Depois de uma trilogia de filmes bem sucedida na década de 90 o analista de inteligência Jack Ryan passou alguns anos de molho até Hollywood resolver trazê-lo de volta em A Soma de Todos os Medos(2002), cujo resultado mediano acabou levando o personagem novamente ao ostracismo. Quase dez anos depois temos uma nova tentativa de devolvê-lo ao estrelato com este Operação Sombra: Jack Ryan.
A trama acompanha a primeira missão de Jack Ryan (Chris Pine) como analista de inteligência da CIA. Trabalhando disfarçado em uma empresa de auditoria de Wall Street o agente tem como incumbência encontrar movimentações financeiras suspeitas que possam levá-lo aos financiadores de atividades terroristas. Quando encontra fundos ocultos nas empresas do milionário Viktor Cherevin (Kenneth Branagh, que também dirige o filme), Ryan precisa ir até a Rússia para investigar uma conspiração que pode provocar o colapso da economia dos Estados Unidos ao mesmo tempo em que precisa ocultar sua profissão de sua namorada (Keira Knightley).
O filme consegue criar com competência um clima de incerteza e tensão, principalmente através das interações entre os personagens, cujos diálogos são tão calculados quanto movimentos em uma partida de xadrez, escolhendo com cuidado cada palavra para construir questionamentos, falsas informações e ameaças veladas para colocar seu antagonista em xeque. O ponto alto de tudo isso são os momentos divididos entre Ryan e Cherevin, no qual cada um tenta descobrir o que o outro sabe ao mesmo tempo em que tentam não permitir que descubram algo sobre si. Kenneth Branagh inclusive faz o vilão como um sujeito que se cobre com um manto de polidez e cultura para ocultar sua brutalidade implacável, transformando-o em um sujeito imprevisível e bastante ameaçador.
Uma pena que toda essa cuidadosa construção das falas se perca em meio a cenas de ação burocráticas e sem brilho que muitas vezes parecem diretamente saídas de outros filmes. A primeira luta do filme, por exemplo, parece reproduzir diretamente o prólogo de 007 Cassino Royale (2006), colocando Ryan para enfrentar um assassino dentro de um banheiro e afogando-o para vencer, bem similar ao primeiro assassinato de James Bond. Do mesmo modo as perseguições parecem saídas da trilogia Bourne adotando a mesma câmera tremida e movimentos vertiginosos, mas Branagh, um diretor famoso por adaptações de peças shakespearianas, parece não exibir o mesmo domínio de Paul Greengrass para lidar com esses recursos. Assim, o que deveria ser veloz, movimentado e dinâmico acaba sendo apenas bagunçado e confuso.
Na verdade a opção por privilegiar a ação parece em geral inadequada ao estilo do personagem. Quem viu outros filmes protagonizados por Ryan ou leu os romances de Tom Clancy percebe que ele é não é um homem de ação ou um combatente, mas um espião que lida com coleta de informações, resolvendo tudo com inteligência e finesse. Assim sendo, ao torná-lo um agente de campo o filme o transforma em um Bourne ou James Bond genérico, quando o clima de suas aventuras se assemelharia muito mais aos jogos de intriga de filmes como O Espião que Sabia Demais (2011) do que um blockbuster de ação.
Outro problema é que a trama progride de modo bastante corrido e acelerado ao longo dos poucos 100 minutos, deixando alguns furos pelo caminho e prejudicando a criação de expectativas ou suspense já que os planos dos vilões são rapidamente revelados, sem dar tempo ao público para ficar em dúvida sobre o que poderá acontecer ou formular suas próprias hipóteses.
Assim sendo, Operação Sombra: Jack Ryan acaba sendo mais derivativo e genérico do que deveria, beneficiado apenas pelos bons diálogos e elenco, servindo apenas como um breve passatempo simples e despretensioso, mas que poderia ter sido bem melhor.
Nota: 6/10
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