quarta-feira, 23 de março de 2016

Crítica - Batman vs Superman: A Origem da Justiça



O Homem de Aço (2013) dividiu opiniões ao apresentar sua versão do Superman sob um olhar mais sério e realista (na medida do possível para um filme sobre um ET indestrutível). Este Batman vs Superman: A Origem da Justiça pareceu desde o início da divulgação feito para atender as críticas feitas ao filme anterior, mas apesar de resolver algumas coisas mal trabalhadas anteriormente, a equipe encabeçada por Zack Snyder parece ter aprendido pouco de 2013 para cá e assim o resultado, do mesmo modo que antes, é apenas aceitável.

O filme começa revisando o clímax do filme anterior, colocando Bruce Wayne (Ben Affleck) em meio à destruição de Metrópolis tentando salvar as pessoas no prédio de suas empresas enquanto Superman (Henry Cavill) e Zod (Michael Shannon) se enfrentam e põem a cidade abaixo. Convencido de que o Superman é uma ameaça, Wayne decide focar seus recursos em encontrar um meio de detê-lo, ao mesmo tempo que o bilionário Lex Luthor (Jesse Eisenberg) também parece obcecado em destruir o Homem de Aço, mas por razões bem menos altruístas. Clark Kent, por sua vez, precisa lidar com o peso de suas ações sobre o mundo e o fato de que nem todos apreciam a figura do Superman.

A narrativa mantém a abordagem mais séria e realista de O Homem de Aço, tentando pensar como o mundo realmente reagiria à aparição de uma figura como a do Superman e que impactos sua presença traria. São discussões interessantes, mas que se perdem nas múltiplas subtramas, flashbacks e até sonhos dos personagens, sendo que muitos destes tem pouco a acrescentar à trama ou visam apenas deixar ganchos para os próximos filmes. Um exemplo disso é o arco envolvendo a investigação de Lois Lane (Amy Adams) sobre um incidente na África e apesar do tempo dedicado a isso, o resultado não nos diz nada que não sabíamos antes, uma vez filme claramente mostra que o Superman não teve culpa e o Lex posteriormente admite a culpa sem que ela precise confrontá-lo, assim fica a impressão de que tudo foi uma perda de tempo.

O mesmo pode ser dito do tempo gasto no início ao recontar a origem do Batman e nos mostrar mais uma vez o assassinato dos pais de Bruce, com direito a excessos de câmera lenta característicos do Zack Snyder que tornam a cena ainda mais enfadonha. Os muitos pesadelos de Bruce Wayne, também soam excessivos, em especial aquele (já mostrado no trailer) de um cenário apocalíptico em que o Superman é um ditador, que se alonga muito mais do que deveria e não serve a nenhum propósito além de servir como um teaser para uma eventual (e inevitável) aparição de Darkseid. Há um outro sonho (ou delírio) de Bruce no túmulo de sua família que não traz nada a não ser uma tentativa de um susto na plateia, mas é tão forçada que se torna ridículo.

Outro problema (que também se mostrava em O Homem de Aço) é que o filme pesa demais a mão na seriedade. Tudo é muito sisudo o tempo todo, não dando praticamente nenhum espaço para quebras ou respiros, tornando boa parte da projeção literalmente monótona (no sentido de ter apenas um tom). Até mesmo os Batman do Christopher Nolan com toda a sua seriedade davam espaço para algum tipo de respiro, seja uma breve interjeição cômica (normalmente por parte do Alfred ou Gordon) ou romântica para quebrar um pouco a tensão e nos dar um espaço para respirar e isso não acontece aqui.

A sensação que fica é que o diretor Zack Snyder e o roteirista Chris Terrio não sabem fazer outra coisa que não tornar tudo rígido, duro e sorumbático ao ponto de soar artificial e inorgânico. Isso é piorado pela música excessivamente intrusiva, que preenche a tela com acordes graves carregados de tensão e grandiosidade mesmo quando não há nada de grandioso ou tenso acontecendo, denotando ainda mais a sensação de exagero e falsidade em relação ao clima sisudo da obra. Um exemplo disso é a montagem com o Superman salvando (incluindo um foguete espacial) várias pessoas e deveria ser um momento de catarse, deslumbre e encantamento, mas é tudo tão sombrio e sério que torna a cena (ou melhor, a colagem) algo depressivo, como se aquilo fosse um peso para o herói e não um motivo de alegria e celebração de seu heroísmo e bondade.

Eu confesso que não estava muito empolgado para ver Ben Affleck como Batman, mas devo admitir que ele se saiu bem no papel. Ele consegue nos mostrar o lado obsessivo e incansável do morcego, que já está na ativa a tempo o suficiente para ter desenvolvido certa amargura e desencanto com o mundo. Ao longo de sua jornada no filme é perfeitamente possível compreender suas razões para desconfiar e detestar o Superman e Affleck ajuda a transmitir essa raiva nascida do medo e da sensação de impotência. Do mesmo modo, se sai bem ao demonstrar o empresário responsável e ético que Wayne é, bem como sua faceta pública de playboy blasé. Como Batman, ele se mostra uma força irrefreável em combate, abatendo seus inimigos com brutalidade e engenhosidade, colocando as suas cenas de ação entre as melhores do filme.

