A
paranoia anticomunista e a pesada perseguição àqueles que exibiam qualquer
proximidade desses ideais marcaram o período do pós segunda guerra e da guerra
fria nos Estados Unidos. Na época havia
uma paranoia extrema em relação ao comunismo e qualquer um que demonstrasse
partilhar deste pensamento era perseguido, preso e considerado um traidor. Isso
aconteceu também em Hollywood, na qual muitos atores, diretores e roteiristas
foram presos e proibidos de trabalhar por sua afiliação ao partido comunista, colocados
na infame lista negra de Hollywood. Este Trumbo:
Lista Negra conta a história de um desses profissionais, o roteirista
Dalton Trumbo, responsável pelo texto de filmes como Spartacus (1960), que mesmo banido achou um modo de continuar
trabalhando.
O
filme começa em 1947, justamente quando os Estados Unidos começava a voltar
suas atenções para a União Soviética e o comunismo passava a ser visto como uma
ameaça ao "modo de vida americano". Trumbo (Bryan Cranston) e mais
alguns colegas são intimados pelo congresso a dar explicações sobre seu
envolvimento com o partido comunista e os sindicatos de profissionais do
cinema, sendo ao fim presos apenas por sua ideologia, mesmo sem terem cometido
crime algum. Depois de cumprir pena ele tenta voltar a Hollywood, mas seu nome
está na infame lista negra e ele não consegue trabalhar. Assim, decide procurar
estúdios de baixo escalão para oferecer seu trabalho por um valor menor e
trabalhando sob pseudônimos.
Seu
olhar sobre a negação de direitos básicos de cidadania e intolerância
ideológica durante o auge da caça às bruxas do macartismo poderia ser tão
interessante quanto aqueles trazidos Boa
Noite e Boa Sorte (2005) e mesmo o recente Ponte dos Espiões (2015), mas em geral falha em engajar como
deveria.
Em
parte porque os vilões jamais soam como a ameaça que deveriam, já que o filme
parece não conseguir se decidir entre retratá-los como antagonistas
verdadeiramente malignos e ameaçadores ou se quer parodiá-los e reduzi-los a
caricaturas por seus pontos de vista absurdos.
Assim,
se em um momento a repórter Hedda Hopper (Helen Mirren) consegue intimidar o
todo-poderoso produtor Louis B. Meyer (Richard Portnow) a demitir todos os
funcionários com afiliações comunistas, no seguinte ela dá um discurso tão
caricato sobre a ameaça comunista que só faltou dizer que eles devoram
criancinhas e o mesmo pode ser dito de John Wayne (David James Elliott). Tudo
bem que Wayne e Trumbo tem um ótimo embate ainda no início do filme, quando o
roteirista o questiona o que de fato ele fez pelo país, mas em geral o diretor
Jay Roach parece não saber se quer fazer deles uma ameaça crível ou se quer
apenas expor eles ao ridículo.
Não
ajuda também que o filme constantemente minimize o impacto dos problemas sobre
o personagem, já que mal ele é preso e uma elipse já pula para sua soltura, mal
ele começa a ter dificuldades para trabalhar e ser hostilizado pelos vizinhos e
Trumbo já dá um jeito de resolver a situação, mal seu intenso regime de
trabalho começa a causar problemas para a família e o filme já resolve tudo com
um diálogo entre o protagonista e a esposa, Cleo (Diane Lane) e logo em seguida
lá vai ele pedir desculpas e resolver tudo com a filha Nikki (Elle Fanning). Do
mesmo modo, passa batido pelos problemas do roteirista com bebidas e abuso de
anfetaminas, cujo uso é mostrado rapidamente em um plano detalhe e logo depois
abandonado. Incomoda também as tentativas do filme em forçar a emotividade,
como a cena da estreia de Spartacus que dá um close no olho marejado de Trumbo ao ver seu nome nos créditos do
filme.
O
que nos segura na obra é o ótimo trabalho do elenco, especialmente Bryan
Cranston que consegue demonstrar a perspicácia e a paixão do roteirista em
defender seus ideais, bem como o modo sutil como ele canaliza a dor e raiva que
o personagem insiste em conter e não externar. Do mesmo modo, Louis C.K também
consegue trazer intensidade e uma boa dose de cinismo ao seu Alen Hird. Helen
Mirren, por sua vez, consegue tornar interessante uma personagem que em mãos
menos hábeis cairia facilmente no exagero e Dean O'Gorman (o Fili da trilogia O Hobbit) surpreende com sua composição
de Kirk Douglas (pai do Michael Douglas). Não é apenas por sua semelhança
física com o ator, mas também pelo modo extremamente natural com o qual ele
evoca o modo de falar e linguagem corporal de Douglas. Por outro lado, Diane
Lane e Elle Fanning terminam desperdiçadas em papeis superficiais, já que o
filme nunca dá espaço para desenvolver suas relações com Trumbo.
A
subtrama envolvendo a luta de Kirk Douglas para ter Trumbo como roteirista de Spartacus, por sinal, é o melhor arco do
filme, já que é quando temos a verdadeira dimensão das táticas do governo e dos
artistas que defendiam "o modo americano" para sabotarem os seus
opositores. Acerta também na reconstrução de época e não apenas em termos de
cenários e figurinos, mas no modo como nos transmite o clima da Hollywood dá
época, como esse meio funcionava e como era transitar por ele.
Assim
sendo, Trumbo: Lista Negra se
sustenta principalmente pela força de Bryan Cranston como protagonista, já que
o tom inconsistente e o modo rápido como passa pelos conflitos acaba minando o
potencial da obra.
Nota: 6/10
Trailer:
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