Foi difícil retornar para esta
temporada Arrow depois do desastre
que foi a terceira temporada. Apesar de ter gostado muito da primeira e achado
a segunda melhor ainda, a terceira não apenas não funcionou como ainda
desperdiçou um dos melhores vilões do Universo DC que era o Ra's Al Ghul (Matt
Nable). Ainda assim, a decisão de que na quarta temporada Oliver Queen (Stephen
Amell) finalmente assumiria o nome de Arqueiro Verde parecia indicar que uma
melhora estava por vir, mesmo que abaixo das duas primeiras.
A nova temporada começou sem
perder tempo, fazendo Oliver aparecer com seu novo uniforme e assumindo o novo
nome já no primeiro episódio. Nesse quarto ano, o Arqueiro e seu time precisam
enfrentar o maléfico Damien Darhk (Neal McDonough), líder da organização
H.I.V.E (não confundir com o inumano Hive de Agentes da S.H.I.E.L.D) que chega para tentar tomar o controle da
rebatizada Star City (finalmente assumindo seu nome dos quadrinhos). SPOILERS daqui em
diante.
Stephen Amell continua sendo a
melhor coisa da série e ele marca muito bem a recém descoberta
"leveza" de Ollie. Se antes ele falava com uma voz áspera e parecia
sempre sisudo ou cabisbaixo, Oliver agora exibe um tom de voz mais ameno e uma
linguagem corporal menos fechada. Nem é preciso voltar a temporadas anteriores
para perceber a mudança, basta observar os flashbacks
presentes nos episódios para ver o Oliver sombrio dos seus últimos anos isolado
do mundo. Curiosamente essa dinâmica é uma inversão do que acontecia antes
quando o passado mostrava um Oliver mais ingênuo e o presente trazia o
protagonista com uma personalidade mais sombria.
Os eventos que ocorrem depois da
partida de Laurel (Katie Cassidy) também contribuem para percebermos como o
personagem evoluiu. Se antes Oliver iria se retrair em sua culpa e autodesprezo,
aqui é ele quem se mantêm sereno (apesar de visivelmente abalado) e tenta fazer
os aliados manterem a cabeça no lugar. Tudo caminhava para que Oliver achasse
em si o seu melhor e aprendesse a ser um símbolo de luz e esperança para os
amigos e cidade ao invés do vigilante sombrio que era. Digo caminhava porque o
final da temporada botou todo o desenvolvimento a perder, mas falarei disso
mais a frente.
Já que mencionei os flashbacks, preciso dizer que eles
continuam tão inúteis e redundantes quanto eram na aventura anterior, tendo
pouco a acrescentar à trama presente. Além disso, permaneceu a sensação de eles
traziam uma narrativa incrivelmente simples e curta que foi estendida para além
da conta ao ponto de caminhar em um passo de tartaruga, devagar e quase
parando. Passou da hora dos produtores reverem a necessidade de botar flashbacks em todos os episódios e
talvez fosse melhor restringi-los a poucos usos por temporada e assim tentar
extrair mais deles.
O John Diggle vivido por David
Ramsay era outro personagem que conseguiu manter a consistência apesar do baixo
nível da temporada anterior e dos roteiros raramente darem atenção a ele,
apesar do personagem ser mais interessante do que outros com mais tempo de
tela. Essa temporada tentou reparar isso ao investir do conflito dele ao tentar
se reaproximar do irmão, que não só estava sob o controle mental da H.I.V.E
como nunca tinha sido o herói de guerra que Diggle pensava ser. Na segunda
metade da temporada, ele também teve que lidar com a culpa pelo que aconteceu
com Laurel e em ambos os casos Ramsay foi competente em evocar a dor e a
frustração de Diggle, que via tudo desmoronar sob seus pés. A tentativa de
finalmente dar a ele um uniforme, no entanto, saiu pela culatra, já que o
bizarro design do seu capacete o fez
parecer o primo pobre do Magneto.
