quarta-feira, 13 de abril de 2016

Crítica - O Escaravelho do Diabo



Nostalgia pode ser algo perigoso. Quando retornamos a algo que adorávamos quando éramos mais novos, nem sempre aquilo que encontramos está a altura das memórias afetuosas que tínhamos daquilo. Esse era exatamente meu medo ao assistir esta adaptação de O Escaravelho do Diabo, livro que compunha a famosa coleção Vagalume, bastante famosa na minha época de garoto com suas histórias de mistério e aventura, mas felizmente a história que eu lembrava com tanto carinho continua funcionando bem.

A história se passa na pequena cidade de Vale das Flores clima pacato é quebrado quando um assassinato deixa todos em polvorosa. O jovem Hugo Maltese (Cirillo Luna) é morto com uma espada cravada no peito e sua morte parece estar ligada a uma misteriosa caixa contendo um escaravelho que ele recebeu alguns dias antes. Vendo que a polícia parece não saber como lidar com o crime, Alberto (Thiago Rossetti), irmão mais novo de Hugo, resolve ajudar o delegado Pimentel (Marcos Caruso) na investigação e aos poucos percebem que o criminoso tem um interesse doentio em escaravelhos e pessoas ruivas.

É uma típica narrativa de country house murder ao estilo das histórias de Agatha Christie, nas quais uma cidadezinha de interior tem seu cotidiano tranquilo perturbado por crimes brutais que aos poucos vão abrindo antigas feridas e descobrimos que nem todos ali são tão bonzinhos quanto parecem. O filme demora um pouco para engrenar nos seus primeiros minutos, mas depois que os assassinatos começam a acontecer, a narrativa consegue transmitir muito bem a tensão e o perigo constante que parece rondar os personagens.

Inclusive, lida bem com as consequências da divulgação da preferência do assassino com os ruivos da cidade decidindo raspar a cabeça, fugir da cidade ou se enclausurarem em casa. Os assassinatos são brutais e o filme não se intimida em mostrar sangue, embora evite uma violência mais explícita, o que é compreensível, já que é um produto voltado para um público mais jovem. As cenas na oficina do assassino são realmente macabras, graças à áspera voz do criminoso que soa verdadeiramente assustadora e também ao ambiente escuro, repleto de insetos que faz tudo parecer algo sobrenatural ou demoníaco.

Ao mesmo tempo, também consegue exibir certa leveza que impede que as coisas fiquem sombrias demais para um público mais novo, seja nos momentos de humor, como a cena em que Alberto "pilota" a moto do irmão no início, ou no delicado despertar afetivo do garoto, que se interessa pela colega Raquel (Bruna Cavalieri)

Marcos Caruso se sai bem como um delegado pragmático, mas que percebe o peso da idade sobre si. Suas tentativas de humor, no entanto, nem sempre funcionam, principalmente quando descobrimos mais para frente que suas trapalhadas e esquecimentos são frutos de uma doença degenerativa e rir de idosos com problemas mentais não é muito legal.

O veterano Jonas Bloch tem uma participação pequena, mas importante como um padre que parece saber mais do que aparenta, assim como a aparição do competente Lourenço Mutarelli (que esteve no excelente Que Horas Ela Volta?). O jovem Thiago Rossetti funciona muito bem nas cenas de humor e tem uma boa química com Bruna Cavalieri, mas é irregular ao tentar convocar o peso e a gravidade da morte do irmão sobre si e assim um dos momentos mais dramáticos perde um pouco do impacto.

Assim sendo, mesmo trabalhando com uma estrutura bastante familiar, O Escaravelho do Diabo consegue trazer um mistério instigante e bem construído.

Nota 7/10

Trailer:

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