quinta-feira, 21 de abril de 2016

A Hollywood dos Irmãos Coen em Ave, César!


Em nossa crítica de Ave, César!, novo filme dos irmãos Coen que simultaneamente parodia e homenageia a Hollywood dos anos de 1940 e 1950, falamos da natureza altamente referencial do longa e como os diretores se inspiraram e fizeram graça em cima de personagens e tipos de filmes que realmente eram feitos naquele período. Assim sendo, resolvemos falar um pouco das personagens e filmes que compõem o olhar dos Coen sobre a Hollywood das antigas.


O Chefe de Estúdio


O protagonista do filme é o chefe de estúdio Eddie Mannix (Josh Brolin), encarregado de resolver os problemas dos artistas e produções da fictícia Capitol Pictures. Mannix realmente existiu e assim como no filme era um católico devoto, obcecado por seu trabalho e costumeiramente tirava seus atores de encrenca. O Mannix real foi chefe de estúdio da MGM de 1925 até o início da década de 1960 e sob sua batuta foram feitos filmes como Quo Vadis (1951), épico sobre um aristocrata romano que aos poucos começa a crer no cristianismo que inspirou o Ave, César! feito dentro do filme. Essa não é a primeira vez que Mannix é retratado nos cinemas, em 2006 ele foi vivido por Bob Hoskins em Hollywoodland: Bastidores da Fama, filme que abordava a misteriosa morte de George Reeves, ator que interpretava o Superman no seriados dos anos 50, na qual Mannix talvez estivesse envolvido.


Os Musicais Aquáticos



Em dado momento do filme, vemos a atriz DeAnna Moran (Scarlett Johansson) filmando um número musical na água. Esse tipo de musical no qual as performances eram na água fizeram bastante sucesso entre os anos 40 e 50, tendo na atriz e ex-nadadora profissional Esther Williams seu principal expoente. A personagem de Johansson, no entanto, não teria sido baseada em Williams, mas, segundo os próprios Coen, em Loretta Young, que assim como DeAnna teria adotado o próprio filho.


Os Filmes de Marinheiro



O galã Channing Tatum canta a divertida canção No Dames falando sobre o tempo que irá passar no mar sem a companhia de mulheres. A cena é uma referência aos musicais cujos protagonistas eram marinheiros, trazendo complexos números de dança e contando com a presença muitos artistas associados ao cinema musical do período. O famoso dançarino e ator Fred Astaire, por exemplo, trabalhou em Nas Águas da Esquadra (1938), no qual contracenou com Ginger Rogers. A cena, no entanto, é uma referência mais direta ao filme Marujos do Amor (1945), estrelado por Gene Kelly, Frank Sinatra e Ann Miller. É em Marujos do Amor, inclusive, que Kelly faz seu famoso número de dança ao lado do ratinho animado Jerry (de Tom & Jerry).


O Caubói Romântico


Quando pensamos no western da Hollywood clássica imediatamente imaginamos os filmes dirigidos por John Houston, John Ford ou Howard Hawks e lembramos dos caubóis durões vividos por atores como John Wayne. Existia, no entanto, outro tipo de caubói, um mais sensível, tão capaz de grandes façanhas no tiro ou a cavalo quanto em conquistar as mocinhas com baladas românticas ao violão. Os principais rostos desse ciclo de filmes foram Gene Autry e Roy Rogers (em preto e branco na foto acima) e foi Rogers o principal modelo para o ator Hobie Doyle, interpretado por Alden Ehrenreich.


As Fofoqueiras



No filme Tilda Swinton interpreta as repórteres gêmeas Thora e Thessaly Tacker. Na Hollywood clássica o colunismo social também era de fato dominado por duas jornalistas que, diferente de suas contrapartes ficcionais, não eram gêmeas nem irmãs, mas eram tão eficientes quanto em levar ao público as principais histórias de bastidores. Elas eram Hedda Hopper (a esquerda na foto preto e branco) e Louella Parsons (a direita) e também exibiam a mesma elegância que as personagens do filme. Hopper foi recentemente retratada em outra produção, Trumbo: Lista Negra (2016), na qual foi interpretada por Helen Mirren (inclusive fizemos uma lista com os atores que interpretar pessoas reais no Oscar desse ano).


Os Stylish Meldoramas



Alguns dos mais prestigiosos produtos do período retratado no filme dos Coen eram os chamados stylish melodramas. Mirando principalmente o público feminino, traziam estrelas deslumbrantes, galãs elegantes e sets e figurinos cheios de sofisticação. Em Ave, César! o ator Hobie Doyle tenta ser catapultado ao estrelato em um melodrama que parecia bastante com Sublime Obsessão (1954) de Douglas Sirk.


O Diretor


Douglas Sirk, por sinal, também é referenciado pela trama através do personagem de Ralph Fiennes. Da cadência peculiar de sua fala ao seu terno de tweed, o Laurence Lauretz de Fiennes é a homenagem dos Coen ao mestre do melodrama, reconhecido por obras como Desejo Atroz (1953), Tudo Que o Céu Permite (1955), Palavras ao Vento (1956) e Imitação da Vida (1959).


Os Épicos de "Espadas e Sandálias"


A principal menção de Ave, César! é aos chamados épicos de "espadas e sandálias", gênero da produção fictícia estrelada pelo personagem de George Clooney dentro filme. Esses filmes foram uma resposta de Hollywood aos chamados filmes peplum (que em latim significa túnica) italianos, épicos que traziam histórias de heróis mitológicos ou bíblicos como Hércules e Sansão. Já os épicos hollywoodianos eram normalmente situados no império romano, normalmente no período da ascensão do cristianismo, o já citado Quo Vadis (na parte de baixo da foto acima) é a principal obra emulada por Ave, César!, mas outros filmes como Ben Hur (1959) ou Spartacus (1960) também se encaixam na categoria.

Essas foram as principais referências que conseguimos pegar do filme, mas se perceberem outras menções ou brincadeiras metalinguísticas venham aqui e contem para nós.

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