Os
irmãos Coen já tinham feito graça do meio hollywoodiano no ácido Barton Fink: Delírios de Hollywood
(1991) e agora voltam a satirizar este ambiente em Ave, César!, que é simultaneamente uma paródia da época de ouro do studio system, quando os executivos de
estúdio comandavam tudo como uma fábrica e mandavam até na vida pessoal dos
atores, e também uma nostálgica carta de amor a um tempo mais ingênuo do
cinema.
Acompanhamos
Eddie Mannix (Josh Brolin) um chefe de estúdio que está tendo dias atribulados
tendo que lidar com suas estrelas, diretores, jornalistas e até seu patrão. O
principal problema, no entanto, surge quando o astro Baird Whitlock (George
Clooney) é sequestrado durante as filmagens do épico Ave, César!, que é o principal
produto do estúdio naquele ano. Além disso, ele precisa manter a imagem de
boa-moça de DeeAnna Moran (Scarlett Johansson), estrela dos musicais que está
grávida e não sabe quem é o pai, e transformar o astro do western Hobie (Alden Ehrenreich) em um galã dos melodramas.
Ao
longo do filme os Coen destilam toda a sua cinefilia e paixão pelo cinema
hollywoodiano dos anos pós-guerra, criando cenas que remetem aos musicais
aquáticos de Esther Williams, aos melodramas de Douglas Sirk (o diretor
interpretado por Ralph Fiennes é baseado nele), os "caubóis-galãs"
(como os interpretados por Roy Rogers) que eram tão eficientes nas proezas
físicas quanto em conquistar suas amadas com baladas ao violão ou os épicos
estilo "sandálias e espadas" como Quo
Vadis, do qual o Ave, César! dentro de Ave,
César! pega emprestado a sua premissa.
Nesse
sentido o novo trabalho do Coen é um produto altamente referencial, já que boa
parte da "graça" exige um conhecimento prévio do período
cinematográfico retratado, caso contrário há um risco grande de passar batido
pela maioria das piadas. Claro, ainda há muito encantamento a ser encontrado
nos números musicais protagonizados por Johansson ou por Channing Tatum (que
faz referência aos "filmes de marinheiro" estrelados por Fred Astaire
ou Gene Kelly), assim como há muito humor nas situações nonsense envolvendo a deserção de um galã comunista para a União
Soviética ou quando um diretor tenta não perder a calma diante de um ator
incompetente.
Os
Coen atacam a hipocrisia e os interesses corporativos dos estúdios e estrelas,
mas também brincam com seus preconceitos, como o modo caricato que representam
os artistas comunistas, que eram concebidos por seus pares como conspiradores
perigosos (como mostrou Trumbo: Lista Negra) quando eram apenas um grupo de intelectuais discutindo política. Ao
mesmo tempo, também celebram um tempo mais ingênuo do cinema, quando uma dança
ou uma mensagem positiva bastavam para encantar o público.
Além
da condução acertada dos diretores, o filme também se beneficia de um amplo
elenco de atores competentes, em especial Brolin e Clooney que ocupam a maior
parte do tempo. Brolin faz de Mannix um homem constantemente estressado, mas
que claramente adora seu trabalho, tanto que se mostra visivelmente irritado quando
um possível empregador caçoa da indústria do cinema. Já Clooney diverte
bastante como um ator canastrão que não entende muito bem a situação na qual
está metido e é impossível não rir a cada olhar beócio lançado por seu
personagem ao ouvir seus captores falando sobre economia ou história.
Assim
sendo, Ave, César! é uma divertida
sátira e uma calorosa declaração de afeto ao passado de Hollywood.
Nota:
8/10
Trailer:
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