quinta-feira, 6 de junho de 2013

Crítica – Depois da Terra

É interessante ver o que aconteceu com a carreira de M. Night Shyamalan, que passou de uma grande promessa para um cineasta cujas obras se tornaram gradativamente mais questionáveis e equivocadas, chegando, enfim, a este Depois da Terra onde seu nome não é considerado valioso o bastante para sequer ser citado no trailer. Vendo o filme é possível entender o motivo, afinal se até mesmo no insosso O Último Mestre do Ar (2010) ainda víamos um pouco do seu estilo de dirigir, aqui não há um resquício sequer de sua presença atrás das câmeras, sedimentando sua passagem de diretor autoral para um mero lacaio de estúdio, já que não existe nada aqui que não pudesse ter sido feito por qualquer um desses diretores de aluguel sem personalidade como Louis Laterrier, Jonathan Liebsman ou Brett Ratner.
Dito isto é necessário esclarecer que este filme passa longe de ser o ponto mais baixo na carreira de Shyamalan, A Dama na Água (2006) eFim dos Tempos (2008) ainda seguem insuperáveis neste quesito, mas trata-se de tão incrivelmente derivativo e genérico que certamente não irá fazer favor algum à carreira do diretor.
Escrito por Shyamalan e Gary Whitta a partir de um argumento desenvolvido pelo próprio Will Smith, o filme se passa mil anos no futuro quando a humanidade deixou a Terra depois de exaurir todos os recursos e partiu para um novo planeta onde trava uma guerra contra uma raça alienígena. A história é centrada em Kitai (Jaden Smith) um jovem que deseja se tornar um ranger (a elite militar do novo planeta) assim como seu pai, o herói de guerra Cypher (Will Smith), com quem nunca teve muito contato. Tentando se reaproximar do filho, Cypher o leva a uma missão de treinamento em um planeta distante, mas a nave é danificada e cai em um planeta incrivelmente hostil, a Terra. Kitai e Cypher são os únicos sobreviventes (sabe-se lá porque), mas Cypher é ferido gravemente e Kitai precisa sozinho caminhar até a outra parte dos destroços para encontrar o sinalizador da nave e chamar ajuda.

O filme tem a progressão narrativa de um videogame, consistindo basicamente em Kitai tendo de andar do ponto A até o ponto B enfrentando alguns inimigos, fazendo paradas em pontos de checagem (os famososcheckpoints) entre uma fase e outra, checando seu inventário e enfim enfrentando o chefão final.
Apesar da premissa básica e vazia, o filme ainda poderia funcionar se fosse capaz de criar uma atmosfera de tensão ou cenas de ação funcionais e empolgantes, mas não é o caso. A ação é burocrática e pouco inventiva, sendo ainda prejudicada pelos efeitos especiais irregulares que denunciam a artificialidade das criaturas, quebrando a imersão no universo ficcional, deixando claro que estamos apenas Jaden Smith correr de um lado para outro diante de um chroma key. Além disso, toda a tensão se dilui pelo fato de sabermos que, não importa o que aconteça, Kitai irá sobreviver, afinal ele é o único personagem em cena e o filme acabaria se ele morresse. Inclusive há um momento numa paisagem congelada que o filme recorre a um deus ex machina tão forçado, estúpido e revoltante para garantir a sobrevivência dele que é impossível não ter vontade de deixar a sala de cinema.
Para preencher o vazio, o filme ainda coloca uma série de flashbacks com Kitai lembrando a morte da irmã mais velha (Zoe Kravitz) ou alucinando com ela, mas estas sequências não acrescentam nada ao desenvolvimento do personagem (boa parte deles apenas repete as mesmas informações) e visam apenas gerar alguns sustos gratuitos, despropositados e que não funcionam. Já que falei em desenvolvimento de personagem, é preciso dizer que todo esforço da narrativa em criar simpatia por Kitai acaba tendo efeito contrário. Desejoso pela atenção e aprovação do pai, Kitai tenta agir por conta própria, ignorando ordens e ocultando informações, colocando-se, assim, em mais perigo (e alongando mais a premissa inexistente do filme). Ora, como é possível simpatizar com um garoto que, diante de uma situação de perigo extremo e com sua vida em jogo, se recusa a colaborar com o pai, um guerreiro experiente e eficiente, apenas por birra infantil?
O usualmente carismático Will Smith tem pouco a fazer aqui. Seu personagem, além de um amontoado de clichês, passa boa parte do filme sentado apenas dando ordens, informações expositivas e lições de moral ao filho, enquanto tenta lidar com a dor das suas pernas quebradas e uma hemorragia na artéria femoral (e isso não é uma suposição, o filme deixa claro o dano arterial). Antes de tudo, devo dizer que é impressionante que o sujeito sobreviva quatro dias com uma artéria aberta e sangrando, quando não deveria sequer sobreviver quatro horas, e assim somos obrigados a aguentar durante todo o filme seus vergonhosos diálogos sobre superação de medo que parecem tirados de um livro barato de autoajuda. Não que as falas de Kitai sejam exatamente melhores, o momento que ele descobre o funcionamento de seu uniforme é de corar de vergonha, mas pelo menos não é estupidamente pretensioso como Cypher.
Igualmente vergonhoso é o clímax da narrativa, que coloca Kitai correndo de um lado para o outro com o sinalizador na mão, pois o aparelho, tal qual um celular da Tim, ficou sem sinal. Mais uma vez trata-se e uma tentativa desesperada de criar tensão ou conflito, além de “encher linguiça” até a chegada do inimigo final. Na verdade, em boa parte do filme erguemos os braços em incredulidade a tantas coisas sem sentido que ocorrem, sendo quase impossível aderir e acreditar neste universo e nestes personagens.
Assim sendo, Depois da Terra é mais uma bola fora na outrora promissora carreira de M. Night Shyamalan, que aqui cria uma narrativa desconjuntada, vazia, sem ritmo ou emoção cujo único resultado é o tédio e o aborrecimento.
Nota: 2/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário