quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Crítica – Elysium

O diretor sul-africano Neill Blomkamp surpreendeu muita gente com seu misto de ficção-científica e crítica social apresentados em Distrito 9(2009) que conseguia aliar uma narrativa inteligente e cheia de ação de um modo raramente visto (principalmente nos últimos anos) no cinemão hollywoodiano. Assim, depois do sucesso, o diretor volta a seu terreno familiar com este Elysium.
O filme se passa no ano 2154, no qual a humanidade se dividiu em dois grupos (ou talvez castas): uma minoria mais rica habita a estação espacial Elysium, vivendo com opulência e conforto em grandes mansões, com clima agradável, ar limpo e acesso a uma medicina avançadíssima que cura praticamente qualquer doença e retarda o envelhecimento. O resto da humanidade, no entanto, vive no que restou da Terra depois de ter seus recursos exauridos e seu meio-ambiente destruído, o nosso planeta se tornou uma enorme favela, com barracos improvisados por todos os lados, nenhum tipo de saneamento e acesso extremamente restrito a qualquer tipo de serviço, incluindo os de saúde. A população da Terra é considerada tão indigna que os moradores de Elysium os deixam à própria sorte, não se envolvendo em nada do que acontece e delegando a gestão do lugar a robôs.

É nesse cenário distópico que vive o protagonista Max (Matt Damon) um homem que tenta reconstruir depois de passar alguns anos preso por roubo de carros e sonha em um dia conseguir ir para Elysium. Seus planos de chegar à estação espacial são adiantados quando sofre um acidente no trabalho e é exposto a níveis letais de radiação, a única esperança de sobrevivência passa a ser a medicina avançada de Elysium. Para chegar lá precisa pedir ajuda a Spider (Wagner Moura) um comerciante do submundo cuja principal atividade é tentar levar pessoas ilegalmente para Elysium. Max faz um trato com Spider e para garantir sua ida, precisa ajudá-lo a roubar informações de um rico industrial, equipando Max com um exoesqueleto poderoso que o permite realizar o download das informações na mente do ricaço direto para sua mente. O que Max não sabe é que acidentalmente baixa o código-fonte para os sistemas de Elysium, que lhe permitiria alterar como quisesse todas as informações da estação espacial. Assim ele se coloca na mira da preconceituosa Secretária de Defesa Delacourt (Jodie Foster) e do implacável agente Kruger (Sharlto Copley).
Primeiramente toda a concepção deste universo é extremamente crível e verossímil, as paisagens decadentes da Terra não são muito diferentes das periferias das nossas grandes cidades, completamente abandonadas pelos governantes, assim como o lotado hospital onde doentes se amontoam em macas pelos corredores não diferem de alguns hospitais do nosso país. Em contraponto a isso temos as mansões opulentas de Elysium, com seus amplos gramados e imensas piscinas.
A secretária Delacourt personifica a xenofobia e o elitismo da população de Elysium. Implacável, ordena sem piscar a destruição das naves ilegais que se aproximam da estação espacial e considera a população da Terra como um bando de vagabundos que quer roubar aquilo que trabalhou para construir, sem pensar por um segundo que o desespero e a pobreza daquela população é fruto da exploração perpetrada por ela e seus pares. Convenhamos, não é um discurso muito diferente das elites do Brasil ou dos Estados Unidos.
Do mesmo modo Kruger representa a repressão cega do Estado contra essa população marginalizada e oprimida. Para o militar, pobre é sinônimo de bandido e de inimigo, alguém sem voz ou direitos, um criminoso não é definido por seus atos, mas por sua classe social. De novo não é algo diferente do modo de pensar de muitos membros das forças da lei do nosso país e de tantos outros.
Mas Elysium não é apenas um filme sobre desigualdades sociais, há também muito espaço para ação e assim como em Distrito 9 o diretor Neill Blomkamp é incrivelmente competente em retratar as cenas de luta e tiroteios. Sua opção por câmeras na mão, constantemente tremidas e movimentadas ajuda a dar uma sensação de velocidade realismo a tudo que acontece sem nunca prejudicar nosso entendimento que que acontece em cena. Esse realismo é também percebido pela violência gráfica que o filme exibe, não tendo pudores em nos mostrar sangue, desmembramentos e corpos explodindo, algo cada vez mais raro nosblockbusters americanos que costumam a se esforçar para manter a censura baixa.  Além disso, é bastante criativo na concepção das armas e dispositivos que os personagens usam nos combates.
O filme, no entanto, não é livre de problemas, principalmente em seu terço final quando o diretor pesa a mão no melodrama envolvendo Max e sua amiga de infância Frey (Alice Braga) que precisa desesperadamente chegar a Elysium para curar a filha com leucemia em estado terminal, enchendo as cenas dos dois de diálogos melosos e uma música excessivamente intrusiva. Outro problema é o desfecho do filme que soa bastante ingênuo e romantizado, destoando do tom realista e pessimista do restante do filme. É difícil crer que depois de tudo que ocorreu as pessoas fossem simplesmente esquecessem anos de preconceito e perseguição social e tudo se resolvesse sem maiores conflitos e questionamentos.
Apesar de tudo isso, Elysium serve para provar que os blockbusters americanos podem (e devem) ir além das fórmulas e que criatividade e pensamento crítico são elementos sem dúvida são capazes de engrandecer uma obra.
Nota: 6/10

Um comentário:

  1. Eu gostei de toda a idéia envolvendo o filme. Ele pega bem a questão do Cyberpunk e consegue encaixar em algo que tem tudo a ver com esse sub estilo de ficção científica: a desigualdade social gritante. As cenas de ação possuem execuções bem legais e criativas. Mas não gostei de muitos pontos na andamento/fluxo do roteiro. E o modo como foi feito o desfecho também achei que poderia ter sido mais a altura do plot (que por sinal é bem legal). Concordo com tudo que escreveu.

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