Tirando os dois, nenhum dos
outros personagens regulares teve nada de interessante a fazer. Tudo que
aconteceu com Thea (Willa Holland), por exemplo, pareceu uma reciclagem de
subtramas de temporadas anteriores. Sua "sede de sangue" pós
ressurreição no poço de Lázaro foi basicamente a mesma coisa do surto de Roy
(Colton Haynes) sob efeito do Mirakuru na segunda temporada e seu
relacionamento com assessor político de Oliver foi exatamente a mesma coisa do
seu namoro relâmpago com um DJ na temporada anterior, já que ambos terminaram
por ser serviçais do vilão que queriam mantê-la sob controle.
Felicity (Emily Bett Rickards)
tinha ido da assistente espevitada e divertida das primeiras temporadas para
ser uma chorona que só reclamava na terceira e isso continuou aqui com mais
idas e vindas entre ela e Oliver no qual ela reclamava por ele ser fechado e
manter segredos (mesmo quando ele tinha razões aceitáveis para tal). A subtrama
dela como presidente da Palmer Tech foi abandonada lá pela metade da temporada e
o arco dela com o pai que a abandou e que era um cibercriminoso foi resolvido
tão rápido e fácil que soou forçado. Bastou que ele a ajudasse um pouco a deter
Darhk no final que imediatamente ela deixou de lado décadas de mágoa e
comportamento criminoso dele e começou a chamá-lo de papai. Os últimos
episódios pareciam dar a personagem algum material interessante com ela
falhando em deter todos os mísseis do vilão e deixando que uma parte da cidade
fosse atingida. Imaginei que sua culpa e sentimento de impotência fossem ser
trabalhados de algum modo, mas nada disso repercutiu e o conflito emocional da
personagem foi varrido para debaixo do tapete.
Laurel era tida por muitos como a
personagem mais detestada e essa temporada não ajudou em nada para atrair
alguma simpatia para ela. Mesmo com praticamente todos os personagens lhe
dizendo para não tentar reviver sua irmã, Sara (Caity Lotz), Laurel se
comportou como uma criança birrenta e imatura e a reviveu mesmo assim, criando
problemas para ela e para os outros. Nem mesmo a despedida da personagem ajudou
a angariar qualquer sentimento positivo e a eliminação de uma personagem
importante do cânone do Arqueiro acabou sendo vazia e sem impacto. Aliás, essa
temporada foi cheia de grandes eventos sem nenhum abalo, da morte súbita e sem
repercussão de Amanda Waller (Cynthia Addai-Robinson) à dissolução gratuita da
Liga de Assassinos, momentos que alteravam o universo da série de modo
significativo falharam em impactar como deveriam.
O vilão Damien Darhk foi uma
adição interessante, principalmente por ir na contramão do que foram os
antagonistas principais da série. Darhk era aquele tipo de vilão que tem plena
consciência de que é extremamente maligno e demonstra gostar e se divertir com
sua própria maldade. Isso poderia transformá-lo facilmente em uma caricatura,
mas Neal McDonough o faz ameaçador e poderoso o bastante para que não o
subestimemos apesar de suas gargalhadas vilanescas exageradas e, na verdade,
ele rouba a cena sempre que aparece. O problema é que seu objetivo não vai nada
além do genérico plano de destruição generalizada que já vimos tantas vezes.
Além disso, o confronto final entre ele e Oliver foi simplesmente
decepcionante.
Assim como em Flash, Arrow também sofria com o fato dos "vilões da semana" não
serem nada mais do que pedaços de carne vazios e descartáveis. Se a série do
velocista escarlate pelo menos tinha alguns vilões recorrentes bacanas, Arrow nem isso tem, já que Slade Wilson
(Manu Bennett) foi esquecido e Malcolm Merlyn (John Barrowman) já perdeu a
graça a um bom tempo. O vilão Anarquia (Alexander Calvert) foi totalmente
desperdiçado ao ser reduzido a um Coringa genérico que queria ver tudo pegar
fogo ao invés do extremista político e antigoverno que ele normalmente é nos
quadrinhos.
