A primeira temporada de Flash fez uma excelente introdução do
velocista escarlate e encerrou com um gancho que prometia expandir ainda mais o
universo da série (e de suas séries irmãs) ao introduzir a noção de multiverso.
Essa segunda temporada constrói em cima do gancho anterior e se mostra mais uma
boa aventura do herói, embora não consiga ser tão consistente quanto a
primeira. Evidentemente, alguns SPOILERS são inevitáveis no texto a seguir.
Depois de impedir que Central
City fosse devorada por uma singularidade no fim da temporada anterior, Barry
Allen (Grant Gustin) descobre que os acontecimentos abriram portais para
universos universos paralelos. Desses portais emergem vários meta-humanos
hostis, incluindo a principal ameaça da temporada, o cruel velocista Zoom (voz
de Tony Todd) que chega a Central City disposto a destruir o Flash. Para
enfrentar o novo inimigo, Barry acaba recebendo a inesperada ajuda do Flash de
outro universo, Jay Garrick (Teddy Sears), que chega ao nosso mundo depois de
ter sua velocidade roubada por Zoom.
Assim como na temporada anterior
com o Flash Reverso (Tom Cavanagh e/ou Matt Letscher) a trama joga muito bem
com nossas expectativas ao criar o mistério em torno do vilão. O roteiro
consegue construir tão bem as intrigas e reviravoltas que mesmo conhecendo os
quadrinhos e tendo uma ideia sobre a identidade de Zoom, ficamos em dúvida em
até que ponto o personagem terá a mesma identidade ou se a série fará algo
totalmente novo.
Apesar disso, Zoom acaba sendo um
vilão cheio de altos e baixos e minha relação com ele ao longo da temporada foi
meio que uma montanha russa. No início ele vai sendo construído como uma
presença poderosa e ameaçadora, em parte graças à voz áspera e cavernosa de
Tony Todd, culminando na cena em que ele arrasta um Barry derrotado e humilhado
pela cidade para mostrar sua superioridade diante de todos os habitantes de
Central City. A revelação, por volta do meio da temporada, de que seu objetivo
é absorver a velocidade do Flash para si, no entanto, o faz soar como uma
reciclagem do vilão da temporada anterior e assim meu interesse e investimento
nele diminuiu um pouco. A descoberta de sua identidade real fez pouco para me
fazer voltar a aderir ao personagem, no entanto o episódio que contou sua
origem despertou novamente meu interesse.
Ainda assim, o confronto final
entre ele e Barry foi relativamente decepcionante. Apesar dos bons efeitos
especiais que compuseram a "corrida" entre os dois, tudo acabou muito
rápido e de modo muito abrupto, com Zoom sendo levado pelos Dementadores, pelos Espectros da Força da Aceleração. Não ajudou que o plano
final do vilão ter sido revelado somente no último episódio e lá pela marca dos
dez minutos. Assim, por mais cruel e perigoso, não houve tempo de construir uma
sensação de perigo ou urgência já que a revelação mal "assentou" em
nossas cabeças e já estava sendo resolvida. Talvez tivesse sido melhor que a
informação viesse no episódio anterior.
Falando em vilões, essa segunda
temporada exibiu o mesmo problema da anterior ao trazer "vilões da
semana", completamente descartáveis e vazios, que na maioria das vezes não
eram nada além de pedaços de carne jogados para apanhar. Algumas exceções ficam
por conta do Capitão Frio (Wentworth Miller) ou o Grodd (voz de David Sobolov),
mas muitos deles são apenas esquecíveis, incluindo a aparição desperdiçada do
Esmaga Átomo (Adam Copeland).
Ao longo da temporada Barry com o
peso da responsabilidade de ser o herói da cidade, mesmo contra um vilão que
parecia ser completamente invencível e um passo à frente dele e de seus
companheiros. Além disso, também precisava se reaproximar de seu pai, Henry
(John Wesley Shipp, que foi o Flash na série dos anos 90), libertado da prisão
depois dos eventos da primeira temporada. Suas tentativas de superar Iris
(Candice Patton) com a policial novata Patty Spivot (Chantel VanSanten), no
entanto, soaram como uma perda de tempo. As idas e vindas provocadas por Barry
esconder dela seu segredo pareciam uma repetição da dinâmica dele com Iris, sem
mencionar que o fato dele se recusar a contar a verdade soou bem mais forçado
aqui, afinal Patty ativamente ajudava o Flash a combater meta-humanos. Para piorar, há a questão que praticamente todos com quem Barry se relacionava já sabiam, ele
contou até mesmo para sua ex-peguete Linda Park (Malese Jow), mas não contou
para a própria namorada.
