terça-feira, 3 de maio de 2016

Crítica - Capitão América: Guerra Civil

Análise Capitão América: Guerra Civil


Review Capitão América: Guerra Civil
Quando foi anunciado que o terceiro filme do Capitão América seria inspirado no arco da "Guerra Civil" dos quadrinhos, confesso que fiquei preocupado. Primeiro porque uma trama envolvendo tantos personagens seria mais adequada a um filme dos Vingadores, segundo porque o plantel dos heróis do universo cinematográfico era relativamente pequeno para transmitir a larga escala do conflito dos quadrinhos. Estava em parte enganado, já que mesmo com poucos (se comparado ao quadrinho) personagens a narrativa consegue criar uma sensação de risco global e as tensões entre os personagens são de fato bem construídas (beneficiadas por anos de desenvolvimento da personalidade dos heróis ao longo de vários filmes). Por outro lado, mesmo com o Capitão América e seu arco dramático do centro da trama, ainda assim parece mais um filme "de equipe" do que uma aventura solo na qual outros personagens ocasionalmente aparecem (como a breve aparição do Falcão em Homem-Formiga).

A trama começa depois que uma missão para deter o vilão Ossos Cruzados (Frank Grillo) acaba causando graves baixas civis. Diante do acontecido e de toda destruição causada pelos Vingadores em filmes anteriores é proposto o "Acordo de Sokovia" (nação arrasada durante os eventos de Vingadores: Era de Ultron) que colocaria os herois para trabalhar sob ordens das Nações Unidas e supervisionado pelo General Ross (William Hurt). Isso, somada à suspeita do envolvimento de Bucky (Sebastian Stan) em um ato terrorista recente, faz colidir as personalidades de Steve Rogers (Chris Evans) e Tony Stark (Robert Downey Jr.) e provoca uma cisão na equipe.

Impressiona como o filme é hábil em lidar com tantos personagens e tantos arcos narrativos sem que nenhum deles soe desnecessário ou mal desenvolvido, já que além da amizade entre Rogers e Bucky temos também as tentativas de Stark em reparar erros do passado, o novato Pantera Negra (Chadwick Boseman) tentando vingar a morte de seu pai, a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) tentando lidar com as consequências de seu enorme poder ou o Visão (Paul Bettany) tentando encontrar sua humanidade.

Assim como aconteceu em Capitão América: O Soldado Invernal o filme trata com seriedade as discussões que levanta, aqui especificamente trata sobre o papel do heroi no mundo de hoje e é inteligente o bastante para reconhecer que não há exatamente certo ou errado, dando a cada personagem um ponto de vista válido sobre a questão sem exercer julgamentos ou eleger herois ou vilões dentro deste conflito. Mesmo com toda a seriedade e urgência, a fita é inteligente e equilibrada o bastante para saber quando nos oferecer alguns respiros em meio a toda tensão e assim investe com inteligência em tempos mortos, interlúdios românticos e momentos de humor que nos dão momentos para retomar o fôlego em meio às discussões éticas e políticas sobre o lugar do super-herói, sem perder de vista a seriedade do que está em jogo e evitando inconsistências tonais. Um equilíbrio os irmãos Russo já tinham alcançando na aventura anterior do Capitão.

Steve Rogers continua sua jornada para tentar se reconectar a Bucky e já que seu amigo é a única ligação restante com o mundo que conhecia, é compreensível que o Capitão lute com unhas e dentes para mantê-lo próximo e seguro, visto que ele é a única constante em sua vida e em um mundo no qual ele ainda se sente deslocado. Aliás, o modo como a Marvel vem lidando com o Capitão através dos múltiplos filmes tem sido muito bom, conseguindo construí-lo como um sujeito de valores antiquados e moral simples mesmo ele estando em um mundo em que certo e errado não são absolutos, tudo isso sem que ele deixe de dialogar com essa realidade complexa e ainda assim mantenha sua essência. Stark, por sua vez, continua sua tentativa de reparar erros do passado, sejam eles distantes como sua relação com os pais ou seu histórico de fabricante de armas, ou mais recentes, como o caos criado por Ultron (James Spader), sua criação.

Elizabeth Olsen convoca muito bem a insegurança de Wanda com seus imensos poderes e as consequências deles em dado momento do filme. Já Paul Bettany, de modo discreto, vai mostrando como o sintético Visão tenta se adaptar à convivência com outros, muitas vezes com resultados bem humorados, inclusive é bem engraçado suas tentativas de parecer "normal" vestindo roupas discretas e escuras sobre seu corpo colorido. Outro que contribui com o humor é Scott Lang (Paul Rudd), em especial seu deslumbramento ao conhecer Steve Rogers.

Enquanto isso Chadwick Boseman traz a postura imponente, altiva, orgulhosa e honrada que se espera do soberano de Wakanda. Peter Parker (Tom Holland) tem uma aparição breve, mas Holland trabalha bem a ingenuidade jovem, bem como sua admiração pelos heróis veteranos e pouco que vi aqui realmente me deixou bastante empolgado pelas próximas aventuras do amigão da vizinhança. O vilão Zemo (Daniel Bruhl) tem uma motivação compreensível, mas seu tempo de tela é tão pouco que ele não consegue torná-lo realmente interessante, fazendo dele mais um dos muitos vilões subaproveitados do universo cinematográfico da Marvel.

As cenas de ação são talvez as melhores desde o primeiro Vingadores (2012), explorando de modo criativo e intenso os poderes dos múltiplos personagens, além das consequências brutais destes, como a cena em que a Feiticeira afunda o Visão no chão do quartel dos Vingadores. Mesmo com todo o caos e vários eventos simultâneos, os Russo nunca perdem o controle de suas cenas e conseguimos compreender quem está e cada lugar e o que está fazendo, mesmo com a câmera constantemente em movimento, algo que em mãos menos hábeis descambaria para uma insuportável bagunça incompreensível. Ainda assim, o tom relativamente reconciliador do final parece aliviar as consequências de uma cisão mais severa e provocando menos mudanças do que se esperava neste universo, diferente da aventura anterior do Capitão, na qual o desmantelamento da S.H.I.E.L.D provocou várias mudanças.

Capitão América: Guerra Civil traz uma história mais madura dentro do universo Marvel, conseguindo equilibrar com habilidade os múltiplos arcos de personagem, tratando temas complexos com a sobriedade que merecem, mas sem esquecer da diversão.

Nota: 8/10


Obs: O filme tem duas cenas adicionais ao longo dos créditos.

Trailer:

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