É muito bom ver um diretor veterano sendo capaz de produzir obras com o mesmo vigor e impacto dos seus períodos de apogeu, assim é muito bom constatar que o quase octogenário William Friedkin entregue um filme tão instigante quanto suas pérolas de outrora como O Exorcista (1973) e Operação França (1971).
Este Killer Joe: Matador de Aluguel representa um mergulho no que há de pior no comportamento humano, nos apresentando uma galeria de personagens detestáveis, de moral distorcida e incrivelmente estúpidos. O filme conta a história de Chris (Emile Hirsch) um pequeno traficante que se vê endividado com seus fornecedores depois de sua mãe cheirar seu estoque de cocaína. Sem dinheiro, recorre a seu pai, Ansel (Thomas Haden-Church), cuja única ajuda é dizer “você deveria fugir da cidade”. A resposta para seus problemas parece ser o seguro de vida que sua mãe tem em nome de sua irmã, Dottie (Juno Temple), uma garota retraída, quase beirando o autismo, devido à violência diária que vivencia entre seu pai e sua madrasta, Sharla (Gina Gershon) por causa de seus trambiques e traições.
Assim sendo, Chris decide matar a mãe. Disposto a obter o dinheiro do seguro que garantiria o pagamento da dívida, do assassinato e ainda sobraria dinheiro, Chris chama o policial e matador profissional Joe Cooper (Matthew McConaughey), um homem que esconde uma índole selvagem e violenta sob seus modos calculados e contidos. Quando Joe pede o pagamento adiantado, a única solução que Chris encontra é oferecer sua irmã como “garantia” até que o pagamento seja pago. Sim, o sujeito prostitui a irmã socialmente incompetente para pagar por um assassinato e isso é apenas a ponta do iceberg do comportamento sujo desta família desajustada que inclui ainda sonhos incestuosos e todo tipo de agressão.
Todo o elenco é extremamente competente em retratar a vileza e a estupidez de seus personagens, os diálogos sem sentido e a linguagem corporal avoada de Juno Temple, passando pelo trabalho de Thomas Haden-Church para estabelecer Ansel como um sujeito completamente imbecil com sua permanente expressão boquiaberta e olhar beócio. Quem rouba o filme, no entanto, é Matthew McCounaghey. Depois de desperdiçar os últimos anos em comédias rasteiras como um Um Amor de Tesouro (2008) e Minhas Adoráveis Ex-Namoradas (2009), o ator parece ter decido encarar papéis mais interessantes como fizera durante a década de 90 em filmes como Tempo de Matar (1996) e em seus filmes mais recentes O Poder e a Lei (2011) e Magic Mike (2012). Seu Joe é um sujeito incrivelmente ameaçador desde o primeiro momento em que o vemos e, conforme o filme se desenvolve, o personagem se entrega a arroubos de violência cada vez mais brutais e irracionais. Um deles inclusive pode mudar a maneira como muitas pessoas enxergam uma coxa de frango frito.
Os cenários e a iluminação ajudam a transmitir a sensação de corrupção e sujeira, investindo em espaços decadentes que parecem sempre estar prestes a cair aos pedaços com pouca iluminação e muitas sombras. Até mesmo as roupas dos personagens se apresentam tão corroídas quanto seu senso de humanidade como fica evidente na hilária cena em que Ansel puxa um fio solto de seu terno e termina por descosturar completamente a manga.
A narrativa se desenvolve de um modo que em muitos momentos lembra um filme dos irmãos Coen, com o grupo de personagens se envolvendo em situações que não compreendem, tentam resolvê-las de maneira estúpida e isso gera consequências ainda mais inesperadas que são rechaçadas com uma violência ainda mais idiota e sem sentido. Essa espiral de violência e burrice culmina na surpreendente cena final cuja brutalidade e crueza oscila entre o cômico e o grotesco.
Killer Joe: Matador de Aluguel é uma excelente obra que nos revela aquilo que há de pior no ser humano e que a violência reina absoluta quando se abandona qualquer traço de civilidade e moralidade.
Nota: 9/10
Nota: 9/10
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