Grant Gustin continua ótimo ao
trazer o carisma e otimismo de Barry e tem uma química muito boa com seus dois
"pais". Vê-lo interagir com John Wesley Shipp nos faz realmente crer
na felicidade de Barry em ter o pai de volta e a dor que sua ausência lhe
causou, do mesmo modo que há uma naturalidade enorme na relação entre ele e Joe
West (Jesse L. Martin) e bastam olhares para perceber o afeto e respeito que
sentem um pelo outro.
Outro personagem que teve um arco
irregular foi Iris, que primeiro teve um material bem promissor com o retorno da
mãe e a descoberta do irmão Wally (Keiynan Lonsdale). Inclusive foi bem
interessante como seu reencontro com a mãe fugiu do clichê do "abraço
choroso entre mãe e filha depois de anos separadas" e, ao invés disso,
colocou Iris para enfrentar a mãe e questionar o fato dela ter abandonado a
família. A questão é que uma vez encerrada o problema da mãe e Wally foi
devidamente incorporado à sua família, Iris ficou presa a um monte de subtramas
inúteis. Primeiro ela teve que lidar um editor que detestava o Flash, quase um
plágio do J. Jonah Jameson, depois isso foi deixado de lado para construir um
arco romântico entre ela e o editor que também foi rapidamente abandonado para
que ela finalmente confessasse o que sente por Barry.
Falando em relações que não
decolaram, o envolvimento de Caitlin (Danielle Panabaker) e Jay nunca chegou a
convencer plenamente, principalmente com ela parecendo sair rápido demais do
luto pela morte do marido. Tudo bem que a relação entre ela e Jay ganhou certa
importância na trama depois de uma certa revelação envolvendo o personagem, mas
ainda assim não deixou de soar gratuita. Cisco (Carlos Valdes), por sua vez, se
saiu melhor ao ver seus poderes ganhando ainda mais importância na trama e
dando passos importantes em se tornar o herói Vibro. Sem mencionar que ele
continua sendo bastante divertido com suas piadas envolvendo cultura pop e construindo uma relação de
admiração e respeito com o Harrison Wells (Tom Cavanagh) da Terra 2.
Cavanagh, que foi uma das
melhores coisas da primeira temporada, é mais uma vez excelente com esse novo
Wells. Alterando levemente seu tom de voz e adotando uma linguagem corporal um
pouco diferente, ele constrói um personagem que é claramente diferente de sua
contraparte da Terra 1, mas que simultaneamente tem algo de familiar. Ao mesmo
tempo, traz a mesma ambiguidade intrigante que exibia na aventura anterior e
durante boa parte da temporada ficamos em suspense quanto as reais intenções
deste outro Wells. Apesar de sua despedida afetuosa de Cisco e dos demais no
fim da temporada, realmente espero que Cavanagh não deixe a série, seja
continuando como o Wells da Terra 2, o Wells/Thawne da primeira temporada, o
verdadeiro Wells da Terra 1 ou qualquer outra coisa.
A ideia de múltiplas Terras é
explorada com criatividade pelo roteiro, principalmente quando coloca os
personagens para encontrarem suas versões alternativas e fica evidente que os
atores se divertiram ao comporem versões diferentes e mais exageradas de seus
personagens. Em especial Danielle Panabaker que parece estar se divertindo
horrores devorando o cenário como a vilã Nevasca da Terra 2.
Como já disse antes, os efeitos
especiais impressionam para uma produção televisiva, em especial o uso de
criaturas completamente digitais como Grodd ou o Tubarão Rei, que se mostram
bastante realistas e cheios de texturas complexas. Tudo bem que esses
personagens normalmente aparecem à noite ou envolvidos em sombras para
disfarçar as (inevitáveis) falhas e imperfeições nos modelos digitais, afinal
não dá para esperar o nível de detalhamento que encontramos em filmes. As cenas
de corrida também são bem conduzidas, embora aqui e ali o "dublê
digital" de Barry soe um pouco artificial. O único tropeço em termos
visuais foram os efeitos de mudança de tamanho do Esmaga Átomo que beiravam o
risível.
Com um desfecho que abre caminho
para uma adaptação do arco Flashpoint, a segunda temporada de Flash pode não ser tão consistente
quanto a anterior, mas ainda assim é uma aventura bastante competente do
velocista escarlate, desenvolvendo seus personagens, ampliando o universo e
introduzindo uma ampla gama de possibilidades.
Nota: 8/10
Trailer:
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