quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Crítica – 47 Ronins

Quando um filme passa por tantos problemas durante sua produção como 47 Ronins, cujos problemas atrasaram o filme mais de um ano, pois perto do fim das filmagens teve seu diretor demitido, roteiro reescrito e novas cenas filmadas, além do primeiro diretor ter pedido a intervenção do sindicato de diretores para manter seu nome nos créditos, em geral espera-se que o resultado final seja desastroso. Exceções acontecem, como Guerra Mundial Z (2013), que é minimamente apreciável, mas em geral o que vemos são grandes desastres. No entanto, 47 Ronins não chega a ser a bomba que se esperava, mas ainda assim é um filme insípido, sem personalidade que falha em empolgar e envolver.
A trama se baseia na história real de 47 ronins durante o Japão do período do xogunato, mas adicionando elementos fantásticos a ela. Aqui acompanhamos o samurai Oishi (Hiroyuki Sanada) que torna-se um ronin depois que seu senhor, Lorde Asano (Min Tanaka) é assassinado pelo ganancioso Lorde Kira (Tadanobu Asano) e uma poderosa bruxa (Rinko Kikuchi). Na sua busca por justiça e vingança Oishi se junta aos demais samurais desonrados de sua província, mas para vencer precisa buscar a ajuda do mestiço Kai (Keanu Reeves) que aparentemente teve contato com criaturas sobrenaturais.
Sim, ao contrário do que os trailers e pôsteres dão a entender, Keanu Reeves não é exatamente o protagonista do filme, ele até tem um arco próprio, mas é um ajudante na jornada de vingança dos ronins. Na verdade, alguns outros personagens mostrados em vídeos e cartazes não aparecem mais do que poucos segundos. Tudo bem, sabemos que muitas cenas que aparecem em trailers muitas vezes são cortadas, mas fazer cartazes individuais para personagens que são meros figurantes é uma picaretagem sem tamanho por parte do estúdio.

Voltando ao filme, é lamentável que o componente fantástico adicionado à história dos ronins seja tão subutilizado, já que poderia render algo bacana como aconteceu em 300 (2006). Ao invés disso temos apenas umas três ou quatro criaturas de design pouco inspirado e construídas por uma computação gráfica nem um pouco convincente que torna inclusive o clímax vergonhoso ao colocar Keanu Reeves lutando com um dragão digital altamente artificial, deixando claro que estamos apenas vendo o ator correr e pular diante de uma tela verde. Já que falei dos efeitos, eles também não convencem nos enormes cenários digitais utilizados pelo filme, fazendo boa parte das paisagens soar incrivelmente falsa e prejudicando a imersão.
A trama caminha de modo previsível, em especial o arco envolvendo o romance entre Kai e Mika (Ko Shibasaki) que é o típico romance proibido entre a “princesa” e o plebeu. Além disso, ainda investe em vários diálogos expositivos, que visam apenas explicar as ações dos personagens como o momento em que Mika diz a Kai que mesmo quando ele ajuda os ronins, continuam a não gostar dele, sendo que a cena anterior mostrou exatamente um dos samurais ofendendo o personagem depois de ser salvo por ele.
Os personagens são sujeitos unidimensionais e à exceção de Kai e Oishi nenhum deles exibe qualquer traço de personalidade digno de nota, sem mencionar que o vilão Kira é excessivamente caricato, passando boa parte do tempo com uma sobrancelha levantada em uma expressão clichê de vilania saída direta de algum seriado ruim dos anos 60, mais caricato que isso só se o personagem possuísse um longo bigode que ficasse enrolando nos dedos. Não ajuda também o fato de boa parte do elenco japonês não se mostrar confortável ou fluente na língua inglesa, declamando suas falas com enorme impessoalidade e artificialidade, como se apenas tivessem aprendido os sons daquilo que dizem. Apenas Hiroyuki Sanada consegue fazer seu Oishi soar convincente, em especial na cena em que presencia a morte de seu senhor e quando finalmente consegue extrair sua vingança do lorde Kira.
As cenas de ação são bastante burocráticas, com movimentos pouco inspirados e falham em empolgar ou criar qualquer tipo de tensão, em parte pelo já citado abuso em uma computação gráfica relativamente pobre, mas também pelo uso de uma montagem picotada que corta a cada dois segundos e impede que se compreenda com clareza aquilo que ocorre. A exceção fica por conta do duelo entre Kai e Oishi num navio, que curiosamente usa uma montagem menos epilética e é mais comedida no uso de efeitos digitais, permitindo maior naturalidade e fluidez na luta.
47 Ronins pode não ser o completo desastre que se imaginava, mas é um filme apático, formulaico e pouco envolvente.
Nota: 4/10

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