Os concursos públicos já se tornaram basicamente uma indústria própria no Brasil. A busca por um emprego estável e sem riscos de demissão atrai a maioria dos brasileiros e já imagino que no futuro “concurseiro” acabe se tornando uma profissão regulamentada, com direitos trabalhistas e carteira assinada, já que são tantos que rodam o Brasil fazendo provas em busca de um sonhado cargo público.
O que nos leva a este O Concurso que nos apresenta a quatro candidatos a um concurso público de juiz federal que, sabendo da dificuldade em passar, decidem conseguir o gabarito da prova. Mas este é menos um filme sobre concursos e mais sobre como ele afeta as pessoas ao redor do país, o problema é que o filme faz isso recorrendo aos estereótipos mais rasteiros possíveis, beirando o preconceito. Rogério (Fábio Porchat) é um gaúcho de educação rígida e pose de machão, mas que provavelmente é um homossexual enrustido, Freitas (Anderson Di Rizzi) é um cearense cheio de crendices que carrega um monte de imagens de santos, orixás e sabe-se lá o que mais onde quer que vá e tem o comportamento guiado por rezas e superstições. Caio (Danton Mello) é o típico malandro carioca que sempre quer levar vantagem em cima dos outros e constantemente relativiza seus atos ilícitos. Por fim temos Bernandinho (Rodrigo Pandolfo) o típico paulista do interior tímido e ingênuo.
O fato dos personagens se referirem uns aos outros como “carioca” ou “gaúcho” serve para reforçar a noção de que o filme realmente que validar e reafirmar esses estereótipos, generalizando os personagens como representantes essenciais e verídicos dos habitantes de sua região, revelando sua natureza estúpida e preconceituosa. O problema não é apenas reproduzir preconceitos, mas também fazer isso usando piadas mais batidas que o Fórmula 1 do Felipe Massa, como o momento em que um personagem sai do armário ao ouvir I Will Survive de Gloria Gaynor.
Outro problema é o modo como o filme subestima a inteligência do espectador ao colocar efeitos sonoros engraçadinhos ao fim de cada piada, mesmo quando os sons nada têm a ver com a cena, servindo apenas para marcar o momento em que público deve rir, como se as pessoas não fossem inteligentes o bastante para perceber o momento da comédia, algo que já tinha mencionado no meu texto sobre o absolutamente pavoroso Giovanni Improtta. O filme até que tem alguns poucos momentos genuinamente inspirados quando investe no bizarro e no absurdo, em especial no tiroteio entre dois traficantes anões e a artista circense interpretada pela bela Sabrina Sato, mas os risos param por aí.
O Concurso é uma lamentável bricolagem de estereótipos rasos que incentivam o bairrismo e o preconceito ao invés de risos e os poucos momentos interessantes não bastam para compensar o humor raso e repetitivo do resto do filme.
Nota: 3/10
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