quinta-feira, 4 de julho de 2013

Crítica – Truque de Mestre

Lembro claramente da minha sensação ao ver o trailer deste Truque de Mestre pela primeira. A premissa de mágica e roubo, uma mistura de O Grande Truque (2006) com Onze Homens e um Segredo (2002), parecia promissora e o filme ainda contava com um elenco competente. Então o trailer foi chegando ao fim e vi que Louis Laterrier assinava o filme e minha empolgação se tornou desânimo, afinal trata-se do sujeito que construiu uma carreira em cima de filmes insossos como Carga Explosiva 2 (2005), O Incrível Hulk (2008) e o terrívelFúria de Titãs (2010). Infelizmente meus temores se confirmaram e o filme é apenas uma repetição sem graça daquilo que já vimos (e melhor) em vários outros filmes.
A trama acompanha Daniel (Jesse Eisenberg), Merrit (Woody Harrelson), Henley (Isla Fisher) e Jack (Dave Franco), mágicos de rua que um dia recebem um convite misterioso para um apartamento decadente em Nova Iorque. Lá encontram diagramas e especificações para uma série de surpreendentes truques de mágica com potencial para faturarem uma larga soma de dinheiro. Um ano depois eles começam a colocar os truques em prática e são caçados pelos agentes Rhodes (Mark Ruffalo) e Dray (Melanie Laurent) e pelo ex-mágico Thaddeus (Morgan Freeman), um especialista em revelar os truques de outros ilusionistas, uma espécie de Mister M com voz de Cid Moreira.
O filme tenta tratar de temas como a natureza enganadora e dual da mágica e da necessidade de acreditar em algo extraordinário e sobrenatural e das rivalidades exacerbadas que nascem neste meio. Nada disso é exatamente novidade, já tendo sido tratado em filmes como O Ilusionista (2006) e o próprio O Grande Truque, mas diante da comparação Truque de Mestre empalidece pela sua superficialidade, não acrescentando nada ao que as obras anteriores já falaram nem ambiciona lançar um novo olhar sobre essas questões.

Os personagens são um amontoado de clichês unidimensionais praticamente incapazes de despertar qualquer simpatia do público, tanto que quando um dos protagonistas é aparentemente morto, não há qualquer tipo de choque ou tristeza, apenas apatia. O fato dos atores trabalharem no piloto automático também não contribui para somar carisma a tipos tão rasos. Jesse Eisenberg, por exemplo, parece apenas repetir preguiçosamente os trejeitos e dicção de seu Mark Zuckerberg (com o acréscimo de uma tosca barbicha) de A Rede Social (2010).  Além disso, algumas relações se desenvolvem por pura conveniência do roteiro, em especial o envolvimento amoroso entre Rhodes e Dray que soa forçado e gratuito. O único ponto positivo neste aspecto fica por conta do mentalista interpretado por Woody Harrelson que, como de costume, consegue fazer a própria canastrice soar divertida.
O roteiro se julga mais inteligente do que realmente é e praticamente todas as reviravoltas são claramente entregues pelo próprio filme e facilmente previsíveis com muita antecedência. Assim, quando Merrit hipnotiza um grupo de pessoas para que ataquem a primeira pessoa que gritar “parado!”, sabemos desde já que irão para cima dos agentes do FBI, do mesmo modo, quando recebemos a informação sobre os braceletes localizadores usados pelos mágicos, sabemos que o recurso será utilizado para confundir e distrair as autoridades. Sem mencionar que a fala de Thaddeus no início do filme quando ele lembra de um promissor e desaparecido mágico cuja carreira destruiu já indica que este sujeito será a peça chave para a resolução do mistério. O personagem de Morgan Freeman serve inclusive para personificar a empáfia do filme e o quanto ele subestima a inteligência e capacidade de entendimento do público ao colocar o personagem como uma figura meramente expositiva, que o tempo todo explica os acontecimentos da trama e narra exatamente o que estamos vendo, como se fossemos incapazes de compreender tudo aquilo.
Igualmente preguiçosa é a direção do filme e todas as suas escolhas de encenação. Já na primeira cena vemos um close nas mãos de Daniel enquanto ele realiza alguns truques com cartas de baralho, a ação discorre de modo truncado, cheia de cortes e descontinuidades, sendo que a cena poderia ser filmada de maneira continua e sem cortes, acrescentando verossimilhança e ressaltando as habilidades dos personagens. Além do excesso de cortes há um uso excessivo dos recursos de computação gráfica que nos afastam das façanhas dos personagens, já que os vemos atuando para o vazio ao invés de termos a impressão de algo cuidadosamente bem engendrado.
Claro, efeitos mecânicos seriam mais difíceis e demorados de realizar, mas certamente valeriam a pena e agregariam valor à encenação do filme sem precisar preguiçosamente encher tudo de efeitos computadorizados, afinal se os grandes mágicos trabalham com efeitos mecânicos, será que as enormes equipes técnicas hollywoodianas não seriam capazes de fazê-lo? O uso abusivo de truques de perspectiva, montagem e computação gráfica é um ato displicente e desonesto. Mesmo descontando esse aspecto, os truques não são exatamente criativos ou surpreendentes, apenas a luta entre Jack e Rhodes usa de modo inovador e empolgante as possibilidades da mágica em um embate corporal.
Truque de Mestre é um desperdício de uma boa premissa e um bom elenco, com um roteiro melhor e um realizador mais competente no comando poderiam conferir mais energia e encantamento, mas nas mãos de um operário-padrão como Laterrier, o resultado é este suspense genérico. Não chega a incomodar ao ponto de considerá-lo ruim, mas tampouco se esforça para ser minimamente bom.
Nota: 5/10

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