sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Crítica - Anomalisa



Em seus roteiros Charlie Kaufman sempre investiu no surreal e no fantasioso como um modo de deixar transparecer nossas angústias e inseguranças, foi assim em filmes como Quero Ser John Malkovich (1999) e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) e também se aplica a este Anomalisa, animação em stop-motion que usa o próprio meio para falar de isolamento e depressão.

O filme acompanha Michael Stone (David Thewlis), um palestrante que viaja o país para ensinar sobre atendimento ao cliente. Apesar de todo seu discurso sobre relacionamento com cliente e lidar bem com o outro, Michael é um homem solitário, cheio de angústias e incertezas.

Seu distanciamento do mundo e das pessoas fica claro pelo modo como ele parece ignorar ou não se importar com o fato de que todos à sua volta são completamente iguais e tem a mesma voz (Tom Noonan). Suas conversas parecem sempre ao redor de assuntos demasiadamente triviais e desinteressantes e ele se movimenta de um ambiente fechado a outro, dando uma impressão de claustrofobia.

A única coisa que consegue lhe tirar do marasmo é quando ele ouve uma voz diferente no corredor de seu hotel e vai atrás dela, conhecendo Lisa (Jennifer Jason Leigh do recente Os Oito Odiados). Assim como Michael, Lisa é uma pessoa solitária, cheia de traumas e sem muito traquejo social. Juntos eles vão compartilhando suas inseguranças, tropeçando aos poucos um no outro, são diálogos esquisitos, por vezes desconexos, mas extremamente sinceros ao marcarem a aproximação das neuroses dessas duas pessoas.


O filme ainda usa a própria natureza dos bonecos para tecer um comentário sobre a natureza estandardizada da nossa sociedade, na qual tudo, da aparência às emoções que demonstramos é pré-pronto e padronizado. Na visão de Kaufman e seu co-diretor Duke Johnson nossa vida não é muito diferente da dos bonecos, balançando a esmo de um lado para o outro sem saber o motivo, sem saber quem somos ou sem saber o que nos faz assim.

Deste modo o filme é inteligente o bastante para não oferecer respostas às angústias de Michael, deixando que cada um tente encontrar sua razão em meio caos e a incerteza que é a vida. Afinal, ninguém pode realmente dizer quem é ou explicar completamente a natureza dos seus próprios sentimentos, somos falhos, incompletos, problemáticos, sempre descontentes, em busca de algo e animação nos provoca a confrontar esse lado da nossa condição.

Deste modo Anomalisa se mostra um delicado estudo sobre tristeza, solidão e inadequação, que nos instiga a tentar compreender quem de fato somos.

Nota: 7/10

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