terça-feira, 12 de abril de 2016

Crítica - Ave, César!


Análise Ave, César!
Review Ave, César!Os irmãos Coen já tinham feito graça do meio hollywoodiano no ácido Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991) e agora voltam a satirizar este ambiente em Ave, César!, que é simultaneamente uma paródia da época de ouro do studio system, quando os executivos de estúdio comandavam tudo como uma fábrica e mandavam até na vida pessoal dos atores, e também uma nostálgica carta de amor a um tempo mais ingênuo do cinema.

Acompanhamos Eddie Mannix (Josh Brolin) um chefe de estúdio que está tendo dias atribulados tendo que lidar com suas estrelas, diretores, jornalistas e até seu patrão. O principal problema, no entanto, surge quando o astro Baird Whitlock (George Clooney) é sequestrado durante as filmagens do épico Ave, César!, que é o principal produto do estúdio naquele ano. Além disso, ele precisa manter a imagem de boa-moça de DeeAnna Moran (Scarlett Johansson), estrela dos musicais que está grávida e não sabe quem é o pai, e transformar o astro do western Hobie (Alden Ehrenreich) em um galã dos melodramas.

Ao longo do filme os Coen destilam toda a sua cinefilia e paixão pelo cinema hollywoodiano dos anos pós-guerra, criando cenas que remetem aos musicais aquáticos de Esther Williams, aos melodramas de Douglas Sirk (o diretor interpretado por Ralph Fiennes é baseado nele), os "caubóis-galãs" (como os interpretados por Roy Rogers) que eram tão eficientes nas proezas físicas quanto em conquistar suas amadas com baladas ao violão ou os épicos estilo "sandálias e espadas" como Quo Vadis, do qual o Ave, César! dentro de Ave, César! pega emprestado a sua premissa.

Nesse sentido o novo trabalho do Coen é um produto altamente referencial, já que boa parte da "graça" exige um conhecimento prévio do período cinematográfico retratado, caso contrário há um risco grande de passar batido pela maioria das piadas. Claro, ainda há muito encantamento a ser encontrado nos números musicais protagonizados por Johansson ou por Channing Tatum (que faz referência aos "filmes de marinheiro" estrelados por Fred Astaire ou Gene Kelly), assim como há muito humor nas situações nonsense envolvendo a deserção de um galã comunista para a União Soviética ou quando um diretor tenta não perder a calma diante de um ator incompetente.

Os Coen atacam a hipocrisia e os interesses corporativos dos estúdios e estrelas, mas também brincam com seus preconceitos, como o modo caricato que representam os artistas comunistas, que eram concebidos por seus pares como conspiradores perigosos (como mostrou Trumbo: Lista Negra) quando eram apenas um grupo de intelectuais discutindo política. Ao mesmo tempo, também celebram um tempo mais ingênuo do cinema, quando uma dança ou uma mensagem positiva bastavam para encantar o público.

Além da condução acertada dos diretores, o filme também se beneficia de um amplo elenco de atores competentes, em especial Brolin e Clooney que ocupam a maior parte do tempo. Brolin faz de Mannix um homem constantemente estressado, mas que claramente adora seu trabalho, tanto que se mostra visivelmente irritado quando um possível empregador caçoa da indústria do cinema. Já Clooney diverte bastante como um ator canastrão que não entende muito bem a situação na qual está metido e é impossível não rir a cada olhar beócio lançado por seu personagem ao ouvir seus captores falando sobre economia ou história.

Assim sendo, Ave, César! é uma divertida sátira e uma calorosa declaração de afeto ao passado de Hollywood.

Nota: 8/10

Trailer:

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