O
serviço de streaming Netflix se
tornou bastante reconhecido pela qualidade de suas produções originais, tanto
de seriados quanto de documentários, mas foi apenas recentemente que a
plataforma começou a investir em longas-metragens de ficção. O primeiro foi o
ótimo Beasts of No Nation, impactante
história sobre crianças soldado na África, mas o projeto seguinte pegou todos
de surpresa com o anúncio de que a Netflix se juntaria com Adam Sandler,
comediante famoso pelos trabalhos rasteiros e cujas bilheterias vem diminuindo
a cada novo projeto, tornando a escolha incompreensível tanto por razões
artísticas quanto comerciais.
A
produção foi marcada por problemas, em especial quando os figurantes indígenas
se recusaram a trabalhar acusando o filme de ser racista. Dado o histórico de
Sandler em fazer um humor baseado na reafirmação de preconceitos de raça e
gênero, o filme começou a ser execrado antes mesmo de ser lançado e tudo
apontava para um completo desastre. A verdade, no entanto, é que o filme de
fato não é exatamente ofensivo em relação aos indígenas, embora seja difícil dizer se ele
sempre foi assim ou se alterações foram feitas depois da polêmica ter surgido.
De todo modo, nada disso evita que a obra seja mais uma coleção de piadas
preguiçosas e desinteressantes que pode até não estar no baixo nível de
atrocidades como Gente Grande 2
(2013) ou Cada um Tem a Gêmea que Merece
(2011), mas ainda assim passa longe de ser minimamente satisfatória e é
provavelmente a pior produção original do Netflix até então.
A
trama se passa no velho oeste é centrada em Tommy ou "Faca Branca"
(Adam Sandler), um homem branco criado por índios e um exímio guerreiro. Quando
seu pai verdadeiro, Frank (Nick Nolte), é sequestrado por membros de sua antiga
gangue de ladrões, Tommy resolve cruzar o oeste selvagem para resgatá-lo e no
caminho acaba encontrando outros meio-irmãos com quem forma um bando.
O
humor é aquela coleção de escatologia e humor físico preguiçoso que todo mundo
está habituado em filmes do comediante. Não há nada errado per se nesse tipo de humor, mas não há nenhum esforço em montar uma
situação engraçada com esses atributos, ele apenas nos mostra um jumento
defecando em alguém ou uma pessoa tendo a cabeça arrancada e espera que ríamos
disso.
Os
personagens não são apenas unidimensionais, como também são indivíduos de uma
piada só. Herm (Jorge Garcia) fala através de grunhidos, Lil Pete (Taylor
Lautner) é um idiota e tem três mamilos, Tommy é invencível (repetindo a
"piada única" que Sandler já tinha feito no horrendo Zohan: O Agente Bom de Corte) e alguns sequer tem qualquer qualidade engraçada
a seu respeito e o filme irá apenas apontar a câmera para os personagens e
dizer "olha ele é burro", "olha só, ele é gordo" ou
"vejam como fulano é esquisito", como se apenas apontar defeitos ou
coisas exóticas a respeito de um personagem fosse algo inerentemente engraçado.
Há
também uma tentativa de fazer graça com figuras históricas, mas isso se resume
a exibi-los para câmera e obrigá-los a fazer algo estúpido que muitas vezes nem
tem relação com suas biografias ou personalidades. Um exemplo é quando o
execrável Vanilla Ice (um rapper sem
talento e um ator pior ainda) aparece em cena agindo como ele próprio, mas
caracterizado como o escritor Mark Twain. Aparentemente os responsáveis pelo
filme acharam ver o consagrado escritor se comportando como um rapper incompetente tinha algo de
engraçado, mas não faz rir nem pelo puro nonsense
da situação.
Muitos
segmentos de humor aparecem soltos, deslocados do resto do filme, mais
parecendo esquetes inseridos sem critério no meio da história. A cena
envolvendo a criação do beisebol, por exemplo, além de ser sem graça ocupa uns
dez minutos de filme a troco de nada. Aliás, a duração de cerca de duas horas é
outro problema, já que estende mais do que deveria uma obra que já não tem lá
muito conteúdo ou ritmo e torna tudo ainda mais cansativo. Ainda por cima decepciona
ao aproveitar mal vários bons comediantes como Terry Crews (o eterno pai do
Chris), Lavell Crawford (o Huell de Breaking
Bad) ou Will Forte (o protagonista da divertida série O Último Cara da Terra) em papeis irrelevantes e que não exploram o
potencial cômico de seus atores.
No
fim The Ridiculous 6 é mais uma comédia tocada no piloto
automático pela produtora Happy Madison de Adam Sandler, passando longe do
padrão de qualidade que se espera do Netflix e só deve agradar aos entusiastas
de jumentos com diarreia ou se vista com expectativas muito baixas.
Nota:
3/10
Trailer:
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