A
primeira temporada de Agente Carter
parecia ser apenas um tapa-buracos para cobrir o hiato de Agents of S.H.I.E.L.D, mas me pegou de surpresa ao trazer uma
aventura bem conduzida que contribuía para o desenvolvimento de uma personagem
promissora que teve pouco espaço nos filmes e também ampliava o escopo do
universo Marvel no cinema e na televisão ao nos mostrar as consequências do
primeiro filme do Capitão América. Esta segunda temporada, no entanto, teve
pouco a acrescentar ao desenvolvimento de Peggy Carter (Hayley Atwell) ou ao
próprio universo compartilhado. Logicamente, o texto a seguir tem vários
SPOILERS da atual temporada.
A
nova temporada começa com um mistério digno de Arquivo X, com Peggy indo a Los Angeles investigar um corpo
encontrado em um lago misteriosamente congelado. A busca a coloca diante de uma
conspiração comandada pelos poderosos da cidade e também da ambiciosa Whitney
Frost (Wynn Everett) uma atriz de cinema que também é uma brilhante cientista.
Frost descobriu uma matriz energética poderosa na instável substância negra
chamada de "matéria zero" e ao ser "infectada" pela
substância Frost se torna obcecada em obter mais de seu poder. Assim, Peggy
corre contra o tempo para detê-la, tendo novamente o auxílio de Edwin Jarvis
(James D'Arcy), mordomo de Howard Stark (Dominic Cooper).
Hayley
Atwell continua uma ótima heroína de ação como Peggy, uma personagem forte que
jamais aceita se resignar ao papel subalterno ao qual as mulheres de sua época
eram relegadas e está sempre no controle da situação e um passo a frente de
seus colegas de trabalho. Ela e James D'Arcy continuam tendo uma boa química
juntos, desenvolvendo uma amizade bastante sincera entre Peggy e Jarvis.
Jarvis,
por sinal, consegue mostrar um pouco mais do que seu lado cômico e nos revela
uma faceta mais séria ao partir em busca de vingança quando sua esposa Ana
(Lotte Verbeek) é ferida em um ataque dos vilões. Dominic Cooper, por sua vez,
continua bastante divertido como o jovem Howard Stark e protagoniza alguns dos
momentos mais engraçados da temporada, além de ter uma dinâmica bastante
natural com Peggy e Jarvis.
Já
Whitney Frost começa a temporada como uma vilã interessante, alguém que como
Peggy é uma mulher à frente do seu tempo, mas que não conseguiu viver de acordo
com seu potencial por causa da estrutura machista da sociedade de sua época,
sendo obrigada a se contentar em ser literalmente apenas um rosto bonito.
A
questão é que conforme a temporada avança a personagem vai se diluindo em uma
vilã genérica com um plano padrão de obtenção de poder e destruição em larga
escala. Claro, ela é uma antagonista imponente e intimidadora, algo que fica
claro no modo como ela consegue assustar até mesmo a inescrutável Viúva Negra Dottie
Underwood (Bridget Regan). Tudo bem que ela ainda pode voltar à série e assumir
sua identidade dos quadrinhos como Madame Máscara, mas o que foi mostrado nesta
temporada ficou abaixo de seu potencial. O mesmo acontece com o cientista Jason
Wilkes (Reggie Austin) que inicia a temporada engatando um romance com Peggy e
chamando atenção para o racismo da época, mas depois fica com pouco a fazer e
acaba perdendo espaço.
Falando
em Dottie, é interessante perceber como seus movimentos, em especial em
combate, são similares aos de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson),
demonstrando a coesão do universo Marvel, e até mesmo a cena dela sendo
interrogada por Vernon (Kurtwood Smith) soa reminiscente da cena de Natasha com
os mafiosos russos no primeiro Vingadores
(2012). Aqui e ali temos outras pequenas piscadelas para o universo Marvel,
como o retorno do carro voador de Howard, que apareceu no primeiro filme do
Capitão América, e sua breve menção às terras que possui em Malibu e
futuramente serviriam de moradia para Tony Stark (Robert Downey Jr).
O
confronto final com Whitney, no entanto, foi bastante decepcionante. Para
alguém que passou a temporada inteira sendo construída como uma antagonista poderosa,
ela foi derrotada no último episódio com tanta facilidade que chega a soar
anticlimático. Além disso, apesar de bons momentos como o mistério inicial ou a
aliança entre Peggy e Dottie para resgatar Jason, no geral não há uma sensação
de vimos Peggy realmente progredir como personagem ou ficar mais perto de sua
inevitável função como fundadora da S.H.I.E.L.D.
Ela
continua demonstrando ser uma agente hábil e engenhosa e tivemos a oportunidade
de saber um pouco mais sobre seu passado, mas a trama pareceu ter pouco impacto
sobre sua progressão. Na primeira temporada a busca pelo sangue de Steve Rogers
a obrigou a confrontar sua ausência e finalmente aceitar que não poderia
continuar esperando por ele, podendo seguir em frente com sua vida e saindo de sua sombra. Nesta
temporada não senti que houve um grande aprendizado por parte da personagem ou
tampouco que ela galgou mais um degrau em direção à líder que ela será.
Outra
questão é a quantidade de ganchos deixados ao fim da temporada. No último
episódio descobrimos que o broche do Arena Club era também uma chave para
alguma coisa e presenciamos um misterioso atentado contra um personagem regular
da série para roubar o dossiê sobre as atividades de Peggy na guerra.
Encerrando a temporada com muitas perguntas, mas sem a satisfação de termos
visto algo que acrescentasse significativamente aos personagens ou ao próprio
universo compartilhado. Deste modo, fica a incômoda sensação de que toda a
temporada foi uma grande preparação para esses desdobramentos, sendo nada mais
que um grande filler até que os
realizadores chegassem na trama que de fato queriam contar.
Talvez
tivesse sido melhor condensar todo o arco desta temporada em alguns poucos
episódios e deixado para as tramas aqui em suspense, já que do jeito que está
ficou a sensação de algo incompleto. Eu sei que uma série precisa apontar
caminhos para novas histórias ao fim de uma temporada, mas também precisa
oferecer uma sensação de resolução minimamente satisfatória e aqui ficou a
sensação de que vimos algo incompleto e de pouca relevância para os caminhos
tomados pelos personagens.
É
uma pena que a série tenha se esforçado tão pouco para avançar a jornada de
Peggy Carter, mas ainda assim a segunda temporada de Agente Carter conseguiu construir uma aventura divertida, ancorada
por sua ótima protagonista e sua dinâmica com os demais personagens.
Nota:
6/10
nao entendi a forma como a materia zero reagia a whitney e ao dr jason; porque ele ficou incorporeo e ela nao? por que ele foi sugado depois e ela nao? por que ela controlava a materia zero em seu corpo tornando-se uma arma viva e ele nao? eles foram simultaneamente expostos a materia zero e tiveram reaçoes diferentes.e achei um pouco estranho carter se encontrar com jason em um clube com maioria negra e ninguem chama- la de branquela- historicamente falando, neste periodo em los angeles os negros nao achariam incomum um encontro interracial?
ResponderExcluirJosé, o funcionamento da matéria zero é mal explicado mesmo.
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