Desperdício também foi a
introdução de Curtis Holt (Echo Kellum), que nos quadrinho é o herói Sr.
Incrível, já que ele não foi nada além de uma versão masculina de Felicity, não
tendo nenhum tipo de arco próprio, nem nenhuma evolução que o aproximasse de
seu alter-ego heroico (apenas alguns easter
eggs). John Constantine (Matt Ryan) apareceu para ajudar Oliver em um
episódio e apesar de Matt Ryan ser ótimo como o ocultista britânico e ter uma
ótima química com Amell, sua participação soou como um mero "prêmio de
consolação" para os fãs da série cancelada, já que nada foi realmente
feito com o personagem.
A personagem Vixen (Megalyn
Echikunwoke), que ganhou uma minissérie animada na internet (e ligada a esse
mesmo universo), saiu de seu desenho para se encontrar fisicamente com o
Arqueiro Verde (eles chegaram a se encontrar na animação) e foi bacana ver a
atriz Megalyn Echikunwoke repetir fisicamente o papel que tinha feito apenas
por voz. É uma ocorrência pouco usual, já que mesmo quando os dubladores também
atuam, eles raramente possuem a semelhança física para interpretá-lo em carne e
osso e mesmo quando isso acontece, dificilmente recebem a oportunidade. Eu
mesmo não me conformo até hoje que a atriz C.C.H Pounder, que dublava a Amanda
Waller na série animada da Liga da Justiça, nunca foi chamada para viver a
personagem em live action apesar de
ser parecidíssima com a Waller dos quadrinhos.
O péssimo Season Finale
O péssimo Season Finale
O que derrubou mesmo essa
temporada de Arrow foi o final que
botou a perder o pouco que tinha funcionado. A primeira coisa que incomoda é
que mais uma vez um evento cataclísmico destrói um pedaço considerável de Star
City e mais uma vez há uma briga em larga escala nas ruas, igualzinho a todas
as temporadas anteriores. O fato do capitão Lance já ter inclusive brincado com
isso na temporada anterior ao dizer "Starling
City está sob ataque, devemos estar em maio", só torna a repetição
ainda pior.
Apesar da destruição causada no
episódio anterior, o final falhou em nos mostrar o clima de terror, medo ou
tensão que poderia existir nos cidadãos depois de um pedaço da cidade ir
literalmente para o buraco. Houve uma breve cena em que Oliver encontrou uma
multidão revoltada na rua quebrando tudo, mas foi insuficiente para transmitir a sensação de pânico generalizado que se espera de uma situação assim. A cena em
questão, inclusive, mostra como Oliver está disposto a inspirar e dar esperança
para as pessoas, mas seu discurso foi tão piegas e genérico que foi difícil
acreditar que a multidão tenha mesmo se dispersado diante daquilo.
O confronto final entre Oliver e
Darhk teve tantos problemas que nem sei por onde começar. Toda a temporada
construía para Oliver encontrar seu "lado bom" em ser mais
esperançoso e positivo. Isso tinha ficado até mais evidente nos últimos
episódios quando ele encontrou uma "tutora sobrenatural" para
ensiná-lo a enfrentar a magia sombria do vilão. Durante seu aprendizado, Ollie
aprendeu que apenas usando usa luz interior ele poderia resistir às trevas do
inimigo.
