sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Crítica - Os Miseráveis

Este Os Miseráveis, dirigido por Tom Hooper (O Discurso do Rei) não adapta diretamente o romance de Victor Hugo e sim o musical da Broadway baseado no romance. Assim sendo, aconselho de se manterem afastados do filme aqueles que têm dificuldade em comprar a ideia de ter pessoas cantando o tempo todo ao invés de falarem umas com as outras, já que se trata de exemplar bastante tradicional do gênero musical.
O filme se passa na França do século XIX e conta a história de Jean Valjean (Hugh Jackman) um homem que passou vinte anos preso por roubar um pedaço de pão e foge depois de receber sua liberdade condicional, passando a ser caçado pelo inspetor Javert (Russel Crowe). Anos passam e Valjean se torna prefeito de uma pequena cidade, mas, quando decide tomar conta da filha da trabalhadora Fantine (Anne Hathaway), acaba indo em direção ao seu perseguidor e à explosão de uma revolta popular em Paris.
É uma pena que uma história tão forte e com tanto potencial foi parar em mãos tão preguiçosas quanto às de Tom Hooper que, assim como fizera com em O Discurso do Rei(2010), parece estar dirigindo com o piloto automático ligado. Seus planos são quase sempre estáticos e pouco exploram a profundidade do campo. O registro dos atores (principalmente quando estão cantando) se dá primordialmente por primeiros planos e isso se torna bastante problemático quando mais de duas pessoas interagem ao mesmo tempo já que a montagem fica pulando rapidamente de um close para outro, não valorizando ou utilizando o espaço da cena ou mesmo outros aspectos da performance de seus atores que não seus rostos. A sensação é que ele posicionou as câmeras, fez a marcação dos atores e depois saiu para tomar um café enquanto a cena era rodada.

Isso se torna ainda pior nas cenas de batalha, nas quais há apenas closes de diferentes “segmentos” das multidões envolvidas, falhando em nos dar um contexto da cena e que percebamos com clareza que está aonde e interagindo com quem, sem falar de alguns problemas de continuidade. Uma das poucas cenas que realmente valoriza o espaço é a cômica canção do taverneiro interpretado por Sacha Baron-Cohen onde a câmera passeia pelo estabelecimento enquanto ele surrupia os bens de seus clientes.
O trabalho dos atores, por outro lado, é muito bom, com destaque para Anne Hathaway e o momento em que ela canta “I Dreamed a Dream”, a cena é toda em apenas uma tomada, sem corte, e vemos todo o desespero, solidão e arrependimento da personagem e também é um dos poucos momentos (talvez o único) em que a opção por filmar primordialmente em primeiro plano faz sentido. O restante do elenco também funciona, desde o Jean Valjean de Hugh Jackman, passando pelo inspetor interpretado por Russel Crowe. As canções, herdadas do musical da Broadway, são bastante eficientes e é difícil sair da sala de cinema sem uma delas na cabeça. É interessante, também, que o canto dos atores foi registrado durante a filmagem e não gravado antes ou depois para ser adicionado em pós-produção.
É uma pena, portanto, que a história atemporal de Victor Hugo e o bom elenco tenham recebido uma direção tão pedestre. Os Miseráveis tinha potencial para ser um grande filme, mas é de fato um filme apenas aceitável.
Nota: 6/10

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