Em
seus roteiros Charlie Kaufman sempre investiu no surreal e no fantasioso como
um modo de deixar transparecer nossas angústias e inseguranças, foi assim em
filmes como Quero Ser John Malkovich
(1999) e Brilho Eterno de Uma Mente Sem
Lembranças (2004) e também se aplica a este Anomalisa, animação em stop-motion
que usa o próprio meio para falar de isolamento e depressão.
O
filme acompanha Michael Stone (David Thewlis), um palestrante que viaja o país
para ensinar sobre atendimento ao cliente. Apesar de todo seu discurso sobre
relacionamento com cliente e lidar bem com o outro, Michael é um homem
solitário, cheio de angústias e incertezas.
Seu
distanciamento do mundo e das pessoas fica claro pelo modo como ele parece
ignorar ou não se importar com o fato de que todos à sua volta são
completamente iguais e tem a mesma voz (Tom Noonan). Suas conversas parecem
sempre ao redor de assuntos demasiadamente triviais e desinteressantes e ele se
movimenta de um ambiente fechado a outro, dando uma impressão de claustrofobia.
A
única coisa que consegue lhe tirar do marasmo é quando ele ouve uma voz
diferente no corredor de seu hotel e vai atrás dela, conhecendo Lisa (Jennifer
Jason Leigh do recente Os Oito Odiados).
Assim como Michael, Lisa é uma pessoa solitária, cheia de traumas e sem muito
traquejo social. Juntos eles vão compartilhando suas inseguranças, tropeçando
aos poucos um no outro, são diálogos esquisitos, por vezes desconexos, mas
extremamente sinceros ao marcarem a aproximação das neuroses dessas duas
pessoas.