quinta-feira, 25 de julho de 2013

Crítica – Wolverine: Imortal

Resenha Wolverine: Imortal
Depois do incrivelmente equivocado X-Men Origens: Wolverine (2009) era difícil botar fé que este Wolverine: Imortal seria capaz de entregar uma aventura digna do raivoso mutante indestrutível, mas a verdade é que o filme é bastante competente e de fato é o filme do Wolverine que se esperava desde a primeira aventura solo do personagem.
O filme é levemente baseado no arco dos quadrinhos Eu, Wolverine de Frank Miller e Chris Claremont, mas se situa no universo cinematográfico já estabelecido dos X-Men. A trama começa depois dos eventos ocorridos em X-Men: O Confronto Final (2006) com Logan (Hugh Jackman) morando sozinho nas montanhas canadenses enquanto lida com a dor e o arrependimento pela morte de Jean Grey (Famke Janssen). Tudo muda quando a misteriosa Yukio (Rila Fukushima) aparece e lhe pede que vá ao Japão visitar o moribundo Yashida (Hal Yamanouchi), um homem cuja vida Wolverine salvou durante a Segunda Guerra Mundial e hoje é um rico industrial. Durante a visita Logan conhece a bela Mariko (Tao Okamoto), neta do empresário, e se vê no meio de uma disputa sombria entre a yakuza, a máfia japonesa, e um milenar clã ninja pelo controle das indústrias Yashida.
Por este breve resumo já dá para ver que o filme não traz exatamente uma história típica dos recentes filmes de super-heróis e está mais para um filme de James Bond. Assim, percebemos que ao contrário do péssimo filme anterior Wolverine: Imortal não é coalhado de mutantes e personagens secundários que diluem e tiram o foco da narrativa, aqui não perdemos tempo com participações feitas meramente para agradar fãs ou com personagens que aparecem para construir um “universo compartilhado” entre diferentes filmes e isso por si só já é um mérito. A obra é completamente focada no personagem e no desenvolvimento de seu arco narrativo. Referências a eventos anteriores pipocam aqui e ali, mas mesmo quem não viu nenhum dos filmes dos X-Men pode assistir a este filme sem grandes perdas.

É interessante como o filme usa as próprias habilidades do personagem como fonte de sua angústia. Wolverine é um personagem em conflito consigo mesmo não apenas pela sua condição imortal que o afasta de todos aqueles que ama e lhe deixa somente com memórias, mas também com sua própria índole selvagem e tudo que fez durante sua vida.
A direção competente e classuda de James Mangold (Os IndomáveisJohnny & June) trabalha com eficiência para reiterar a condição do personagem. É interessante o paralelo entre o urso envenenado por caçadores no início do filme com o que acontece com Wolverine, assim como o animal, o mutante também libera sua ferocidade reprimida ao perceber que está acuado e debilitado, a rima temática se completa no terceiro ato do filme quando Logan é atingido por sucessivas flechas e vai ao chão ficando no mesmo posicionamento do urso.
Do mesmo modo, a ideia de Wolverine perder seu fator de cura serve como um reflexo físico e sintomático, além de um paralelo temático, do seu estado mental, já que ele se mostra incapaz de “se curar” das feridas emocionais da morte de Jean Grey e todas as outras coisas que já fez. Assim não é nenhuma surpresa que a superação deste obstáculo físico ocorra quase que simultaneamente ao momento em que Logan abraça sua fera interior no confronto com Shingen (Hiroyuki Sanada) e o diálogo que eles trocam ao fim da luta. Seu desejo de morte é sugerido de modo implícito em uma cena com Mariko, na qual ela explica que posicionar os hashis (os famosos “pauzinhos” que os japoneses usam para comer) na vertical é um presságio de morte e os coloca na horizontal, mas logo depois eles são reposicionados na vertical, como se o personagem demonstrasse que realmente quer atrair a morte.
Hugh Jackman continua bastante confortável e competente no papel, mesmo sendo a sexta vez (contabilizo aqui a pequena ponta em X-Men: Primeira Classe) que interpreta o personagem e como o espaço aqui é todo ele, o ator tem liberdade para trabalhar todas as nuances do mutante, desde sua personalidade enfezada e mal-humorada ao seu lado mais angustiado e sofrido.
As cenas de ação retratam bem a selvageria e violência do personagem, em especial o confronto com ayakuza no início do filme e a luta a bordo de um trem bala. A falta de sangue pode incomodar alguns, pois tira um pouco da verossimilhança de vermos dezenas de pessoas fatiadas pelas garras do personagem, mas é uma decisão muito mais executiva que artística, já que o sangue em profusão aumentaria a censura do filme. James Mangold já anunciou que fará uma “versão do diretor” para o lançamento em DVD e Blu-ray que certamente agradará os fãs mais ávidos por sanguinolência. Já que falei em visual, o 3D convertido apresentado pelo filme é praticamente nulo e não acrescenta nada ao filme.
É uma pena, portanto, que o filme apresente vilões tão rasos e caricatos quanto os que aparecem no terceiro ato. Claro, o embate final com o Samurai de Prata é muito bom, mas toda a motivação por trás do vilão e todo o seu plano parecem algo saído de um desenho animado. Por outro lado, o foco é mesmo o Wolverine e os vilões funcionam para realizar a progressão dramática do personagem, então não chegam a incomodar tanto.
Wolverine: Imortal é uma grata surpresa e entrega uma ótima aventura, mostrando que o mutante indestrutível tem sim força para segurar um filme sem seus companheiros dos X-Men.
Nota: 7/10
Obs: Há uma cena no meio dos créditos que liga o filme diretamente ao vindouro X-Men: Dias de um Futuro Esquecido.

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