Começando com um plano da perspectiva da câmera contida no capô de uma viatura policial e a narração do policial Brian Taylor (Jake Gyllenhaal) este Marcados Para Morrer parece ser mais um desses falsos documentários (ou mockumentaries) que se valem da farsa documental apenas para mascarar todos os defeitos de uma produção realizada com roteiros vazios, atores ruins e técnica capenga como ocorre em embustes do naipe de Atividade Paranormal, Apollo 18 e tantos outros engodos pseudodocumentários que invadem as telas quase que mensalmente. O filme acompanha a dupla de policiais formada por Mike (Michael Peña) e Brian em suas patrulhas pelas ruas dos guetos de Los Angeles enquanto que Brian filma tudo como parte de um projeto de faculdade.
A trama, entretanto, não cai refém de seu próprio formato e sempre que necessário recorre a outras fontes (sempre na forma de imagens captadas por outros personagens ou câmeras de vigilância) para mostrar eventos nos quais os protagonistas não estão presentes. O próprio formato da tela, mais estreita e portanto mais vertical assemelha-se ao de uma produção televisiva e ajuda a passar de vídeos caseiros. Por outro lado, todo o clima de documentário do cotidiano policial torna a trama bastante solta e apenas na proximidade do terceiro ato da projeção é possível vislumbrar um direcionamento para a narrativa.
A sensação de estarmos experimentando o dia a dia de parceiros de longa data é um aspecto muito bem explorado pelos diálogos e pelos atores cujo trabalho (improvisado ou não) consegue soar ao mesmo tempo carismático, divertido, em especial as piadas feitas por Mike, banal e verossímil. Na verdade, boa parte da tensão que há no terço final se deve ao cuidadoso investimento nos momentos de descontração e na vida pessoal dos protagonistas que contribui para que genuinamente nos importemos com seus destinos.
A ação, que é normalmente o calcanhar de Aquiles de produções do gênero, não compromete e a espacialidade e a movimentação das cenas são sempre bem estabelecidas e mesmo nos momentos que a câmera se movimenta ou treme em excesso, os acontecimentos jamais se tornam completamente incompreensíveis.
Marcados Para Morrer se revela, portanto, uma grata surpresa em sua mistura do gênero policial com a estética do falso documentário e se beneficia do uso dessa linguagem e da química entre seu elenco para retratar o cotidiano violento das ruas de Los Angeles.
Nota: 8/10
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