quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Crítica - A Menina Que Roubava Livros

Filmes sobre o Holocausto ou a vida na Alemanha nazista são quase que um gênero em si mesmo, praticamente todo ano, em especial próximo à temporada de premiação, uma ou mais produções com estas características chegam aos cinemas. Muitas delas são bastante esclarecedoras, provocadoras e inspiradoras, mas outras são apenas produtos derivativos feitos para explorar a sensibilidade que esta temática faz aflorar e tentar amealhar indicações a Oscar, Globo de Ouro e similares, na tentativa de aumentar a visibilidade e arrecadação. Este A Menina que Roubava Livros, inspirado no best-seller de Markus Zuzak (que não li) tinha tudo para estar na primeira categoria, mas infelizmente caiu na segunda.
A trama acompanha Liesel (Sophie Nelisse) uma garota que é mandada para viver na Alemanha nazista sob a tutela de uma família adotiva durante o período em que eclode a segunda guerra mundial. Para lidar com suas dificuldades, a jovem se foca na literatura e passa a ser ajudada por Hans (Geoffrey Rush), seu pai adotivo, em seus esforços de leitura e começa a roubar livros da casa do prefeito local para aprender mais.
Tudo isso oferecia um olhar muito interessante sobre a importância da palavra e das ideias e de como elas sobrevivem e instigam temor mesmo em um ambiente altamente bruto e truculento como a Alemanha nazista e as queimas de livros representam exatamente esse ato de violência simbólica intolerante contra tudo aquilo que é diferente e que desafia suas crenças.

Entretanto, depois da metade do filme toda a questão da literatura e discussões sobre a força das palavras e ideias são deixadas de lado para que o filme se torna uma convencional história de sobrevivência durante a Segunda Guerra. Não que o evento deva ser subestimado ou menosprezado, as práticas do governo nazista revelam aquilo que há de pior na natureza humana e para que coisas assim jamais ocorram novamente não podemos nos dar ao luxo de nos esquecer e nos confrontar com este capítulo tão terrível da nossa história.
A questão é que o filme abandona tudo aquilo que o tornaria único para se tornar completamente genérico tratando de situações que já foram tratadas (e com grande competência) em inúmeros outros filmes sobre tema, como a visão ingênua de uma criança sobre a guerra, a dificuldade dos judeus para sobreviverem ao extermínio ou o desespero dos cidadãos alemães diante dos bombardeios aéreos que constantemente atingiam alvos civis. Não é a repetição pura e simples que incomoda, mas que o filme em nenhum momento se arrisca em trazer qualquer tipo de nova abordagem, foco ou mesmo usos estilísticos da linguagem do cinema para tratar essas situações e assim a experiência de assistir A Menina que Roubava Livros, apesar dos cuidados e da competência com a reconstrução da época, acaba se tornando um incômodo déjà vu.
Outro problema diz respeito ao uso equivocado do recurso da narração em off. Tudo bem que a voz da Morte (Roger Allam) está presente no livro, mas aqui se limita a dizer exatamente aquilo que as imagens nos mostram, como fica patente no momento em que Max (Ben Schnetzer) precisa deixar sua mãe e a narração nos diz que ele lamentava ter de deixá-la, algo visível na expressão do personagem. Deste modo, a narração torna-se um recurso aborrecido, redundante e fundamentalmente inútil. O excesso de exposição e didatismo também se vê em muitos dos diálogos, em uma cena Max pede que Liesel lhe descreva com detalhes como está o céu e depois de ouvi-la, fecha os olhos e dá um sorriso de satisfação, deixando clara sua visualização imaginária da paisagem descrita, mas toda sutileza do momento é imediatamente defenestrada quando ele fala logo em seguida “eu vi isso”.
Apesar de tudo isso, temos performances seguras do elenco, desde Geoffrey Rush que interpreta um sujeito excêntrico, contestador e cheio de ternura, bem como Emily Watson como Rosa, uma mulher que esconde grande dose se compaixão sob sua fachada rígida. As duas crianças principais, Sophie Nelisse e o garoto Nico Liersch, que vive Rudy, também apresentam performances encantadoras e uma dinâmica bastante natural, sendo difícil não se envolver na última cena entre os dois.
A Menina que Roubava Livros tem alguns bons elementos, mas é tão acomodado e preso aos lugares-comuns deste tipo de filme que, não fosse o elenco, mal conseguiria ser uma experiência minimante satisfatória
Nota: 5/10

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