Assisti o primeiro Vizinhos (2014) sem muitas expectativas
e acabei me surpreendendo com uma comédia despretensiosa e divertida, mas
confesso que também não esperava muita coisa de sua continuação e mais uma vez
saí satisfeito da sala de cinema.
A trama se passa alguns anos
depois do primeiro filme. O casal Mac (Seth Rogen) e Kelly (Rose Byrne, a Moira
de X-Men: Apocalipse) está esperando
mais uma filha e decide vender a casa e comprar uma nova e maior. Antes dos
compradores fecharem o negócio, no entanto, há um prazo de trinta dias no qual
eles podem desistir da compra e nesse meio tempo a casa ao lado mais uma vez
passa a abrigar uma fraternidade universitária. Dessa vez é fraternidade
feminina liderada por Shelby (Chloe Moretz) que decide criar uma república
desvinculada do sistema universitário dos Estados Unidos, já que este não
permite que as fraternidades femininas realizem festas ou distribuam bebidas
alcoólicas, restringindo isso às fraternidades masculinas (e isso acontece de
verdade, por mais absurdo que pareça). Para conseguir seu objetivo, a jovem
consegue a ajuda de Teddy (Zac Efron) o líder da fraternidade do filme anterior
que tem contas a acertar com o casal da casa ao lado. Assim, Mac e Kelly vão
tentar manter às vizinhas sob controle para não afastar os compradores, o que
obviamente inicia uma nova disputa com a casa ao lado.
Por um instante temi que fosse
mais do mesmo, apenas trocando os rapazes do filme anterior por garotas, mas o
filme consegue usar as novas personagens para fazer algo mais e satirizar as
políticas sexistas das universidades dos Estados Unidos, bem como o duplo
julgamento que é utilizado em homens e mulheres. Quando Shelby e suas amigas
decidem ir à sua primeira festa em uma fraternidade masculina, encontram uma
"vibe de estupro" no local,
com direito a faixas com os dizeres "Não significa sim", bebidas
batizadas com calmantes e homens que falam com elas sem sequer olhar nos olhos,
se comportando como as jovens tivessem obrigação de ir para cama com eles. Se
isso parece muito absurdo ou caricato, aconselho que assistam o documentário The Hunting Ground (2015), que inclusive
está disponível no Netflix, que mostra como os comportamentos retratados aqui
são lamentavelmente reais.
Além disso, o filme também brinca
como algumas coisas são aceitáveis para homens, mas repreensíveis para
mulheres, usando o humor para fazer pensar sobre questões de igualdade, mesmo
que seja sobre pegadinhas escatológicas. Quando as garotas jogam absorventes na
casa de Mac, Teddy imediatamente as repreende dizendo que aquilo é nojento.
Shelby imediatamente questiona porque a ação delas é considerada de mau gosto,
sendo que se ele e os amigos arremessassem consolos no casal isso seria
considerado engraçado e Teddy, obviamente não tem uma resposta e se dá conta de
que é apenas uma convenção social que determina que homens agindo de modo
imaturo é engraçado enquanto que mulheres fazendo o mesmo seria considerado
degradante, quando não há diferença no ato em si.
O roteiro acerta em não vilanizar
nem o casal protagonista e nem as universitárias, diferente do primeiro filme
no qual o personagem de Zac Efron praticamente se torna um vilão no terceiro
ato. Afinal, apesar de inconsequentes e intransigentes (como qualquer jovem
dessa idade) as garotas não são exatamente maldosas em suas ações e criam a
fraternidade para tentar corrigir uma injustiça, do mesmo modo que Mac e Kelly
apenas estão tentando não tomar prejuízo com a venda da casa e não exatamente
motivados pelo prazer ou crueldade em prejudicar as estudantes.
O filme mantém o humor físico e o
pastelão do anterior, em especial envolvendo Mac e Teddy, mas também com as
calouras da fraternidade, que são literalmente transformadas em Minions, embora
muitas parecem repetir algumas coisas que já vimos antes. Temos, por exemplo,
mais uma gag envolvendo air bags e também mais uma cena
envolvendo imitação de celebridades, dessa vez por parte das universitárias da
nova fraternidade. Mesmo que as piadas continuem a fazer rir, graças ao carisma
e sinergia do elenco, fica a impressão de que muita coisa foi simplesmente reciclada.
Do mesmo modo, muitas cenas cômicas parecem desconectadas da narrativa,
funcionando quase como esquetes soltos, e dão um tom episódico à trama.
Essa continuação tem um problema
similar ao de seu antecessor, já que conforme as disputas se acirram entre a
fraternidade e o casal, fica difícil de crer que os demais vizinhos não chamem
a polícia em momento nenhum. Afinal é um típico e pacato subúrbio estadunidense
e as festas enormes das garotas, além de algumas outras pegadinhas,
dificilmente passariam incólumes em um ambiente como esse. O primeiro filme
ainda mostrava os estudantes angariando simpatia da vizinhança, o que atenuava
um pouco a falta de consequência para algumas coisas, mas nesse daqui isso não
acontece.
Rogen, Byrne e Efron continuam
exibindo um ótimo timing cômico
juntos, mas Chloe Moretz consegue se integrar com naturalidade no grupo e todos
são beneficiados pelo fato de que há um crescimento e aprendizado real em seus
personagens. Efron, aliás, continua ótimo ao compor um personagem completamente
estúpido e sem noção com humanidade suficiente para evitar que ele soe como uma
caricatura aborrecida.
Vizinhos 2 surpreende pelo seu comentário mordaz sobre sexismo e
igualdade de gênero, trazendo um pouco mais de substância a um produto que de
outro modo seria apenas um divertido besteirol e elevando-o em relação ao seu
antecessor.
Nota: 7/10
Trailer:
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