Filmes sobre o holocausto ou a realidade nos campos de concentração já foram feitos aos montes e chego a desconfiar que não há muito que possa ser acrescentado aos discursos já existentes sobre o tema. Não que a relevância de se falar sobre isso tenha se esgotado, mas que existem poucas possibilidades de contar uma história ficcional acerca disso e dar ao público algo que eles nunca viram antes. Este O Filho de Saul certamente não faz isso e toca em muitas questões que já vimos em uma série de outras produções, mas o importante nele nem é sobre o que ele é, mas como ele é ao tratar disso.
O
filme acompanha Saul (Geza Rohrig) um judeu húngaro que vive em um campo de
concentração com um sonderkommando. Estes eram uma categoria diferente de
prisioneiro que trabalhava sob ordens dos oficiais nazistas executando os
trabalhos que os alemães consideravam indignos ou inferiores, como limpar as
câmaras de gás ou enterrar os prisioneiros mortos. Para manter o sigilo sobre
as operações de extermínio os sonderkommandos eram mantidos em isolamento dos
outros presos e eram substituídos de tempos em tempos, com os antigos membros
sendo executados e prisioneiros recém chegados sendo colocados na função.
Como
eu já disse, não há exatamente nada de novo sobre as condições desumanas e o
tratamento brutal que recebiam os prisioneiros neste lugar, o que nos prende é
o modo como ele constrói este relato. O filme se apoia em longos planos
sequência, sempre acompanhando o protagonista com a câmera na mão, praticamente
nos colocando para andar ao lado dele.
Assim,
não somos apenas espectadores dessa história, somos cúmplices do protagonista,
estamos ali ao seu lado o tempo inteiro, vivendo com ele tudo que ele vive.
Como Saul é filmado quase sempre em planos próximos e que mantêm o foco nele
enquanto deixam todo o resto desfocado, temos a claustrofóbica sensação de
estarmos tão presos quanto ele, vivendo ali aqueles horrores incessantes cujo
impacto e intensidade é ampliado graças à longa duração dos planos que faz tudo
parecer que nunca vai acabar.
Não
é uma experiência fácil, já que em muitos momentos a tensão e a angústia vão
tornar tudo insuportável e você vai desejar poder sair dali ou pelo menos ter um momento de respiro de toda aquela desumanidade. O filme não vai te dar
isso, vai te manter ao lado do protagonista e vivenciando sem parar, sem alento
e sem descanso o pior da conduta humana. É um potente experimento de
alteridade, que não tem reservas de em nos manter presos em uma situação
terrível e sem saída na tentativa de reconstruir para nós, dadas as devidas
proporções claro, os sentimentos experimentados por aquelas pessoas.
Em
cena durante praticamente todo o filme, o ator Geza Rohrig faz de Saul um homem
que sabe que já está morto e assim, permanece impassível diante das coisas
horríveis que vê ou das humilhações que sofre. Mantendo sempre a cabeça baixa e
evitando fazer contato visual, ele é praticamente um morto-vivo, que apenas
anda e se move, mas parece não conseguir sentir ou demonstrar nada por ter se
resignado a essa posição de coisa, de não humano, por saber que não há mais
nada a ser feito.
Deste
modo, O Filho de Saul se mostra uma
experiência implacável e desoladora de um dos piores momentos da humanidade.
Nota:
9/10
Trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário