sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Crítica - Gravidade

Resenha Gravidade
O ato de respirar é algo que por vezes nos passa despercebido, é tão vital, tão importante, mas ao mesmo tempo pouco lembrado e até mesmo subestimado. Afinal é um processo físico quase automático e ninguém realmente se dá conta de quantas vezes respira ao longo do dia ou se seu corpo está recebendo a quantidade adequada de oxigênio. Pois este ato aparentemente banal é o cerne desteGravidade, novo filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón (Filhos da Esperança, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban).
O filme é centrado nos astronautas Stone (Sandra Bullock) e Kowalsky (George Clooney) os dois estão em uma missão com um grupo de outros cientistas para realizarem reparos no telescópio Hubble. Quando uma nuvem de detritos destrói o satélite e o ônibus espacial deles, os dois astronautas são os únicos sobreviventes e precisam usar os propulsores de seus trajes para chegar na estação espacial internacional antes que o oxigênio acabe.
A direção de Cuarón é extremamente primorosa em construir o ambiente espacial como algo hostil e angustiante, criando imagens que são ao mesmo tempo carregadas de tensão e beleza. Um dos momentos mais belos é a cena em que Stone tira o uniforme pela primeira vez e a vemos no centro do quadro flutuando em posição fetal enquanto um cabo por trás dela parece ir direto ao seu ventre, quase como um cordão umbilical, a imagem parece referenciar o final de 2001:Uma Odisseia no Espaço (1968), bem como denotar o “renascimento” da personagem.

Os planos abertos ajudam a dar a dimensão da vasta imensidão do espaço, mostrando os personagens como pequenos pontinhos brancos girando e flutuando na escuridão. Temos também longos planos-sequências contribuem para que percebamos a situação frágil em que se encontram os personagens ao nos entregar longas cenas sem cortes dos conversando enquanto viajam pelo vazio. Ao mesmo tempo, emprega também vertiginosos movimentos de câmara para transmitir a confusão e desespero de Stone ao girar sozinha e à deriva pelo espaço, bem como as tomadas feitas a partir do ponto de vista da personagem, nos colocando sob seu capacete, nos enchendo de claustrofobia ao nos vermos presos sob aquele traje vendo a respiração da personagem se condensando sobre o visor enquanto o mostrador revela o pouco de oxigênio que resta.
O som também é usado de forma competente para evocar o vazio do espaço. Os sons de ambientes externos às aeronaves e estações espaciais são todos localizado na ponta do espectro do grave quase como se apenas sentíssemos as vibrações do maquinário já que os sons propriamente ditos não se propagam no espaço. A música é competente em evocar a tensão e o desespero, principalmente quando contraposta com momentos repletos de silêncio, nos quais não ouvimos nada além das falas dos personagens.
O trabalho da dupla de protagonistas também é altamente competente em conferir carisma e verossimilhança a personagens que possuem muito mais uma função arquetípica e simbólica do que serem efetivamente sujeitos complexos e carregados de nuances. Stone e Kowalski são dois extremos da postura humana sobre a vida, ele é expansivo cheio de histórias engraçadas e experiências para compartilhar, encarando até mesmo situações perigosas com tranquilidade, é alguém que sempre vê o positivo e tem muito pelo que viver. Já ela é o oposto, uma mulher marcada por uma tragédia pessoal que há muito não tem nada de positivo em sua vida ou razões para viver. A relação entre os dois é carregada de simbolismos e dá abertura para diversas interpretações, deste modo, prefiro deixar que cada um dê conta delas, já que transpor isso para meu texto poderia restringir o modo como cada um aqui entenderia esses personagens.
Devo dizer que esta também é a primeira vez que a tecnologia das salas 4D acrescentou alguma coisa à experiência ao invés de ser uma distração desnecessária. O movimento das cadeiras ajuda a sentirmos os trancos que os personagens experimentam ao serem arremessados pelo espaço e as lufadas de vento transmitem a força dos propulsores de seus trajes. Os efeitos 3D também são bem realizados e dão a sensação de profundidade bem como o caos dos detritos e objetos voando por todo lado. A ressalva fica por conta da fumaça que toma a sala próximo ao final, impedindo até que vejamos a tela por alguns instantes, mas este é um demérito da sala de exibição que nada tem a ver com a obra. Obviamente o recurso não é imprescindível para a apreciação da obra, mas aqueles que virem neste formato farão seu gasto valer a pena.
Gravidade é um belíssimo filme que nos lembra que cada momento e respiração são dádivas a serem vividas e aproveitadas ao máximo e que a vida, mesmo com seu destino inevitável, é uma jornada que vale a pena experimentar.
Nota: 10/10

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