Quando
escrevi sobre O Lado Bom da Vida
falei na capacidade do diretor David O. Russel em tornar interessantes
histórias que poderiam facilmente descambar para algo banal e aborrecido.
Lamentavelmente nada disso acontece neste insosso Joy: O Nome do Sucesso que, apesar do bom elenco e da competência
técnica, não nos engaja como deveria.
A
trama é baseada na vida de Joy Mangano (Jennifer Lawrence) uma jovem divorciada
que luta para sustentar os filhos e a família desequilibrada cujos integrantes
estão sempre em pé de guerra. A solução para seus problemas vem na ideia que
ela para uma invenção, um esfregão com maior capacidade de limpeza e que pode
se torcer sozinho. A partir de então acompanhamos seus percalços para fazer seu
negócio vingar, tudo enquanto ainda continua a ser atormentada por seus
parentes.
É
uma típica história de superação, da jornada da pobreza à riqueza e de
continuar seguindo em frente mesmo quando todos ao nosso redor nos colocam para
baixo. A Joy é aquela típica mocinha sofredora, explorada por todos ao seu
redor até que ela decide dar um basta em tudo. Já vimos essa história ser
contada por Hollywood inúmeras vezes e este filme faz pouco para espantar a
sensação de deja vu. O filme chega a
tentar fazer alguns paralelos entre a jornada da protagonista e as histórias
construídas em novelas, mas acaba abandonando as analogias no meio do caminho
sem muita explicação.
Incomoda
também o tanto que o filme tenta passar sua mensagem por uma coleção de clichês
do tipo "a esperança é a última que morre" e uma série de frases de
efeito rasteiras que parecem ter saído daqueles livros de autoajuda disfarçados
de livros de administração, mas que só "ensinam" coisas do tipo
"acredite em você" ou "tenha uma postura de vencedor". Isso
acaba refletindo também na progressão da narrativa, já que cada dificuldade é
resolvida de modo rápido e indolor simplesmente porque Joy decidiu resolver e
pronto, todos os caminhos se abrem.
Um
exemplo é quando ela tenta vender seu produto a uma emissora de compras por
telefone e consegue convencer o executivo Neil Walker (Bradley Cooper) e este
imediatamente lhe pede 50 mil unidades. Sem a infraestrutura ou dinheiro,
imaginamos que isso vai ser um problema para ela, que nunca lidou com um pedido
tão grande, mas imediatamente depois ela consegue empréstimos e na cena
seguinte tudo é resolvido e os esfregões estão prontos.
Assim,
o que poderia ser uma potencial crise é simplesmente evitada pelo roteiro que
pula do estabelecimento da situação imediatamente para sua solução, negando que
consigamos ter uma noção clara do esforço da protagonista e o peso de seu
esforço e trabalho duro sobre seus ombros. O que fica parecendo é que seu
sucesso se deveu simplesmente à sua escolha em fazer sucesso e não por seu
trabalho duro já que tudo se complica e descomplica mais rápido do que cozinhar
um miojo. Apenas no início do filme é que temos um vislumbre do quanto as
coisas estão difíceis para ela e como ela é constantemente colocada no meio dos
conflitos (a câmera até insiste em filmá-la assim) entre seus familiares.
Depois disso parece que Joy fez sucesso apenas porque escolheu fazer.
Se
há um motivo pelo qual tudo funciona é por causa do elenco e em especial de
Jennifer Lawrence. A jovem atriz transita bem entre a frustração e a
perseverança da personagem e nos faz acreditar em seu esforço mesmo quando
o roteiro não nos dá isso. Robert De
Niro e Isabella Rossellini inicialmente divertem com seus personagens
excêntricos, mas conforme o filme avança e vamos percebendo que eles não passam
de caricaturas, vamos perdendo o interesse neles e no restante dos familiares.
Alguns
inclusive passam sem dizer a que vieram, como a avó de Joy, que deixa a
narrativa sem que o filme dê espaço para que percebamos sua importância na vida
de Joy ou mesmo sua mãe cujo envolvimento com um encanador acontece quase que
inteiramente fora de quadro e só voltamos a eles quando já está tudo resolvido,
mais uma vez estabelecendo e resolvendo algo pulando o desenvolvimento da
situação. O mesmo acontece com a relação entre a protagonista e a meia-irmã Peggy
(Elisabeth Rohm) cuja relação conflituosa parece existir apenas por
conveniência do roteiro, já que ela não há um esforço para entender de onde vem
essa animosidade ou como as coisas ficaram assim.
Tudo
isso leva a um final insípido que não consegue provocar a catarse a qual se
propõe simplesmente por não dar a sensação de ter resolvido coisa alguma. Na
verdade, a protagonista termina o filme como começou, trabalhando muito e com
seus parentes lhe dando problemas, mas a condução de Russell quer nos convencer
de que este é um final feliz pois agora ela é rica e aparentemente isso basta
para um final feliz.
Apesar
disso, Russell consegue acertar na sua reconstrução de época com o mesmo esmero
que exibiu em Trapaça e ainda mostra
um bom uso de efeitos especiais, principalmente nos flashbacks em que De Niro aparece rejuvenescido pela maquiagem
digital, cuja qualidade impressiona tanto quanto aquela que rejuvenesceu
Michael Douglas em Homem-Formiga.
Joy: O Nome do Sucesso vale pelo trabalho de Jennifer Lawrence e do
restante do elenco, mas o talento dos atores é desperdiçado em uma trama
apressada e cheia de diálogos óbvios.
Nota:
5/10
Trailer:
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