Adam Sandler. Ao longo dos anos a simples menção desse nome começou a me provocar calafrios e me fazer temer pela minha própria sanidade devido ao seu currículo de obras absolutamente execráveis como Little Nicky: Um Diabo Diferente (2000), Zohan: O Agente Bom de Corte (2008), Cada um tem a Gêmea que Merece (2011) e Esse é o meu Garoto! (2012), que de tão ruim saiu direto em DVD no Brasil. Para não dizerem que possuo algum tipo de birra com o sujeito, devo dizer que gosto de alguns de seus filmes. Acho Afinado no Amor (1998) e Como se Fosse a Primeira Vez (2004) bem bacanas e Click (2006) até que é tolerável, embora seja praticamente um plágio de A Felicidade Não se Compra (1946), mas considero sua única atuação competente a comédia dramática Embriagado de Amor (2002), dirigida por Paul Thomas Anderson (O Mestre, Magnólia, Sangue Negro).
Infelizmente este Gente Grande 2 se enquadra na primeira categoria e não na segunda, apresentando o mesmo tipo de humor preguiçoso, rasteiro e chato que caracteriza os piores momentos do comediante. A desculpa para este filme existir (me recuso a chamar de trama) é basicamente a mesma do filme anterior, Lenny (Adam Sandler), Eric (Kevin James), Kurt (Chris Rock) e Marcus (David Spade) são homens que precisam aprender a conciliar seus impulsos juvenis com suas obrigações de adultos, a diferença é que agora voltaram a morar em sua cidade natal. A partir daí o filme se fragmenta em uma infinidade de subtramas superficiais envolvendo um antigo valentão que incomodava Lenny, o desejo de sua esposa (Salma Hayek) ter outro filho, a tomada do lago local por um grupo de universitários baderneiros (liderados por Taylor Lautner e Milo Ventimiglia), além de uma infinidade de outros arcos que visam mais encher os 100 minutos de filme do que criar uma narrativa coesa.
O filme salta entre uma cena e outra sem qualquer tipo de critério ou lógica espacial/temporal e a sensação é que estamos vendo um conjunto de esquetes soltos ao invés de um filme. As ações dos personagens não seguem absolutamente nenhum critério ou sentido, fazendo-os tomar uma determinada atitude apenas para agirem de maneira diametralmente oposta em um momento posterior, como quando o valentão Cavanaugh (Steve Austin) que passa o filme todo atormentando Lenny, mas permite que ele o humilhe na frente de praticamente toda a cidade simplesmente porque o filho dele estava presente. Além disso, todos os conflitos são resolvidos sem dificuldade e de modo bastante simplório, toda a relação problemática entre Marcus e seu recém-descoberto filho é resolvida em cerca de duas frases, por exemplo.
Isso sem mencionar que muitas vezes o filme força tanto a barra em situações absurdas que fica difícil manter qualquer suspensão de descrença, como na cena em que os policiais resolvem abrir caminho no trânsito atirando para cima ou a absurda batalha campal no fim do filme. Nesses momentos fica difícil acreditar neste universo e nesses personagens, afinal tudo se passa em nosso mundo e não em um hospital psiquiátrico dominado por doentes mentais histéricos ou em um mundo virtual de videogame comoGrand Theft Auto onde não há qualquer consequência.
Todos são um bando de tipos rasos que parecem saídos do Zorra Total ou da Praça é Nossa e se limitam a repetir bordões que causarão mais irritação do que risos, em especial o gerente de mercado interpretado pelo outrora engraçado Tim Meadows (que já foi do Saturday Night Live) que entre em cena apenas para repetir a fala “whaaaaat?” da maneira mais aborrecida possível. A isso somam-se indivíduos completamente inverossímeis que certamente já teriam sido presos ou internados se o filme tivesse qualquer preocupação em fazer sentido, como o motorista de ônibus interpretado pelo excremento em forma de ator Nick Swardson (do lixo Dotado Para Brilhar) ou a balconista que é obcecada por Lenny desde a sexta série. Isso sem falar nos universitários que são retratados como uma caricatura altamente exagerada, mesmo para os padrões do caricato, soando mais como um bando de visigodos com retardamento mental. É simplesmente constrangedor ver um ator com o talento do Steve Buscemi ou um ídolo do esporte como o jogador de basquete Shaquille O’Neal se sujeitando a situações tão lamentáveis.
As outras tentativas de fazer rir se limitam a piadas de peido, arroto, vômito, urina, urina de cervo e golpes nos testículos, além de closes constrangedores de traseiros (masculinos e femininos) e virilhas (idem). Não me levem a mal, não vejo nada fundamentalmente errado em humor escatológico por si só, por exemplo, até hoje me acabo de rir com a cena da diarreia em Debi e Lóide: Dois Idiotas em Apuros (1994).
Entretanto, achar que eu vou rir apenas por ver um sujeito peidando ou pelo vergonhoso momento em que o competente elenco masculino da atual fase do Saturday Night Live americano esfrega suas virilhas claramente inchadas por próteses e outros efeitos práticos contra o vidro de um carro, é simplesmente subestimar a inteligência do público (e a minha) além de ser um expediente rasteiro e preguiçoso. Iniciativas recentes como o canal Porta dos Fundos mostram que o público massivo pode sim entender piadas mais contextualizadas, referenciais e com raciocínios um pouco mais armados, assim nada justifica basear todo o humor no filme neste literal humor de banheiro, que nos mostra uma senhora idosa correndo para fora do banheiro com papel higiênico enfiado na bunda.
Para não dizer que não ri em nenhum momento do filme, digo que dei risada em apenas uma ocasião quando Chris Rock faz uma breve piada sobre Obama ao saltar em um lago. Obviamente isso é muito pouco para justificar se submeter aos 100 minutos de tortura mental é que este filme.
Gente Grande 2 é um filme preguiçoso, vazio, repetitivo e fundamentalmente sem graça que ofende a inteligência do público e desperdiça a presença de bons comediantes além de promover outros bem ruins. O filme conseguiu ser pior do que eu imaginava e realizou um feito que eu considerava impossível que é rivalizar com o completamente detestável Giovanni Improtta pelo posto de pior filme do ano.
Nota: 1/10
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