quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Crítica - Trumbo: Lista Negra



A paranoia anticomunista e a pesada perseguição àqueles que exibiam qualquer proximidade desses ideais marcaram o período do pós segunda guerra e da guerra fria  nos Estados Unidos. Na época havia uma paranoia extrema em relação ao comunismo e qualquer um que demonstrasse partilhar deste pensamento era perseguido, preso e considerado um traidor. Isso aconteceu também em Hollywood, na qual muitos atores, diretores e roteiristas foram presos e proibidos de trabalhar por sua afiliação ao partido comunista, colocados na infame lista negra de Hollywood. Este Trumbo: Lista Negra conta a história de um desses profissionais, o roteirista Dalton Trumbo, responsável pelo texto de filmes como Spartacus (1960), que mesmo banido achou um modo de continuar trabalhando.

O filme começa em 1947, justamente quando os Estados Unidos começava a voltar suas atenções para a União Soviética e o comunismo passava a ser visto como uma ameaça ao "modo de vida americano". Trumbo (Bryan Cranston) e mais alguns colegas são intimados pelo congresso a dar explicações sobre seu envolvimento com o partido comunista e os sindicatos de profissionais do cinema, sendo ao fim presos apenas por sua ideologia, mesmo sem terem cometido crime algum. Depois de cumprir pena ele tenta voltar a Hollywood, mas seu nome está na infame lista negra e ele não consegue trabalhar. Assim, decide procurar estúdios de baixo escalão para oferecer seu trabalho por um valor menor e trabalhando sob pseudônimos.

Seu olhar sobre a negação de direitos básicos de cidadania e intolerância ideológica durante o auge da caça às bruxas do macartismo poderia ser tão interessante quanto aqueles trazidos Boa Noite e Boa Sorte (2005) e mesmo o recente Ponte dos Espiões (2015), mas em geral falha em engajar como deveria.

Em parte porque os vilões jamais soam como a ameaça que deveriam, já que o filme parece não conseguir se decidir entre retratá-los como antagonistas verdadeiramente malignos e ameaçadores ou se quer parodiá-los e reduzi-los a caricaturas por seus pontos de vista absurdos.

Assim, se em um momento a repórter Hedda Hopper (Helen Mirren) consegue intimidar o todo-poderoso produtor Louis B. Meyer (Richard Portnow) a demitir todos os funcionários com afiliações comunistas, no seguinte ela dá um discurso tão caricato sobre a ameaça comunista que só faltou dizer que eles devoram criancinhas e o mesmo pode ser dito de John Wayne (David James Elliott). Tudo bem que Wayne e Trumbo tem um ótimo embate ainda no início do filme, quando o roteirista o questiona o que de fato ele fez pelo país, mas em geral o diretor Jay Roach parece não saber se quer fazer deles uma ameaça crível ou se quer apenas expor eles ao ridículo.

Não ajuda também que o filme constantemente minimize o impacto dos problemas sobre o personagem, já que mal ele é preso e uma elipse já pula para sua soltura, mal ele começa a ter dificuldades para trabalhar e ser hostilizado pelos vizinhos e Trumbo já dá um jeito de resolver a situação, mal seu intenso regime de trabalho começa a causar problemas para a família e o filme já resolve tudo com um diálogo entre o protagonista e a esposa, Cleo (Diane Lane) e logo em seguida lá vai ele pedir desculpas e resolver tudo com a filha Nikki (Elle Fanning). Do mesmo modo, passa batido pelos problemas do roteirista com bebidas e abuso de anfetaminas, cujo uso é mostrado rapidamente em um plano detalhe e logo depois abandonado. Incomoda também as tentativas do filme em forçar a emotividade, como a cena da estreia de Spartacus que dá um close no olho marejado de Trumbo ao ver seu nome nos créditos do filme.

O que nos segura na obra é o ótimo trabalho do elenco, especialmente Bryan Cranston que consegue demonstrar a perspicácia e a paixão do roteirista em defender seus ideais, bem como o modo sutil como ele canaliza a dor e raiva que o personagem insiste em conter e não externar. Do mesmo modo, Louis C.K também consegue trazer intensidade e uma boa dose de cinismo ao seu Alen Hird. Helen Mirren, por sua vez, consegue tornar interessante uma personagem que em mãos menos hábeis cairia facilmente no exagero e Dean O'Gorman (o Fili da trilogia O Hobbit) surpreende com sua composição de Kirk Douglas (pai do Michael Douglas). Não é apenas por sua semelhança física com o ator, mas também pelo modo extremamente natural com o qual ele evoca o modo de falar e linguagem corporal de Douglas. Por outro lado, Diane Lane e Elle Fanning terminam desperdiçadas em papeis superficiais, já que o filme nunca dá espaço para desenvolver suas relações com Trumbo.

A subtrama envolvendo a luta de Kirk Douglas para ter Trumbo como roteirista de Spartacus, por sinal, é o melhor arco do filme, já que é quando temos a verdadeira dimensão das táticas do governo e dos artistas que defendiam "o modo americano" para sabotarem os seus opositores. Acerta também na reconstrução de época e não apenas em termos de cenários e figurinos, mas no modo como nos transmite o clima da Hollywood dá época, como esse meio funcionava e como era transitar por ele.

Assim sendo, Trumbo: Lista Negra se sustenta principalmente pela força de Bryan Cranston como protagonista, já que o tom inconsistente e o modo rápido como passa pelos conflitos acaba minando o potencial da obra.

Nota: 6/10

Trailer:
 

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