segunda-feira, 4 de abril de 2016

Crítica - Invasão a Londres



Invasão a Casa Branca era basicamente um Duro de Matar dentro da icônica residência presidencial (assim como o quase idêntico O Ataque, lançado com apenas alguns meses de diferença), mas conseguia ser ao menos divertido graças ao carisma de Gerard Butler e a ação intensa que não economizava na violência. Já esta continuação não consegue ir além de uma mera repetição do anterior, prejudicada ainda por alguns problemas de roteiro.

O filme começa com a morte do primeiro-ministro britânico, o presidente Asher (Aaron Eckhart) vai a Londres para o enterro, assim como outros líderes mundiais. Quando o funeral é atacado por terroristas que tomam a cidade e boa parte dos líderes mundiais é assassinada, cabe ao agente do serviço secreto Mike Banning (Gerard Butler) salvar seu presidente de novo.

A trama, portanto, é praticamente a mesma do primeiro e isso nem seria tão problemático se ao menos houvesse um senso de progressão, de que os personagens aprenderam algo com as experiências do filme anterior, mas isso não acontece. Não há nenhuma menção ou mesmo repercussão em relação ao ataque do filme anterior ou à destruição na Casa Branca, tampouco à morte da esposa do presidente (ele até a menciona, mas quem não viu o filme anterior provavelmente nem saberá que ela já está morta) e nesse sentido mais parece um reboot do que uma sequência. O mínimo resquício de um arco de personagem é a insegurança de Banning em ser pai, mas isso é rapidamente resolvido com uma breve conversa com o presidente no abrigo do MI6.

Mais que isso, o que incomoda é o maniqueísmo simplório que coloca os Estados Unidos em um pedestal de autoridade moral e transforma todos os demais em seres malignos caricatos que não devem ser apenas detidos, mas eliminados. O vilão até tem uma motivação compreensível (mas que não justifica ou torna aceitáveis suas ações violentas), já que sua família inteira foi morta como dano colateral por um ataque de drones do governo estadunidense numa ação que visava matá-lo. A história do vilão poderia servir para uma discussão sobre as liberdades tomadas no combate ao terrorismo e quais são os limites da guerra ao terror, mas nada disso é problematizado e o vilão é apenas um "terrorista islâmico genérico".

O vilão, apesar de estar no recinto atingido por um míssil, não apresenta nenhuma cicatriz ou marca de queimadura, sendo o uso de uma bengala e um andar levemente manco as únicas sequelas do ataque, o que me faz pensar que ele é algum tipo de super humano por sair praticamente inteiro.

Os demais líderes mundiais também são vítimas da pobreza do texto ao serem reduzidos a estereótipos grosseiros. O japonês é mostrado irritado em sua limusine ao perceber que está preso em um engarrafamento e chegará atrasado ao funeral, afinal todo mundo sabe que os japoneses são rígidos e metódicos, não é? O italiano é visto levando sua (muito mais) jovem namorada/esposa a um tour privado da Abadia de Westminster porque todo mundo sabe que italianos gostam de seduzir, não é mesmo? Enquanto isso o francês fica sentado em seu barco, contemplando as margens do Rio Tâmisa, porque todos os franceses são intelectuais introspectivos, certo?

Assim, o que deveria nos fazer ter um mínimo de empatia por essas pessoas para que suas mortes tivessem algum peso, acaba tendo o efeito contrário ao fazer deles caricaturas risíveis. Falando em caricaturas, Morgan Freeman parece estar se tornando uma paródia de si mesmo ao viver pela milionésima vez um personagem cuja principal função é explicar a trama e/ou dar lições de moral, tal como já fez em Lucy (2014), Truque de Mestre (2013), Winter: O Golfinho 2 (2014), Ted 2 (2015), Oblivion (2013) e tantos outros. Seu personagem parece mais um dispositivo de roteiro do que um sujeito plenamente realizado.

O habitual carisma de Butler, que consegue divertir mesmo em projetos ruins (como o recente Deuses do Egito) é sabotado pelo roteiro equivocado que enche o personagem de falas carregadas de preconceito e xenofobia, já que ele vai despejando seguidas ofensas raciais conforme ele mata seus inimigos. Aliás, Banning aqui parece sentir um grande prazer em matar os terroristas e isso, combinado a suas falas carregadas de ódio e preconceito, torna um pouco difícil simpatizar e torcer por ele e em muitos momentos parecia diálogos foram escritos por Donald Trump. Aqui e ali Butler e Eckhart conseguem lançar algumas frases de efeito divertidas, mas em muitos momentos Banning parece apenas um reacionário sádico ao invés de um operativo diligente tentando sobreviver.

Lutando para sobreviver, aliás, é uma expressão que deveria estar entre aspas, já que ele despacha os inimigos sem dificuldade e jamais parece estar realmente em perigo ou com a vida em risco. Em dado momento ele toma um tiro de raspão no braço, mas nem demonstra sentir dor ou parece estar debilitado de qualquer maneira. Assim, a ação tem a mesma tensão que jogar Call of Duty usando um cheat de invencibilidade.

Não que os terroristas sejam um exemplo de consciência ou capacidade tática, pois mesmo depois de matar meia dúzia de líderes mundiais e destruir uma das principais capitais do mundo, o que já seria uma grande vitória, eles preferem arriscar serem pegos ou mortos para capturar o presidente dos Estados Unidos a recuar e tentar outra vez quando poderiam ter novamente o fator surpresa a seu favor.

Do mesmo modo, não faz muito sentido que os vilões insistam em não matar o presidente quando tem a oportunidade simplesmente porque Banning cortou a energia e eles não tem como transmitir a execução pela internet. Mesmo quando ouvem os tiros e os gritos dos homens morrendo, eles continuam tentando conectar suas câmeras à internet ao invés de, por exemplo, filmar a execução com um celular ou com a própria câmera que tinham em mãos, fugir e depois colocar o vídeo online. Inclusive, apenas matar o presidente, mesmo que fossem capturados ou mortos depois já seria uma grande vitória para eles.

Apesar disso, algumas cenas de ação são bem orquestradas e continuam a trazer a violência gráfica irrestrita do filme anterior, como o ataque inicial que resulta em uma longa perseguição e também a invasão à base inimiga, que usa longo plano-sequência conforme acompanha Banning e os militares avançando cuidadosamente de cobertura em cobertura conforme eliminam os adversários. Outras no entanto são prejudicadas por uma câmera trêmula e montagem excessivamente picotada, como a luta no abrigo do MI6 e o combate final com o líder dos terroristas em Londres, e outras pela computação gráfica irregular como a caçada ao helicóptero presidencial.

Assim sendo, Invasão a Londres acaba sendo inferior ao original em praticamente todos os aspectos, apresentando uma narrativa preguiçosa e repetitiva que é prejudicada por um maniqueísmo simplório e cenas de ação irregulares.

Nota: 4/10

Trailer:

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