Outra boa surpresa é Gal Gadot como Diana Prince, a Mulher Maravilha, que aparece relativamente pouco (o filme é sobre Batman e Superman afinal de contas), mas é magnética sempre que está em cena, cercada por uma aura de mistério e postura altiva que se espera da semideusa amazona, sem mencionar que vê-la lutando ao fim é simplesmente impressionante (teria sido mais se o trailer não tivesse entregado tanto).  

Cavill continua a ser um Clark Kent mais sorumbático do que de costume, mas é algo que faz sentido no contexto do filme, já que ele está tentando entender como lidar com sua nova situação e o que ele deve fazer diante de uma humanidade que talvez não tolere a sua presença. Sua construção da natureza benevolente de Clark nos faz compreender a desconfiança que ele sente em relação a um vigilante bruto como o Batman. Amy Adams continua a trazer o espírito audaz e personalidade de investigadora incansável de Lois Lane, trazendo também uma química adorável com Cavill, mas, como já foi dito, tem muito pouco a fazer. Jeremy Irons, por sua vez, faz um Alfred menos refinado, mas igualmente preocupado com seu patrão.

Jesse Eisenberg, por outro lado, é o elo fraco do elenco com seu afetadíssimo Lex Luthor. Seu vilão é obviamente um lunático delirante ao invés de alguém ganancioso ou egocêntrico e a composição de Eisenberg carrega demais nos maneirismos e tiques ao ponto de torná-lo aborrecido e em alguns momentos despertar vergonha alheia. Sem mencionar que ele atua em um regime totalmente oposto à abordagem mais séria e realista do restante do filme.

As cenas de ação, como já disse anteriormente, são muito bem conduzidas e mesmo em meio a todo o caos e destruição nunca perdemos de vista o que está realmente acontecendo. O embate que dá o título do filme é realmente intenso, não apenas pela ação em si, mas pela eficiência em construir a obsessão de Wayne em vencer o Superman, além de um diálogo bem sacado envolvendo a similaridade entre as mães de ambos. Como fã do Batman, admito que me empolguei com cada sopapo que o morcego largava na fuça do Homem de Aço.  O embate final com Apocalipse, por sua vez, tem alguns bons momentos, em especial a partir do momento que a Mulher Maravilha entra em cena, mas é prejudicado por alguns problemas.

O primeiro deles é o Apocalipse em si, que está ali apenas como um pedaço de carne para apanhar (e bater), um monstrengo completamente vazio, desprovido de personalidade ou motivação. A criatura nem consegue parecer assustadora ou intimidante graças ao design genérico e pouco inspirado que o faz parecer um irmão perdido do Abominável de O Incrível Hulk (2008) ou uma literal e metafórica pilha de estrume. Sério pessoal, ele parece algo que meu cachorro vomitou. Outra questão é a irregularidade nos efeitos especiais que criam o monstro e deixam clara a artificialidade da criatura, quebrando a imersão conforme percebemos que estamos apenas vendo Gadot, Cavill e Affleck interagindo com o vazio, tirando assim parte da força do clímax.

Batman vs Superman: A Origem da Justiça não é o desastre que muitos anunciavam, mas também não é a salvação ou consolidação do universo DC que os fãs esperavam. É uma aventura aceitável com bons personagens, cenas de ação competentes e ideias interessantes, mas se perde em uma trama inchada, cheia de redundâncias, e uma condução demasiadamente rígida e com alguns cacoetes irritantes por parte de Zack Snyder. Talvez Esquadrão Suicida, que tem a condução de David Ayer (de Corações de Ferro e Marcados Para Morrer), um diretor mais hábil que Snyder, se saia melhor.

Nota: 7/10

Obs: O 3D é inútil (praticamente apenas as legendas são "tridimensionais"), melhor evitar e economizar o dinheiro.

Obs 2: Não há cena pós-créditos, podem levantar e sair tranquilos.

Trailer:

2 comentários:

Aquiles disse...

não te incomoda um batman assassino criar a liga da justiça? eu até aceito que em uma situação extrema o batman precise matar ( quando ele atira no KGBesta para salvar a Martha, por exemplo), mas aquela cena da perseguição com o batmovel não faz sentido ele detonar aqueles bandidos. Ele já tinha colocado um sinalizador no carro que levava a kriptonita, bastava acompanhar o batsinal, pra que aquela destruição toda? Fiquei com a impressão que Snyder quis mostrar uma grande cena com o bat móvel, só isso...
Não é o Batman que eu queria, mas é o que temos. Fazer o que, vamos se conformar e assistir mais 3ddesnecessários.

Lucas Ravazzano disse...

José, o filme estabelece que esse é um Batman mais velho, mais cansado e mais desencantado com sua luta contra o crime, que questiona seus métodos e regras de outrora e se mostra mais disposto a ir a extremos que antes não iria. Estranho vai ser se ele continuar assim no filme da Liga (já que seu embate com o Superman aparentemente o fez reavaliar sua conduta recente) ou que um filme solo situado cronologicamente antes de Batman vs Superman (como talvez aconteça) já mostre o Batman agindo assim desde cedo em sua carreira de vigilante.