quarta-feira, 20 de abril de 2016

Crítica - Milagres do Paraíso




Misturando uma daquelas histórias de superação pessoal baseada em fatos reais que o cinema já cansou de fazer com uma espécie de propaganda cristã, este Milagres do Paraíso tinha tudo para ser um desastre total. Por isso fiquei bastante surpreso ao perceber que o filme não era tão ruim quanto imaginava, apesar de também não ser exatamente uma experiência satisfatória.

A trama segue a dona de casa Christy (Jennifer Garner) cuja filha, Anna (Kylie Rogers), começa a apresentar uma rara doença intestinal sem cura que faz seu corpo ser incapaz de processar os alimentos. Acompanhar a filha através dessa grave doença vai aos poucos se revelando uma provação para toda a família, fazendo Christy repensar a sua fé cristã.

Pela premissa já dá para imaginar que é daqueles filmes feitos com o propósito de constantemente levar o público às lágrimas ao explorar o constante sofrimento de suas personagens e, bem, é exatamente isso que o filme faz. Saímos de uma sala de emergência a um mal-estar, a uma consulta média, a exames, a mais notícias ruins e assim sucessivamente. Cada vez que achamos que as coisas não vão ficar piores, elas ficam e há uma sucessão tão constante de cenas de sofrimento que o filme se torna monótono, já que o fluxo da trama quase não nos dá momentos para respirar.

O ritmo monocórdio é prejudicado pela música intrusiva que parece querer forçar o público a chorar, a direção também pesa a mão no sentimentalismo e sua insistência em planos na contraluz que visam ressaltar a presença ou olhar divino sobre a família acabam cansando pela constante repetição.

O único interlúdio de leveza vem da breve participação de Queen Latifah como uma garçonete que resolve ajudar Christy. As cenas envolvendo sua personagem trazem um bem-vindo humor que serve de contraponto aos momentos de tristeza, ajudando a dar-lhes mais peso drámatico. Nesse sentido é uma pena que a personagem acabe sendo esquecida pela narrativa, não recebendo nenhum desenvolvimento, e apenas retorne ao final.

Apesar da mão pesada na condução do filme, conseguimos aderir à história graças ao trabalho de Jennifer Garner, que dá o melhor de si com o material raso que lhe é dado. A atriz consegue dar credibilidade a toda dor e desamparo de Christy e é por causa dela que não mergulhamos no tédio. Garner também tem uma química bastante natural com a garota que faz sua filha e juntas são responsáveis pelos momentos mais emocionalmente genuínos do longa, em especial na tocante cena em Anna pede à mãe para deixá-la morrer por não aguentar mais a dor constante que sente. A questão é que muitas vezes sua personagem parece reduzida a uma mulher chorona que passa boa parte do tempo reclamando, principalmente quando colocada ao lado da conduta mais serena do marido, que nunca demonstra um instante de dúvida ou desespero.

O filme até reconhece os excessos e radicalismos dentro da igreja, como a cena em que as vizinhas de Christy lhe dizem que a doença da filha deve estar acontecendo por causa de algum pecado que sua família cometeu. Apesar deste breve mea culpa, no entanto, o roteiro continua a fazer questão de dizer que tudo de positivo que acontece e toda ajuda que a família recebe não se dá pelo fato deles serem boas pessoas e sim por serem cristãos. A superação não é algo que depende apenas da fé ou esperança, mas algo completamente restrito àqueles dotados da fé cristã e ninguém mais. Assim, o que deveria ser uma história para inspirar a esperança que qualquer coisa pode ser superada é apenas uma propaganda religiosa que nos diz que as dificuldades só podem ser transpostas frequentando uma determinada igreja ou possuindo uma crença específica.

Não fosse o esforço de Jennifer Garner, este Milagres do Paraíso seria uma mera propaganda religiosa cheia de sentimentalismo rasteiro, mas a atriz ajuda a nos conectar a uma história que poderia descambar facilmente para um completo desastre.

Nota: 5/10

Trailer:


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