quarta-feira, 2 de março de 2016

Crítica - Agente Carter: 2ª Temporada



A primeira temporada de Agente Carter parecia ser apenas um tapa-buracos para cobrir o hiato de Agents of S.H.I.E.L.D, mas me pegou de surpresa ao trazer uma aventura bem conduzida que contribuía para o desenvolvimento de uma personagem promissora que teve pouco espaço nos filmes e também ampliava o escopo do universo Marvel no cinema e na televisão ao nos mostrar as consequências do primeiro filme do Capitão América. Esta segunda temporada, no entanto, teve pouco a acrescentar ao desenvolvimento de Peggy Carter (Hayley Atwell) ou ao próprio universo compartilhado. Logicamente, o texto a seguir tem vários SPOILERS da atual temporada.

A nova temporada começa com um mistério digno de Arquivo X, com Peggy indo a Los Angeles investigar um corpo encontrado em um lago misteriosamente congelado. A busca a coloca diante de uma conspiração comandada pelos poderosos da cidade e também da ambiciosa Whitney Frost (Wynn Everett) uma atriz de cinema que também é uma brilhante cientista. Frost descobriu uma matriz energética poderosa na instável substância negra chamada de "matéria zero" e ao ser "infectada" pela substância Frost se torna obcecada em obter mais de seu poder. Assim, Peggy corre contra o tempo para detê-la, tendo novamente o auxílio de Edwin Jarvis (James D'Arcy), mordomo de Howard Stark (Dominic Cooper).

Hayley Atwell continua uma ótima heroína de ação como Peggy, uma personagem forte que jamais aceita se resignar ao papel subalterno ao qual as mulheres de sua época eram relegadas e está sempre no controle da situação e um passo a frente de seus colegas de trabalho. Ela e James D'Arcy continuam tendo uma boa química juntos, desenvolvendo uma amizade bastante sincera entre Peggy e Jarvis.

Jarvis, por sinal, consegue mostrar um pouco mais do que seu lado cômico e nos revela uma faceta mais séria ao partir em busca de vingança quando sua esposa Ana (Lotte Verbeek) é ferida em um ataque dos vilões. Dominic Cooper, por sua vez, continua bastante divertido como o jovem Howard Stark e protagoniza alguns dos momentos mais engraçados da temporada, além de ter uma dinâmica bastante natural com Peggy e Jarvis.

Já Whitney Frost começa a temporada como uma vilã interessante, alguém que como Peggy é uma mulher à frente do seu tempo, mas que não conseguiu viver de acordo com seu potencial por causa da estrutura machista da sociedade de sua época, sendo obrigada a se contentar em ser literalmente apenas um rosto bonito.

A questão é que conforme a temporada avança a personagem vai se diluindo em uma vilã genérica com um plano padrão de obtenção de poder e destruição em larga escala. Claro, ela é uma antagonista imponente e intimidadora, algo que fica claro no modo como ela consegue assustar até mesmo a inescrutável Viúva Negra Dottie Underwood (Bridget Regan). Tudo bem que ela ainda pode voltar à série e assumir sua identidade dos quadrinhos como Madame Máscara, mas o que foi mostrado nesta temporada ficou abaixo de seu potencial. O mesmo acontece com o cientista Jason Wilkes (Reggie Austin) que inicia a temporada engatando um romance com Peggy e chamando atenção para o racismo da época, mas depois fica com pouco a fazer e acaba perdendo espaço.

Falando em Dottie, é interessante perceber como seus movimentos, em especial em combate, são similares aos de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), demonstrando a coesão do universo Marvel, e até mesmo a cena dela sendo interrogada por Vernon (Kurtwood Smith) soa reminiscente da cena de Natasha com os mafiosos russos no primeiro Vingadores (2012). Aqui e ali temos outras pequenas piscadelas para o universo Marvel, como o retorno do carro voador de Howard, que apareceu no primeiro filme do Capitão América, e sua breve menção às terras que possui em Malibu e futuramente serviriam de moradia para Tony Stark (Robert Downey Jr).

O confronto final com Whitney, no entanto, foi bastante decepcionante. Para alguém que passou a temporada inteira sendo construída como uma antagonista poderosa, ela foi derrotada no último episódio com tanta facilidade que chega a soar anticlimático. Além disso, apesar de bons momentos como o mistério inicial ou a aliança entre Peggy e Dottie para resgatar Jason, no geral não há uma sensação de vimos Peggy realmente progredir como personagem ou ficar mais perto de sua inevitável função como fundadora da S.H.I.E.L.D.

Ela continua demonstrando ser uma agente hábil e engenhosa e tivemos a oportunidade de saber um pouco mais sobre seu passado, mas a trama pareceu ter pouco impacto sobre sua progressão. Na primeira temporada a busca pelo sangue de Steve Rogers a obrigou a confrontar sua ausência e finalmente aceitar que não poderia continuar esperando por ele, podendo seguir em frente com sua vida e saindo de sua sombra. Nesta temporada não senti que houve um grande aprendizado por parte da personagem ou tampouco que ela galgou mais um degrau em direção à líder que ela será.   

Outra questão é a quantidade de ganchos deixados ao fim da temporada. No último episódio descobrimos que o broche do Arena Club era também uma chave para alguma coisa e presenciamos um misterioso atentado contra um personagem regular da série para roubar o dossiê sobre as atividades de Peggy na guerra. Encerrando a temporada com muitas perguntas, mas sem a satisfação de termos visto algo que acrescentasse significativamente aos personagens ou ao próprio universo compartilhado. Deste modo, fica a incômoda sensação de que toda a temporada foi uma grande preparação para esses desdobramentos, sendo nada mais que um grande filler até que os realizadores chegassem na trama que de fato queriam contar.

Talvez tivesse sido melhor condensar todo o arco desta temporada em alguns poucos episódios e deixado para as tramas aqui em suspense, já que do jeito que está ficou a sensação de algo incompleto. Eu sei que uma série precisa apontar caminhos para novas histórias ao fim de uma temporada, mas também precisa oferecer uma sensação de resolução minimamente satisfatória e aqui ficou a sensação de que vimos algo incompleto e de pouca relevância para os caminhos tomados pelos personagens.

É uma pena que a série tenha se esforçado tão pouco para avançar a jornada de Peggy Carter, mas ainda assim a segunda temporada de Agente Carter conseguiu construir uma aventura divertida, ancorada por sua ótima protagonista e sua dinâmica com os demais personagens.

Nota: 6/10

2 comentários:

opensadorxyz disse...

nao entendi a forma como a materia zero reagia a whitney e ao dr jason; porque ele ficou incorporeo e ela nao? por que ele foi sugado depois e ela nao? por que ela controlava a materia zero em seu corpo tornando-se uma arma viva e ele nao? eles foram simultaneamente expostos a materia zero e tiveram reaçoes diferentes.e achei um pouco estranho carter se encontrar com jason em um clube com maioria negra e ninguem chama- la de branquela- historicamente falando, neste periodo em los angeles os negros nao achariam incomum um encontro interracial?

Lucas Ravazzano disse...

José, o funcionamento da matéria zero é mal explicado mesmo.