A primeira coisa que pensei ao ouvir que o diretor Baz Luhrmann iria dirigir uma versão do clássico romance O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald, fosse que o ele repetisse a excessiva pompa e melodrama do moroso e vazio Austrália (2008) e a esperança que o diretor encontrasse aqui a chance de voltar à boa forma de Romeu e Julieta(1996) e Moulin Rouge (2001). Pois bem, o filme não é uma coisa ou outra, mas fica no meio do caminho entre as dois extremos.
O filme se passa na Nova Iorque da década de 20 conta a história de Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), um milionário misterioso que ficou famoso por dar imensas e suntuosas festas em sua mansão. Tais extravagâncias chamam a atenção de seu vizinho, o humilde corretor da bolsa Nick (Tobey Maguire). Ao se aproximar dele, descobre que o ricaço fora apaixonado por sua prima Daisy (Carey Mulligan) e que suas festas eram uma tentativa de se reaproximar dela. Simpatizando com pureza da esperança de Gatsby em rever a amada, Nick o ajuda a se aproximar dela, mesmo sabendo do comportamento agressivo de seu marido, Tom (Joel Edgerton).
A estética e a estrutura do filme lembram um pouco Moulin Rouge, desde o começo com o logo do estúdio aparecendo em preto e branco e da moldura antiga que se abre para começar a narrativa, passando pelo uso de um narrador depressivo e amargurado que relata a história através de uma máquina de escrever, aqui na figura de Nick e representado por Christian (Ewan McGregor) no filme de 2001. O uso da narração é bastante problemático, soando redundante em alguns momentos, falando exatamente aquilo que vemos em cena, e repetitivo em outros, as informações sobre o passado de Gatsby, por exemplo são repetidas pelo menos duas vezes pelo narrador.
As festas e mansões são retratadas com enorme pompa pelo filme, soando quase que fantasiosas ou hiper-realistas, muitas vezes parecendo uma reciclagem de cenas não utilizadas em Moulin Rouge, tamanho é o ritmo e a coreografia daquilo que está em cena. Isso acaba destoando do caráter da própria narrativa e seus personagens. Claro, tudo isto é feito para transmitir a riqueza e o exagero da vida destas pessoas, mas o filme faz isso me modo incrivelmente forçado e desmedido.
Afinal, O Grande Gatsby é uma história sobre a sordidez da alta sociedade, sobre como eles disfarçavam com futilidades e frivolidades suas hipocrisias, preconceitos e desvios de caráter, assim, ao dar um tom glamourizado, exagerado e absurdo ao universo destes personagens, o filme nos afasta um pouco de seus dramas e conflitos. O uso abusivo de cenários digitais altamente artificiais acaba, também, contribuindo para isso.
Isso fica bastante evidente em uma cena logo no início do filme quando Tom discute com sua amante (Isla Fisher) e lhe dá um violento tapa. Nesse momento Baz Luhrmann emprega um slow motion e um giro de câmera que terminam por dar plasticidade e beleza a algo que deveria ser brutal e degradante, já que os outros personagens em cena, incluindo Nick, mostram-se chocados com o acontecido. Por outro lado, o uso de músicas contemporâneas (com artistas como Lana Del Rey e Florence and the Machine) na trilha sonora, funciona muito bem, servindo aos propósitos pretendidos e não chegando a soar deslocado ou estranho.
O principal mérito, no entanto, reside na performance de Leonardo DiCaprio como Gatsby, num trabalho maduro, seguro e carregado de pequenas nuances que enchem o personagem de vida e personalidade. É interessante perceber como sua ingenuidade e esperança escondem um profundo senso de inadequação e é bastante sutil e verossímil o desconforto dele na cena em que conhece Tom, o marido de sua amada pela primeira vez.
O exagero presente até então fica mais contido no terceiro ato conforme vão aumentando as tensões do triângulo amoroso formado por Gatsby, Daisy e Tom. O tom mais sóbrio ajuda a trazer de volta o peso dramático deixado de lado até então, sendo bastante feliz em encerrar a obra com a melancolia, sarcasmo e pessimismo que lhe é devido. Uma pena que aconteça já próximo ao fim do filme e que tenhamos sido submetidos a um teste de paciência de quase duas horas (o filme tem quase duas horas e meia) até chegar a este ponto.
O Grande Gatsby tem muita pompa e pouca circunstância. Se Baz Luhrmann tivesse o cuidado com a narrativa e com os personagens que ele teve com a dimensão estética, o resultado teria sido bem melhor, felizmente temos uma atuação extremamente competente de Leonardo DiCaprio para segurar a onda.
O Grande Gatsby tem muita pompa e pouca circunstância. Se Baz Luhrmann tivesse o cuidado com a narrativa e com os personagens que ele teve com a dimensão estética, o resultado teria sido bem melhor, felizmente temos uma atuação extremamente competente de Leonardo DiCaprio para segurar a onda.
Nota 6/10
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