quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Crítica – Se Puder…Dirija!

Análise Se Puder…Dirija!

Review Se Puder…Dirija!Sou fã do ator Luis Fernando Guimarães, principalmente por seu trabalho no humorístico TV Pirata, na série (e nos filmes) Os Normais e também em Minha Nada Mole Vida. Assim sendo, entrei na sala de cinema para ver este Se Puder…Dirija! com muita boa vontade e querendo realmente gostar do filme, mas nem nos meus piores pesadelos seria capaz de imaginar algo tão horrendo, estúpido, sem graça e constrangedor.
O pouco de trama que o filme tem diz respeito a João (Luis Fernando Guimarães) um manobrista de estacionamento particular e um pai relapso. Decidido a passar mais tempo com o filho, pede a esposa (Lavinia Vlasak) que o deixe com ele no dia seguinte, o problema é que João esqueceu que precisaria trabalhar. Para não quebrar a promessa e ao mesmo tempo não faltar ao trabalho, João decide “pegar emprestado” o carro de uma cliente para ir pegar o filho e voltar antes que o chefe perceba, obviamente tudo dá errado.
O filme investe em situações tão forçadas e gratuitas que é difícil achar qualquer uma delas engraçada, além disso, as cenas se alongam mais do que deveriam, passando de sem graça para aborrecidas e depois são resolvidas de um modo completamente gratuito, tornando aquilo que era sem graça e aborrecido em algo frustrante e irritante. É assim, na constante troca entre esses três estados de ânimo que o filme progride, eventualmente se transformando em um desejo quase que irrefreável de deixar a sala de cinema depois de umas duas ou três repetições deste ciclo e a quase certeza de que o filme não irá melhorar (e de fato não melhora).

Um claro exemplo é a cena em que dois ladrões tentam roubar o carro de João e se inicia um longo diálogo no qual João pede para que levem tudo, menos o carro, já que não é dele. O filme mostra o semáforo fechado abrir e depois fechar de novo enquanto que João continua a pedir e os ladrões continuam a insistir em levar o veículo (acho que nem o mais paciente ladrão do Rio de Janeiro agiria assim).
Quando finalmente os dois entram no carro temos outro longo diálogo, este claramente inspirado no clássico esquete Who’s in the First da dupla cômica Abbott e Costello, no qual os ladrões confundem o nome do filho de João com o do cachorro, os leves sorrisos (ênfase no leve) que surgem logo desaparecem quando o filme insiste na piada mais do que deveria e quando a situação não parece ter mais para onde correr, o cachorro de João solta um peido fedorento que obriga todos a descerem do carro. Ao descerem, os dois ladrões tem suas armas (de brinquedo, por sinal) vistas por dois policiais que passam na rua e os perseguem e, assim, num completo deus ex machina eles deixam o filme do mesmo modo gratuito como entraram e situação similar ocorre em praticamente todas as cenas do filme.
Além disso, o filme subestima a inteligência do espectador ao forçar a barra em muitas situações como o momento em que João toma um diurético por engano e já corre para urinar, quando qualquer pessoa com meio neurônio sabe que esse tipo de comprimido não tem efeito imediato. O mesmo ocorre com a subtrama envolvendo seu colega de trabalho vivido por Leandro Hassum, que finge passar mal para que seu chefe e a dona do carro, que é médica, não percebam a ausência de João e do carro. As caras de bocas de Hassum até que se esforçam para gerar risos, mas alongar isso durante todo o filme e querer nos convencer que uma médica manteria um paciente em uma cara UTI um dia inteiro mesmo depois de fazer todos os exames e não detectar nada é pedir muito da nossa boa vontade. Qual o sentido, também, de entubar (como ocorre ao fim do filme) um paciente cujos exames não revelaram nenhum tipo de problema de respiração? Claro, é comédia, é caricato, mas não precisa tratar o publico como idiota.
Luis Fernando Guimarães mantem aqui a mesma persona neurótica e verborrágica que fez sua fama, mas seu estilo é minado por uma direção e uma montagem sem qualquer timing cômico, que torna tudo mais lento e moroso quando devia conferir agilidade. O único momento em que o ator realmente funciona é um diálogo nonsense com um frentista de posto de gasolina.
O filme usa uma linguagem quase que televisiva, limitando-se, em geral, a planos médios e closes chapados, centralizados e, sem muito movimento. Pior, comete erros grosseiros de continuidade e encenação. Isso fica claro na cena em que o carro é rebocado com o ciclista interpretado por Reynaldo Gianecchini. João vê o reboque indo embora e corre para falar com a motorista, ela desce do caminhão e os dois conversam enquanto vemos o carro ao fundo, estático. De repente a câmera se movimenta para o lado e vemos o ciclista em pé ao lado de João sem que tenhamos visto ou ouvido qualquer movimentação dentro do carro, o sujeito simplesmente se materializa ali por mágica.
O tão alardeado 3D é provavelmente a coisa mais competente do filme, funcionando razoavelmente bem em criar a ilusão de tridimensionalidade embora o filme abuse, principalmente no início, do óbvio uso de objetos indo na direção da tela.
Se Puder…Dirija! é um filme arrastado, sem graça, aborrecido e frustrante, que subestima a inteligência do público e apresenta uma quantidade tão ínfima de momentos realmente engraçados, principalmente se contrapostos com os momentos de aborrecimento, que dificilmente vale a pena pagar o caro ingresso de uma sala 3D para vê-lo.
Nota: 1/10

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