quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Crítica – Crô: O Filme

As coisas não pareciam promissoras para Crô: O Filme. A tentativa anterior de emplacar um filme baseado em um personagem de novela foi o totalmente execrável Giovanni Improtta que (felizmente) passou praticamente despercebido do público. Assim sendo, foi com uma expectativa em níveis glaciais que entrei na sala de cinema para assistir a este filme e devo dizer que, embora ele não seja a hecatombe nuclear que temi que fosse, ainda assim tem muito pouco que se aproveitar aqui.
A trama coloca Crô (Marcelo Serrado) aproveitando a vida como milionário, mas sentindo falta de um propósito em sua vida. Uma noite ele sonha com sua falecida mãe (Ivete Sangalo) e tem uma revelação: deve voltar a ser mordomo. Após o anúncio público de que irá entrevistar candidatas a patroa, Crô passa a ser visitado por todo tipo de socialite exótica, inclusive a maligna Vanusa (Carolina Ferraz), uma dona de confecção que usa mão de obra escrava de imigrantes ilegais.
O primeiro problema do filme é o tom desencontrado, já que a todo o tempo parecemos ver dois filmes distintos. De um lado temos as peripécias, o escracho e o pastelão de Crô e seus funcionários tentando encontrar uma patroa, do outro lado temos as cenas na confecção com as trabalhadoras escravas que exagera a mão na tragédia e no melodrama, principalmente através de uma música pesadamente intrusiva, e parece não casar com o tom leve e despretensioso do resto filme, principalmente porque todo o segmento da confecção tem aquele tom de denuncismo barato de boa parte das produções televisivas globais que apresenta um problema de forma simplória e maniqueísta sem nunca produzir qualquer pensamento ou reflexão acerca do problema ou das variáveis que o cercam, apenas aponta e diz “isso é ruim”, como se qualquer pessoa não fosse capaz de chegar sozinha à conclusão de traficar e escravizar pessoas é uma coisa negativa.

Não ajuda o fato de que os dois vilões, Vanusa e Riquelme (Milhem Cortaz), são construídos com um exagero tão grande que jamais soam como sujeitos malignos ou ameaçadores, mas como caricaturas vazias e aborrecidas que despertam mais vergonha alheia (principalmente pela qualidade de seus atores) do que repulsa ou medo.
A narrativa progride de maneira absurdamente óbvia e já nos primeiros minutos é possível conhecer o desfecho. Na primeira vez que o filme nos mostra um plano-detalhe de uma determinada criança observada pelo protagonista já imaginamos que ela será sua escolha final e do mesmo modo é possível prever de cara (principalmente quem viu a novela) a mudança de atitude que ocorrerá com Baltazar (Alexandre Nero) ao final, assim como o desenrolar de sua cena com uma prostituta. Na verdade, praticamente todas as tentativas de humor são igualmente previsíveis e é possível vislumbrar o desfecho de boa parte das piadas assim que elas começam, deste modo o que deveria ser engraçado torna-se apenas um exercício de paciência.
Outro incômodo é o modo como o filme força a barra em determinadas situações de um modo tão grosseiro que elimina qualquer suspensão de descrença em especial o momento em que uma garota salta de uma janela alta para fugir da confecção e cai na calçada sem sofrer qualquer dano ou como o portão da mansão de Crô convenientemente quebra próximo ao clímax apenas para permitir que os vilões entrem em sua casa.
É curioso também como o filme usa uma linguagem quase que completamente televisiva, investido somente em planos fechados e planos médios além de utilizar praticamente apenas duas locações (internas) durante todo o filme: a mansão e a confecção. Se era para realizar todo o produto como se fosse algo voltado para televisão, teria sido melhor exibi-lo como minissérie ou especial de fim de ano, não há nenhum motivo para isto estar nos cinemas que não a ganância da Globo Filmes em lucrar com a bilheteria.
O único ponto positivo é mesmo o trabalho de Marcelo Serrado que confere um mínimo de carisma a um personagem que facilmente descamba para uma caricatura tola e estereotipada. É possível perceber seu conforto e confiança na pele do personagem e é uma pena que o texto e as situações não aproveitem o potencial do ator. Seus melhores momentos se dão principalmente quando divide a cena com Alexandre Nero, já que os dois exibem uma boa química e timing cômico que acaba compensando pela previsibilidade de boa parte do que acontece.
Isso, no entanto, é muito pouco para evitar que Crô: O Filme seja algo mais do que uma produção formulaica, previsível, aborrecida e equivocada, feita à toque de caixa de qualquer jeito apenas para lucrar em cima da popularidade do personagem.
Nota: 3/10

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