Invasão a Casa Branca era basicamente um Duro de Matar dentro da icônica residência presidencial (assim como
o quase idêntico O Ataque, lançado
com apenas alguns meses de diferença), mas conseguia ser ao menos divertido
graças ao carisma de Gerard Butler e a ação intensa que não economizava na
violência. Já esta continuação não consegue ir além de uma mera repetição do
anterior, prejudicada ainda por alguns problemas de roteiro.
O
filme começa com a morte do primeiro-ministro britânico, o presidente Asher
(Aaron Eckhart) vai a Londres para o enterro, assim como outros líderes
mundiais. Quando o funeral é atacado por terroristas que tomam a cidade e boa
parte dos líderes mundiais é assassinada, cabe ao agente do serviço secreto
Mike Banning (Gerard Butler) salvar seu presidente de novo.
A
trama, portanto, é praticamente a mesma do primeiro e isso nem seria tão
problemático se ao menos houvesse um senso de progressão, de que os personagens
aprenderam algo com as experiências do filme anterior, mas isso não acontece.
Não há nenhuma menção ou mesmo repercussão em relação ao ataque do filme
anterior ou à destruição na Casa Branca, tampouco à morte da esposa do
presidente (ele até a menciona, mas quem não viu o filme anterior provavelmente
nem saberá que ela já está morta) e nesse sentido mais parece um reboot do que uma sequência. O mínimo
resquício de um arco de personagem é a insegurança de Banning em ser pai, mas
isso é rapidamente resolvido com uma breve conversa com o presidente no abrigo
do MI6.
Mais
que isso, o que incomoda é o maniqueísmo simplório que coloca os Estados Unidos
em um pedestal de autoridade moral e transforma todos os demais em seres
malignos caricatos que não devem ser apenas detidos, mas eliminados. O vilão
até tem uma motivação compreensível (mas que não justifica ou torna aceitáveis
suas ações violentas), já que sua família inteira foi morta como dano colateral
por um ataque de drones do governo
estadunidense numa ação que visava matá-lo. A história do vilão poderia servir
para uma discussão sobre as liberdades tomadas no combate ao terrorismo e quais
são os limites da guerra ao terror, mas nada disso é problematizado e o vilão é
apenas um "terrorista islâmico genérico".
O
vilão, apesar de estar no recinto atingido por um míssil, não apresenta nenhuma
cicatriz ou marca de queimadura, sendo o uso de uma bengala e um andar
levemente manco as únicas sequelas do ataque, o que me faz pensar que ele é
algum tipo de super humano por sair praticamente inteiro.
Os
demais líderes mundiais também são vítimas da pobreza do texto ao serem
reduzidos a estereótipos grosseiros. O japonês é mostrado irritado em sua
limusine ao perceber que está preso em um engarrafamento e chegará atrasado ao
funeral, afinal todo mundo sabe que os japoneses são rígidos e metódicos, não
é? O italiano é visto levando sua (muito mais) jovem namorada/esposa a um tour privado da Abadia de Westminster
porque todo mundo sabe que italianos gostam de seduzir, não é mesmo? Enquanto
isso o francês fica sentado em seu barco, contemplando as margens do Rio
Tâmisa, porque todos os franceses são intelectuais introspectivos, certo?
Assim,
o que deveria nos fazer ter um mínimo de empatia por essas pessoas para que suas
mortes tivessem algum peso, acaba tendo o efeito contrário ao fazer deles
caricaturas risíveis. Falando em caricaturas, Morgan Freeman parece estar se
tornando uma paródia de si mesmo ao viver pela milionésima vez um personagem
cuja principal função é explicar a trama e/ou dar lições de moral, tal como já
fez em Lucy (2014), Truque de Mestre (2013), Winter: O Golfinho 2 (2014), Ted 2 (2015), Oblivion (2013) e tantos outros. Seu personagem parece mais um
dispositivo de roteiro do que um sujeito plenamente realizado.
O
habitual carisma de Butler, que consegue divertir mesmo em projetos ruins (como
o recente Deuses do Egito) é sabotado
pelo roteiro equivocado que enche o personagem de falas carregadas de
preconceito e xenofobia, já que ele vai despejando seguidas ofensas raciais
conforme ele mata seus inimigos. Aliás, Banning aqui parece sentir um grande
prazer em matar os terroristas e isso, combinado a suas falas carregadas de
ódio e preconceito, torna um pouco difícil simpatizar e torcer por ele e em
muitos momentos parecia diálogos foram escritos por Donald
Trump. Aqui e ali Butler e Eckhart conseguem lançar algumas frases de efeito
divertidas, mas em muitos momentos Banning parece apenas um reacionário sádico
ao invés de um operativo diligente tentando sobreviver.
Lutando
para sobreviver, aliás, é uma expressão que deveria estar entre aspas, já que
ele despacha os inimigos sem dificuldade e jamais parece estar realmente em
perigo ou com a vida em risco. Em dado momento ele toma um tiro de raspão no
braço, mas nem demonstra sentir dor ou parece estar debilitado de qualquer
maneira. Assim, a ação tem a mesma tensão que jogar Call of Duty usando um cheat
de invencibilidade.
Não
que os terroristas sejam um exemplo de consciência ou capacidade tática, pois
mesmo depois de matar meia dúzia de líderes mundiais e destruir uma das
principais capitais do mundo, o que já seria uma grande vitória, eles preferem
arriscar serem pegos ou mortos para capturar o presidente dos Estados Unidos a
recuar e tentar outra vez quando poderiam ter novamente o fator surpresa a seu
favor.
Do
mesmo modo, não faz muito sentido que os vilões insistam em não matar o
presidente quando tem a oportunidade simplesmente porque Banning cortou a
energia e eles não tem como transmitir a execução pela internet. Mesmo quando
ouvem os tiros e os gritos dos homens morrendo, eles continuam tentando
conectar suas câmeras à internet ao invés de, por exemplo, filmar a execução
com um celular ou com a própria câmera que tinham em mãos, fugir e depois
colocar o vídeo online. Inclusive,
apenas matar o presidente, mesmo que fossem capturados ou mortos depois já
seria uma grande vitória para eles.
Apesar
disso, algumas cenas de ação são bem orquestradas e continuam a trazer a
violência gráfica irrestrita do filme anterior, como o ataque inicial que
resulta em uma longa perseguição e também a invasão à base inimiga, que usa
longo plano-sequência conforme acompanha Banning e os militares avançando
cuidadosamente de cobertura em cobertura conforme eliminam os adversários.
Outras no entanto são prejudicadas por uma câmera trêmula e montagem
excessivamente picotada, como a luta no abrigo do MI6 e o combate final com o
líder dos terroristas em Londres, e outras pela computação gráfica irregular
como a caçada ao helicóptero presidencial.
Assim
sendo, Invasão a Londres acaba sendo
inferior ao original em praticamente todos os aspectos, apresentando uma
narrativa preguiçosa e repetitiva que é prejudicada por um maniqueísmo
simplório e cenas de ação irregulares.
Nota:
4/10
Trailer:
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