sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Crítica - O Impossível

Os filmes-catástrofe normalmente se estruturam em volta de uma família ou um grupo de pessoas aparentemente comuns envolvidos em alguma situação de grande calamidade. O grande problema é que por focar nas cenas de destruição os personagens ficam sempre em segundo plano, recebendo um tratamento unidimensional, esvaziando a narrativa de significado. Felizmente este é um erro que O Impossível não comete, baseado na história real de uma família que sobreviveu ao tsunami que atingiu a costa da Tailândia no início de 2004.
 
Com isso, não quero dizer que não há espaço para as cenas de destruição e efeitos especiais. A cena da chegada da onda gigante é muito bem construída, começando com tremores, lufadas de vento, para então os personagens notarem o tsunami vindo na direção do hotel. Os efeitos especiais conseguem de maneira bastante eficiente retratar a devastação rápida e violenta causada pelo tsunami e os cenários retratam bem o caos do pós-desastre.
 
Mas como eu disse, o foco é mesmo nos personagens e sua luta pela sobrevivência e os atores são absolutamente competentes em retratar sua dor, medo e fragilidade. A dor da personagem Maria (Naomi Watts) é sentida a cada passo, a cada obstáculo duramente superado ao lado de Lucas, seu filho mais velho. É claro, há o mérito também da maquiagem que torna palatável os graves ferimentos da personagem, mas é na atuação de Watts que reside nossa apreensão por seu destino. Ewan McGregor também é bastante eficiente na pele de Henry, o marido, em especial na cena em que se desespera telefonar para um parente e contar que se separou da esposa na catástrofe. É apenas lamentável que a veterana atriz Geraldine Chaplin que entra em cena para dar uma dessas “lições de vida cifradas” no melhor estilo Sr Miyagi, diz umas duas frases para os dois filhos menores de Henry e depois some por completo.

Se o primeiro e segundo terços do filme funcionam muito bem, o mesmo não se pode dizer do último terço da obra que se transforma em um aborrecido jogo de gato e rato enquanto Henry tenta encontrar não apenas a mulher e o filho mais velho, como também descobre que os dois filhos mais novos foram levados do abrigo onde estavam para um local desconhecido. A partir deste momento o filme passa a investir em um clima rasteiro de suspense cheio de desencontros no último instante e movimentos rápidos de câmera para mostrar o quanto estão todos perdidos em confusos. Além disso, há também o investimento em alguns sustos gratuitos que nada acrescentam à experiência, em uma cena já próxima do final ouvimos um estrondo grave e logo em seguida um plano detalhe revela se tratar apenas de uma porta sendo fechada.
 
Logicamente, por se tratar de algo baseado em fatos reais é possível argumentar que essas coincidências de fato ocorreram, mas isso não significaria que o diretor Juan Antonio Bayona deveria representá-las de forma tão pedestre ou até mesmo modificá-las, afinal, apesar de baseado (com ênfase no baseado) em fatos reais, ainda se trata de um filme de ficção e não de uma reconstrução documental ou jornalística.
 
É uma pena, portanto, que este terceiro ato desvie tanto o foco do sentido e da mensagem que o filme queria passar, diluindo uma obra que era até então impecável, recorrendo a expedientes rasteiros e pra lá de óbvios, sem falar da desconfortável cena final que deixa a impressão de que a sobrevivência depende mais de privilégios financeiros do que do espírito de cooperação. No fim das contas, O Impossível é um daqueles melodramas que sempre pipocam em época de premiações, bem filmado, bem atuado e cheio de boas intenções, mas só isso.
 
Nota: 6/10

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