terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Crítica - Joy: O Nome do Sucesso



Quando escrevi sobre O Lado Bom da Vida falei na capacidade do diretor David O. Russel em tornar interessantes histórias que poderiam facilmente descambar para algo banal e aborrecido. Lamentavelmente nada disso acontece neste insosso Joy: O Nome do Sucesso que, apesar do bom elenco e da competência técnica, não nos engaja como deveria.

A trama é baseada na vida de Joy Mangano (Jennifer Lawrence) uma jovem divorciada que luta para sustentar os filhos e a família desequilibrada cujos integrantes estão sempre em pé de guerra. A solução para seus problemas vem na ideia que ela para uma invenção, um esfregão com maior capacidade de limpeza e que pode se torcer sozinho. A partir de então acompanhamos seus percalços para fazer seu negócio vingar, tudo enquanto ainda continua a ser atormentada por seus parentes.

É uma típica história de superação, da jornada da pobreza à riqueza e de continuar seguindo em frente mesmo quando todos ao nosso redor nos colocam para baixo. A Joy é aquela típica mocinha sofredora, explorada por todos ao seu redor até que ela decide dar um basta em tudo. Já vimos essa história ser contada por Hollywood inúmeras vezes e este filme faz pouco para espantar a sensação de deja vu. O filme chega a tentar fazer alguns paralelos entre a jornada da protagonista e as histórias construídas em novelas, mas acaba abandonando as analogias no meio do caminho sem muita explicação.

Incomoda também o tanto que o filme tenta passar sua mensagem por uma coleção de clichês do tipo "a esperança é a última que morre" e uma série de frases de efeito rasteiras que parecem ter saído daqueles livros de autoajuda disfarçados de livros de administração, mas que só "ensinam" coisas do tipo "acredite em você" ou "tenha uma postura de vencedor". Isso acaba refletindo também na progressão da narrativa, já que cada dificuldade é resolvida de modo rápido e indolor simplesmente porque Joy decidiu resolver e pronto, todos os caminhos se abrem.

Um exemplo é quando ela tenta vender seu produto a uma emissora de compras por telefone e consegue convencer o executivo Neil Walker (Bradley Cooper) e este imediatamente lhe pede 50 mil unidades. Sem a infraestrutura ou dinheiro, imaginamos que isso vai ser um problema para ela, que nunca lidou com um pedido tão grande, mas imediatamente depois ela consegue empréstimos e na cena seguinte tudo é resolvido e os esfregões estão prontos.

Assim, o que poderia ser uma potencial crise é simplesmente evitada pelo roteiro que pula do estabelecimento da situação imediatamente para sua solução, negando que consigamos ter uma noção clara do esforço da protagonista e o peso de seu esforço e trabalho duro sobre seus ombros. O que fica parecendo é que seu sucesso se deveu simplesmente à sua escolha em fazer sucesso e não por seu trabalho duro já que tudo se complica e descomplica mais rápido do que cozinhar um miojo. Apenas no início do filme é que temos um vislumbre do quanto as coisas estão difíceis para ela e como ela é constantemente colocada no meio dos conflitos (a câmera até insiste em filmá-la assim) entre seus familiares. Depois disso parece que Joy fez sucesso apenas porque escolheu fazer.

Se há um motivo pelo qual tudo funciona é por causa do elenco e em especial de Jennifer Lawrence. A jovem atriz transita bem entre a frustração e a perseverança da personagem e nos faz acreditar em seu esforço mesmo quando o  roteiro não nos dá isso. Robert De Niro e Isabella Rossellini inicialmente divertem com seus personagens excêntricos, mas conforme o filme avança e vamos percebendo que eles não passam de caricaturas, vamos perdendo o interesse neles e no restante dos familiares.

Alguns inclusive passam sem dizer a que vieram, como a avó de Joy, que deixa a narrativa sem que o filme dê espaço para que percebamos sua importância na vida de Joy ou mesmo sua mãe cujo envolvimento com um encanador acontece quase que inteiramente fora de quadro e só voltamos a eles quando já está tudo resolvido, mais uma vez estabelecendo e resolvendo algo pulando o desenvolvimento da situação. O mesmo acontece com a relação entre a protagonista e a meia-irmã Peggy (Elisabeth Rohm) cuja relação conflituosa parece existir apenas por conveniência do roteiro, já que ela não há um esforço para entender de onde vem essa animosidade ou como as coisas ficaram assim.

Tudo isso leva a um final insípido que não consegue provocar a catarse a qual se propõe simplesmente por não dar a sensação de ter resolvido coisa alguma. Na verdade, a protagonista termina o filme como começou, trabalhando muito e com seus parentes lhe dando problemas, mas a condução de Russell quer nos convencer de que este é um final feliz pois agora ela é rica e aparentemente isso basta para um final feliz.

Apesar disso, Russell consegue acertar na sua reconstrução de época com o mesmo esmero que exibiu em Trapaça e ainda mostra um bom uso de efeitos especiais, principalmente nos flashbacks em que De Niro aparece rejuvenescido pela maquiagem digital, cuja qualidade impressiona tanto quanto aquela que rejuvenesceu Michael Douglas em Homem-Formiga.

Joy: O Nome do Sucesso vale pelo trabalho de Jennifer Lawrence e do restante do elenco, mas o talento dos atores é desperdiçado em uma trama apressada e cheia de diálogos óbvios.


Nota: 5/10

Trailer:

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