A luta entre eles, no entanto,
chegou a uma conclusão diferente com os roteiristas praticamente dando de
ombros e dizendo "sabe de uma coisa? Talvez ele não precise ser sempre bonzinho". O problema
nem é que Oliver tenha matado o vilão, isso seria aceitável e compressível se
houvesse algum perigo iminente, se ele estivesse prestes a matar alguém ou o
próprio Oliver, mas não, Darhk já havia sido derrotado, não havia motivo para
matá-lo e ainda assim o Arqueiro Verde, que deveria ser um símbolo de
inspiração e esperança, executou um sujeito já derrotado no meio da rua para
todo mundo ver. Isso não apenas joga no ralo o desenvolvimento da temporada,
construindo uma mensagem que contradiz o que foi dito nos episódios anteriores,
isso nega o progresso que Oliver teve desde a segunda temporada quando ele se
recusou a matar Slade e ele inclusive tinha mais motivos para matá-lo e estava
mais próximo do seu "eu sombrio" do que aqui.
Esse, porém não foi o único
problema do confronto. A luta em si foi bem decepcionante, o que é praticamente
incompreensível se pensarmos que as lutas e cenas de ação eram consistentemente
boas. Primeiro há a questão de Oliver ser capaz de "desligar" a
mágica de Darhk apenas com sua esperança e a de um punhado de cidadãos ao seu
lado, sendo que o roteiro estabeleceu que naquele momento o vilão estava poderosíssimo
graças às milhares de pessoas que seus mísseis mataram. Não faz muito sentido
que a esperança de algumas dúzias supere o poder sombrio de milhares, afinal em
nenhum momento foi estabelecido que a luz é tão mais poderosa que as trevas. A
segunda coisa é que mesmo sem magia, o vilão ainda assim foi capaz de matar o ex-namorado
de Felicity à distância, o que é simplesmente absurdo, como ele pode ter
perdido os poderes e ainda ter seus poderes? Por fim temos o embate
propriamente dito, Oliver e Darhk eram ambos lutadores habilidosos, mas a luta
entre eles mais pareceu o final de Rocky IV (1985) com os dois parados de frente para o outro trocando socos. A câmera se manter tão distante dos dois durante a luta apenas serviu para apequenar o momento.
Para piorar os soldados da
H.I.V.E se mostraram completamente ineptos ao enfrentarem a população desarmada
de Star City. A cena claramente queria referenciar o embate final de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
(2008), mas no filme de Nolan os mercenários comandados por Bane (Tom Hardy)
atiraram sem dó nos policiais que corriam em sua direção e só partiram para o
combate corporal quando a multidão já estava em cima deles. Já aqui os soldados
de Darhk simplesmente jogaram suas armas no chão e correram da direção dos
cidadãos de Star City, o que é completamente estúpido.
Os minutos finais se mostraram
incrivelmente depressivos e pessimistas para um arco narrativo que consistia em
colocar o protagonista para se tornar uma figura inspiradora e cheia de
esperança. Os últimos momentos da temporada mostraram Thea decidindo ir embora
de Star City e Diggle deixando o time, a esposa e a filha para retornar ao
exército. Ou seja: os membros do time de Oliver (com exceção de Felicity)
resolvem desistir de tudo e a temporada encerra com um herói que deveria ser
uma inspiração e fonte de esperança sequer conseguindo inspirar os próprios
amigos. O fato de ambos terem dito anteriormente que foram tocados pelo
discurso de Oliver para a multidão só torna tudo ainda mais incoerente. O final
é um completo contra-senso de tudo que a temporada nos disse. Não bastasse o
desfecho sem sentido, o último episódio sequer tenta nos dar qualquer motivo
para retornar à série, já que não deixa nenhuma sugestão ou gancho para o que
pode vir a seguir. A menos que você tenha muita vontade de ver Oliver como
prefeito, não há razão para ficar empolgado com uma quinta temporada.
A quarta temporada de Arrow parecia ao início ser capaz de
reverter, mesmo sem devolvê-la ao alto nível de antes, o desastre que foi a
temporada anterior. Seu desenvolvimento, no entanto, apenas sedimentou o
péssimo estado em que ela se encontra e depois de duas temporadas ruins seguidas,
tenho pouca fé que ela consiga se recuperar. A esse ponto não tenho a menor
vontade de voltar a acompanhá-la em uma quinta temporada.
Nota: 4/10
Trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário