quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Crítica - Boa Noite, Mamãe



Dois irmãos gêmeos (Lukas e Elias Schwartz) veem a mãe (Susanne Wuest) retornar para casa depois de um acidente. Por causa do acidente, sua mãe está com o rosto completamente enfaixado e parece falar e agir diferente do que as duas crianças esperam dela. Aos poucos, a dupla começa a achar que há algo errado com a mãe deles e decidem tomar as rédeas da situação. Aos poucos, no entanto, as soluções encontradas pelos garotos começam a soar drásticas demais.

Quando eu falei sobre o ótimo Corrente do Mal, escrevi que um dos motivos da criatura ser tão ameaçadora é o fato de sabermos muito pouco sobre o que é exatamente "a coisa". O uso do desconhecido é um dos motivos pelos quais o austríaco Boa Noite, Mamãe acaba funcionando tão bem. O filme sempre nos deixa incertos quanto à natureza real da ameaça que estamos enfrentando, há algo errado com a mãe? Há algo errado com as crianças? Quem no fim das contas está ameaçando quem?

Até que as coisas atinjam o caos violento do terceiro, o filme consegue criar com eficiência um clima insuportável de medo quase que inteiramente baseado no fato de que não sabemos o que está acontecendo exatamente com aquelas pessoas. Isso, claro, sem mencionar na inquietante violência gráfica que o filme nos mostra em seu terceiro ato. Dar detalhes estragaria a experiência, mas devo dizer que várias vezes me senti agoniado e travei meus dedos na poltrona diante de certos atos de crueldade.

Este, no entanto, não é um mero slasher e até que as coisas percam o controle, o filme vai calmamente construindo essa tensão, dando aos poucos os indícios de que nem a mãe nem as crianças estão em seu melhor estado. A sensação de pavor é ampliada pelo uso que o filme faz de seus ambientes, em especial a casa que a família habita, cujos ambientes brancos evocam uma assepsia estéril, mas as pinturas parecem sombras macabras prontas para saltarem da parede e as máscaras e esculturas soam igualmente medonhas. Ao mesmo tempo, a ausência de fotos da família contribui para que percebamos a desconexão entre os personagens e a impressão de que há algo grave entre eles que não sabemos.

Os dois garotos conseguem evocar muito bem a comunicabilidade quase que telepática entre os dois irmãos, mas também conseguem evidenciar as personalidades distintas de cada um, permitindo que um espectador atento consiga discernir quem é quem. Susanne Wuest é igualmente competente, principalmente no modo ambíguo como constrói sua personagem, constantemente nos fazendo indagar se ela é uma vítima ou uma algoz.

Assim sendo, Boa Noite, Mamãe se revela um terror altamente eficiente, nos apresentado uma história sombria, violenta e cheia de pavor.

Nota: 8/10

Trailer:

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