Ejiofor) é designado para ajudar a procuradoria de Los Angeles a
investigar possíveis ameaças terroristas e lá se apaixona pela promotora Claire
(Nicole Kidman), mas quando a filha de sua colega, Jess (Julia Roberts), é
assassinada e morta perto de uma mesquita que investigavam, o agente coloca de
lado sua missão para ajudar a amiga, mas sua investigação se estende por mais
de uma década.
O
longa metragem recria a maioria das cenas do filme original, do mesmo modo que
reutiliza muitos de seus diálogos. Não há nenhuma preocupação em trazer um novo
olhar ou abordagem para a história, mas ainda assim lida com habilidade com os
mesmos temas do filme original, falando sobre o trauma incessante causado pela
violência, as falhas e limitações do judiciário (em especial a politicagem
interna) e o quanto nos assombram as questões mal resolvidas de nossas vidas.
Mesmo
para quem viu o original, o filme ainda consegue apresentar o mistério de forma
instigante e as cenas são bem construídas de modo a manterem um clima de tensão
mesmo para que já tem uma ideia do que pode acontecer a seguir. Acaba
derrapando um pouco ao fazer uma leve alteração no final, que acaba trocando um
pouco do impacto do original para oferecer uma tentativa de catarse, terminando
as coisas de maneira menos sombria.
Ejiofor
consegue trazer a dor e o desespero de um homem atormentado pela culpa e
arrependimento das coisas que não fez no passado (a resolução do crime e a
declaração de amor nunca dada), enquanto que Julia Roberts nos deixa perceber
toda a dor de Jess, que se tornou praticamente uma morta-viva depois do
assassinato da filha. Por outro lado, Nicole Kidman tem muito pouco a fazer
como Claire, tendo a cena do interrogatório praticamente seu único bom momento.
O filme ainda conta com um bom elenco secundário, envolvendo nomes como Dean
Norris (o Hank de Breaking Bad) e
Alfred Molina.
Enquanto
remake, Olhos da Justiça é bastante acomodado e preguiçoso, mas se visto
por seus próprios méritos revela-se um suspense relativamente competente e
capaz de agradar tanto os que conhecem o original quanto quem nunca o viu.
Nota:
6/10
Trailer:
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