quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Crítica – Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos

A adolescência é um período marcado por uma constante sensação de inadequação, é um momento de passagem entre a infância e a vida adulta, cheio de incertezas, de momentos em que precisamos decidir quem somos, quem queremos ser e nosso lugar no mundo. Assim, não é estranho perceber que a ficção voltada para o público jovem e adolescente normalmente recorre a personagens que de repente se veem diante de mundos fantásticos, de uma realidade que outros desconhecem, normalmente com uma missão a cumprir, afinal, se eu me sinto constantemente inadequado à vida que levo, devo vir de outro universo e se constrói facilmente a identificação deste público com os heróis destas histórias.
Isto não é diferente neste Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos(baseado no livro homônimo). A história é centrada na jovem Clary Fray (Lily Collins) que começa a desenhar símbolos estranhos e ver coisas que outros não veem. Quando seres estranhos invadem sua casa e levam sua mãe, a garota se vê em um universo de anjos, demônios e outros seres fantásticos e descobre ser parte da linhagem dos “caçadores de sombra”, humanos com sangue angelical que se devotam a caçar demônios usando o poder de runas mágicas. Para reencontrar sua mãe, contará com a ajuda do caçador de sombras Jace (Jamie Campbell Bower) e Simon (Robert Sheehan), com quem desenvolve um inevitável triângulo amoroso.
A história se desenvolve de uma maneira quase que completamente igual aos filmes recentes do gênero. Clary descobre a relação de sua mãe com um antigo vilão que aparentemente está morto, mas nem tanto assim (qualquer semelhança entre Harry Potter e Voldemort é mera coincidência, ou não) e que sua mãe lhe roubara um poderoso artefato que pode mudar o equilíbrio da guerra entre caçadores e demônios. As poucas reviravoltas são bastante previsíveis, principalmente para qualquer um que tenha visto a primeira trilogia de Star Wars e a série Harry Potter.

A trama esquemática e previsível não seria exatamente um problema se ao menos tivéssemos personagens interessantes ou carismáticos como aconteceu no recente Percy Jackson e o Mar de Monstros. O roteiro e a direção diálogos excessivamente expositivos que explicam o tempo todo as “regras” do universo, além das condutas e sentimentos dos personagens, assim, muito é dito, mas pouco é sentido. A sensação é que estão todos ali reproduzindo falas ao invés de construírem personagens e muitas relações parecem acontecer por pura conveniência do roteiro. O triangulo amoroso soa forçado, principalmente após uma revelação (mas que talvez não seja) que ocorre no final e quando sobem os créditos me parece que esta possível negação da revelação parece um tolo estratagema para fazer esse conflito render mais do que deveria e gerar discussões entre fãs que certamente se dividirão entre #teamjace e #teamsimon.
O pior é que apesar do excesso de explicações, muitos elementos ainda ficam soltos e mal explicados, como o funcionamento das runas e dos portais. Claro, isso deve estar mais detalhado no livro, mas o filme deve se sustentar por conta própria permitindo àqueles que não o leram (como eu) uma compreensão completa, ao invés de parcial.
O mesmo acontece com algumas subtramas, que são sugeridas e deixadas pelo caminho, em um momento o filme nos mostra que Simon é mordido por um vampiro e vemos as marcas em seu pescoço, mas depois o filme jamais volta a tocar no assunto e não sabemos se ele foi curado, se ficou como está ou mesmo se ele irá se tornar um vampiro, já que ele não apresenta nenhum “sintoma” nesse sentido. Assim os vampiros deste universo devem ser os mais lentos da ficção recente, já que até os vampiros brilhosos de Crepúsculo(2008) transformavam muito mais rápido com suas mordidas.
A ação é competente, mas não traz nada de novo. Algumas armas e técnicas são até interessantes (o uso da música de Bach para identificar demônios é bem divertido), mas pouco exploradas. Aliás, é curioso que ao longo do filme Clary seja a única a usar suas runas mágicas para realizar grandes feitos como paralisar demônios ou mover objetos com a mente, enquanto que os demais apenas usam suas facas e armas.
Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos provavelmente agradará aos fãs do livro, mas tem muito pouco a oferecer aos não iniciados neste universo.
Nota: 4/10

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