sexta-feira, 27 de maio de 2016

Crítica - The Do-Over: Zerando a Vida



Acho que há algo de masoquista ou autodestrutivo na minha personalidade. Só isso explica como pude me sujeitar às quase duas horas de tormento mental que foi The Do-Over: Zerando a Vida, nova produção cometida pela Happy Madison de Adam Sandler como parte de sua parceria com a Netflix depois do igualmente terrível The Ridiculous 6.

Na trama, Charlie (David Spade) é um homem infeliz que tem o mesmo emprego desde o colegial, é casado com uma mulher que não dá a mínima para ele e de dois enteados que não o respeitam. Sua situação parece mudar quando um antigo amigo de escola, Max (Adam Sandler), o leva em um passeio de barco no qual forjam a própria morte e assumem novas identidades para poderem curtir a vida. O problema é que as novas identidades que estão usando pertenciam a criminosos procurados, o que os envolve em uma ampla conspiração.

É impressionante que uma história sobre conspirações e fugas consiga ser tão arrastada e sem qualquer senso de tensão ou urgência. Algumas reviravoltas tentam angariar simpatia pelos personagens, mas elas são tão previsíveis e os protagonistas tão desprezíveis que elas não tem impacto algum.

Sandler repete o tipo "fodão infalível" que fez em The Ridiculous 6 e Zohan: O Agente Bom de Corte (2008), completo com toda a imaturidade exagerada e misoginia que lhe são características. Para o personagem de Sandler, mulheres existem apenas para sexo e devem ceder a qualquer avanço masculino, tanto que ao passar por duas mulheres em um barco sua primeira reação é pedir que mostrem os seios (e surpreendentemente elas mostram). Em outro momento, ao conhecerem uma viúva, ele diz a Charlie para tirar vantagem do luto e carência dela para levá-la para cama.

O pior é quando o filme, em um movimento bastante covarde, tenta usar a revelação de sua doença para nos fazer deixar de lado sua conduta reprovável e nos fazer ter alguma simpatia com ele. Assim como vem acontecendo em seus últimos filmes, Sandler entrega uma performance no piloto automático e completamente sem energia, parece simplesmente miserável em cena ou prestes da pegar no sono. Já Spade repete o mesmo loser clichê que vem fazendo ao longo de sua carreira. No início até sentimos alguma pena do sujeito, dada a construção de sua infelicidade, mas assim que se liberta da sua vida ruim, passa a se comportar como o mesmo babaca imaturo vivido por Sandler.

As piadas são a mesma coleção de falas sobre pênis, ânus e gags envolvendo vômito, peido e coisas similares. Não há qualquer esforço na construção desses momentos. O filme apenas aponta sua câmera para o saco suado de um personagem como se dissesse "olha, um saco, não é engraçado?". É um humor  tão preguiçoso, rasteiro e repetitivo que não dá nem para começar a esboçar um sorriso. Além disso, várias piadas de cunho machista ou homofóbico dão vergonha ao invés de risos.

As mulheres que aparecem no longa, aliás, são: "vadias" (termo usado no filme) desesperadas para transar com qualquer homem que passe na frente delas, histéricas descontroladas, megeras manipuladoras e controladoras ou qualquer variação entre esses três atributos. É completamente inaceitável que em pleno 2016 um filme apresente tantos clichês preconceituosos.

No fim, The Do-Over: Zerando a Vida é mais uma produção preguiçosa, sem energia, empolgação ou criatividade da Happy Madison de Adam Sandler, piorado pelas doses cavalares de preconceito e misoginia.


Nota: 1/10

Trailer:


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